Em fevereiro de 2025, Dr. Ian Rocha, DC (ABQ 114), Diretor Regional da Associação Brasileira de Quiropraxia para Região Nordeste (e irmão deste que vos escreve), foi entrevistado num podcast por uma radialista do Macaúbas FM. A entrevista acabou se tornando um agradável bate-papo em que este incrível Quiropraxista expôs de uma forma clara, concisa e simples argumentos que detalham a identidade e filosofia da nossa profissão. Ian havia iniciado um projeto pioneiro de Clínica Itinerante — que consiste em atender clínicas parceiras de diversas cidades do interior onde normalmente Quiropraxia não chegaria. Notem que ele usa uma linguagem coloquial, que transmite magistralmente a essência da nossa profissão à gente simples do campo.

Um parêntese: caso o leitor deseje participar e aprender mais sobre como levar Quiropraxia aonde o povo está, basta ir para o site do IDQUIRO e acessar nosso Programa de Estágio e Aperfeiçoamento Profissional Clínica Itinerante: Chapada Diamantina.

Abaixo segue a transcrição do texto — editado para melhor fluência (incluindo os parênteses — que foram de autoria deste articulista). Em 30 minutos de entrevista, Dr. Ian aborda temas como regulamentação, medicação, pediatria, geriatria, cefaleia, dia-a-dia no consultório, casos clínicos, reabilitação, manutenção, ergonomia, red flags — sempre oferecendo explicações sem complicações sobre biomecânica e Quiropraxia.

Alguma pérolas de sabedoria — frases criadas por ele mesmo com analogias e alegorias com o intuito de educar o paciente — estão em negrito.

ENTREVISTADORA — Temos aqui conosco o Quiropraxista Dr Ian Rocha. Ele (…) vai falar sobre um tema importante que é a Quiropraxia e como ela pode ajudar no alívio das dores e na melhoria da qualidade de vida (para que assim nós possamos)  entender melhor (…) como ela contribui para a saúde da coluna e das articulações primeiramente. Doutor, boa tarde e seja muito bem-vindo! É uma alegria recebê-lo aqui nos estúdios da Macaúbas FM.

DR. IAN ROCHA —Boa tarde, ouvintes. Muito obrigado. E (vamos) já começar aqui o nosso bate-papo falando sobre saúde, né?

ENTREVISTADORA — É o que os nossos ouvintes querem saber para ajudar na qualidade de vida. Conta pra gente o que é a Quiropraxia como essa prática atua na coluna e também e nas articulações.

DR. IAN ROCHA — Bom, em primeiro lugar, é importante a gente distinguir que a Quiropraxia, apesar de existir uma prática, ela não é (de fato) uma prática. Ela é uma profissão. (E) dentro dessa profissão de Quiropraxia nós temos um leque de várias práticas e várias técnicas.

(No entanto), quando a gente se refere à Quiropraxia como técnica, na verdade a gente está inclusive alimentando (inadvertidamente) cursos que não são de formação, (…) que não formam bacharéis em Quiropraxia. No meu caso, que estudei nos Estados Unidos, fui formado como doutor em Quiropraxia. Aqui no Brasil é uma profissão que ainda está em fase de regulamentação. Então, por causa desse dessa falta da regulamentação e de um conselho que rege. existem muitas outras profissões e algumas que nem são profissões que fazem aquele sensacionalismo na internet, estralando o osso e chamando de Quiropraxia — o que na verdade (representa) até um perigo para saúde pública (…). (Portanto), a gente realmente precisa fazer isso com muito cuidado e entender o que não fazer. Qual o problema de fato que o paciente tem, como tratar isso de uma forma eficaz.

ENTREVISTADORA — E quais dores e problemas trata a Quiropraxia? Quais são aí as queixas mais comuns dos pacientes?

DR. IAN ROCHA — Olha, a Quiropraxia (…) trata as articulações do corpo. Como na coluna vertebral, nós temos um aglomerado de dezenas de articulações — na verdade, são mais de 90 — e essas articulações da coluna, pelo fato da gente estar em pé, levantando peso, e o (próprio) peso da cabeça estar sempre empurrando a coluna para baixo (…), é comum que alguns segmentos da coluna (24 vértebras separadas por discos que as mantêm com possibilidade de movimento e também (protege) o canal medular onde toda a informação neurológica do cérebro é distribuída para o corpo através da coluna vertebral), (…) quando existe algum segmento que está disfuncional — seja a causa por má postura; excesso de peso; algum trauma; movimentos repetitivos unilaterais; algum defeito de anatômico (defeito de fabricação); (ou qualquer) situação (que) pode causar algum segmento disfuncional — isso começa a criar um efeito compressivo no disco. (E isto) acaba diminuindo o espaço da articulação, criando um atrito, e, às vezes, inclusive comprimindo nervos. raízes de nervos como o nervo ciático, por exemplo. (…) o que a pessoa (acaba sentindo) é dor e desconforto. E “trava” e a coluna — no caso o pescoço ou a coluna lombar. (…) por causa dos nervos, a dor também (pode) se manifestar em outros lugares. Por exemplo, uma dor irradiada, uma dormência no braço, uma dor irradiada pra perna, uma dormência, uma falta de força… Então o problema de coluna abrange tudo isso — não só dor, mas a (dis)função articular.

Geralmente as pessoas nos procuram pela dor, mas (…) ela é (somente) um aviso, uma consequência de um problema que (efetivamente) causa dor — (tal qual) uma pessoa que gosta de caminhar com o sapato apertado e o pé dói. (Aí) o problema não é a dor. O problema é o sapato que (machuca) o pé.

(Portanto), tratar problemas de coluna somente com medicação para parar a dor, não está tratando o problema. Está tratando a dor, a sensação da dor. (…) em alguns casos, (a) dor ela na verdade está protegendo. Está dizendo: “olha, aqui dói. Então não faça.” E se a gente não sente (dor) por (…) uso excessivo de medicação, é possível que a gente piore um quadro clínico — especialmente a médio e longo prazo — por falta de um tratamento adequado.

ENTREVISTADORA —Doutor, existe uma idade onde as pessoas tendem a ficar mais vulneráveis? (…) essas dores (por) algum problema ali da coluna, ou dependendo da idade, qualquer movimento que eu faça ali, que seja repetitivo, pode me ocasionar um problema e eu posso acabar tendo (…) uma dor futuramente por conta da minha coluna?

DR. IAN ROCHA — (…) o ser humano da modernidade não usa a máquina esquelética da forma como ela foi fabricada. (…) a gente foi feito para andar longas distâncias, subir árvores, subir pedra. Não foi feito só para carregar peso (e) sentar o dia todo. Como a gente acaba fazendo (justamente isto): pegando muito peso e esforço repetitivo, dia após dia, (…) essas consequências vêm para a coluna.

É muito comum as pessoas dizerem:

  • “Poxa, eu tenho torcicolos recorrentes” (ver Artigo 194);

  • ou “eu tenho uma dormência no braço quando eu acordo”;

  • ou “eu tenho uma dor na coluna lombar”;

  • “eu travo da coluna”;

  • “tenho restrição de movimento”;

  • “tenho dores nas pernas, dores de cabeça…”

Tudo isso são sintomas muito recorrentes que são causados por problemas relacionados à coluna vertebral em sua grande parte. Claro que existem suas exceções — (daí a importância) da gente fazer uma anamnese criteriosa (e) analisar os exames.

Geralmente os exames mostram a consequência de uma disfunção. Ou seja, quando a gente vê uma hérnia de disco, (é que) já existe um problema antigo que causou hérnia de disco. E a dor da (dita) hérnia de disco é um problema, uma piora do caso. — (como) uma dor ciática (…) que desce (para a perna). Se for um disco lombar a dor vai irradiar para (o membro inferior). Mas antes, provavelmente, a pessoa já tinha uns probleminhas de coluna na lombar (independentemente) da idade. (Até) no recém-nascido, se (tem) coluna, tem problema.

(Aliás), não é só para o ser humano. Qualquer animal que tenha uma coluna vertebral pode se beneficiar de um bom tratamento de Quiropraxia. Inclusive existe Quiropraxia veterinária (ver Artigos 47 e 209).

Eu trabalho com recém-nascidos. A gente (nota) muitas vezes um bebê que não consegue mamar num dos peitos da mãe. (Muitas vezes é) porque ele tem o que (chamamos) de torcicolo (…) — que, às vezes, não é congênito. É adquirido no parto. A criança não consegue virar o pescoço para um lado. Então, quando (a mãe) bota ela num num determinado seio (o bebê) não consegue virar e dói. Então (o bebê) pega a preferência no lado em que consegue ficar mais confortável.

(Muitas vezes) a mãe diz: “ah, ela não pega outro seio” e fica amamentando num seio só. Então essa situação é de uma disfunção — (e) no caso do pescoço, às vezes é adquirida no próprio trabalho de parto. (A disfunção) ficando com o tempo e esse atrito, essa disfunção articular vai (gradativamente) causando um processo de desgaste. (E por isso) é comum que uma criança (com esta disfunção) vá crescendo e com passar do tempo desenvolva dores de cabeça, desenvolva (…) crises recorrentes de torcicolo na idade adulta. (E) uma dor dessas (no pescoço) pode descer pro braço. Tudo isso porque adquiriu pequenininho, (ainda) bebê e nunca foi tratado.

(Então), a gente trata, sim, bebês e recém-nascidos. Eu já tratei recém-nascidos de 3 dias e bebês de diversas idades. E também idosos. Eu tive uma paciente com 106 anos de idade. Claro que as técnicas que a gente usa para um não é a mesma que usa para outro. Dentro dessa (nossa) profissão, a gente tem um grande leque de cuidados. Justamente que eu (…) usaria (para tratar) você, por exemplo, (eu usaria outra técnica) para (tratar) uma senhora idosa que tem um processo de osteoporose já, às vezes, instalado. (Ou em) uma criança onde os ossos (têm) bastante cartilagem, ainda bem molinhos, né?

Então fica o alerta para as mamães (e) as ouvintes que estão aí: os bebezinhos também podem aí estar desenvolvendo (disfunções, desconfortos e dores).

ENTREVISTADORA — Doutor, o alívio para as dores nas costas e pescoço com os ajustes (de Quiropraxia) que o senhor (mencionou) aqui ajudam nesses casos?

DR. IAN ROCHA — Claro, com certeza! Novamente, a dor ela não é um problema. A dor é um aviso. Então, se machuca, dói. (…) se (alguém) toma uma topada, dói o dedo porque machucou. Se eu uso um sapato apertado, dói (e machuca) meu pé quando eu ando.

Então vamos fazer uma analogia: eu tenho um pé que é machucado (por) um sapato apertado.

  • Se eu for num cirurgião, ele pode me dizer: “vamos cortar aqui a cabeça do dedo para encaixar melhor (no sapato)”;

  • Se eu for no massagista ele diz: “vou dar uma massagem no seu pé para aliviar”;

  • Se eu for num clínico, talvez ele diga: “olha, (já que) tá doendo, vamos passar um remédio para dor” ou “tá inflamado. Vamos passar um remédio para inflamação”;

  • Se você for num Quiropraxista, ele vai dizer: “bom, vamos dar uma esticada nesse sapato” (ou) “vamos encaixar ele melhor pro seu pé”.

Então todas essas modalidades (que mencionei) vão algumas diminuir os sintomas e outras vão diminuir o atrito. Só que a abordagem é diferente.

No caso do sapato parar de machucar o pé, a pessoa (vai) parar de sentir a dor. (Voltanto ao) caso da coluna, se eu tenho alguns segmentos que têm atrito; que estão machucando; que têm uma disfunção naquele lugar onde existe uma articulação interfacetária (que) está “roendo” em cima da outra; onde existe um “aperto” em cima do disco causando uma hérnia ou então causando uma protrusão ou um tipo de abaulamento onde ocupa um espaço que deveria ser do nervo, (nosso corpo) começa a criar sintomas, dores (e) desconfortos por causa disso. Eu (como Quiropraxista) consigo naquele segmento criar espaço e mobilizar — (minimizando assim) aquele atrito (e diminuindo assim) aquele aperto. A gente melhora isso. Então, (tirar) um aperto de cima de um disco, por exemplo, consequentemente vai folgar o espaço do nervo e aquilo para de machucar. (O paciente aliviado exclama) “ahh”. (Quiropraxia) então é algo que às vezes parece até mágica mas não é. Existe uma ciência bem profunda, muito bem estudada por trás disso. (Trata-se) de procedimentos que são não invasivos, mas que funcionam maravilhosamente bem.

ENTREVISTADORA — Doutor, vamos falar agora sobre lombar e quadris. O senhor falou anteriormente sobre as posturas repetitivas que a gente costuma ter no nosso dia a dia e que isso pode também causar um problema pra nossa coluna. Conta pra gente como a Quiropraxia pode ajudar nesses casos.

DR. IAN ROCHA — (…) eu diria (que) o café-com-leite da Quiropraxia; o pão-com-manteiga da Quiropraxia; o básico da Quiropraxia é o ajuste. (O Quiropraxista) vai abordar uma articulação que não não tem muito espaço articular; que (está) sendo movimentada com atrito; e (sendo assim) que tende a machucar. (Isto é o) causador de eventualmente um processo degenerativo que a gente chama de artrose.

Quando a gente fala dos quadris, um desgaste nas articulações coxofemorais podem (fazê-las) perder espaço articular. É comum que a gente veja um desgaste da cartilagem. É comum que a gente veja um depósito de cálcio de osso nas bordas das articulações — que a gente chama de osteófitos (e) que o povo conhece (na coluna) como “bico-de-papagaio”. (O) atrito pode se dar por causa de uma tensão muscular muito grande — em especial um músculozinho pequeno que se chama tensor da fáscia lata. (Este músculo) se une ao tracto tibial e pressiona tanto uma articulação (que envolve) a cabeça do fêmur para dentro de um espaço que chama acetábulo. Então, ao invés em vez do movimento livre, (temos aí) um movimento com atrito. Isso, além de causar dor, o próprio músculo (tensionado excessivamente) vai criar (também) um “aperto” em cima de uma bursa que (está) em cima do trocanter (que é uma parte logo perto ali do colo do fêmur, um pouco mais do lado externo). O que acontece é que isso pode inflamar essa bursa e causar uma bursite.

Então as pessoas às vezes relatam: “tô com bursite nesse lugar”, mas tomam medicação, (fazem) infiltração — mas não cuidam da causa, não (se) alonga a musculatura, e não (se) abre espaço articular para que a movimentação articular esteja mais solta. (Com o ajuste), esse “destrave”, esse ajuste (irá dar) possibilidade à células de cartilagem a se recuperarem e começarem a promover um processo regenerativo ao invés de degenerativo. O atrito machuca, desgasta e inibe a produção do líquido sinovial que resseca a cartilagem e vai criando um processo de desgaste.

A mesma coisa (se passa com a lombar). Um “aperto” em cima do disco — (que, ressalte-se), é um lugar (onde) o peso do corpo todo está em cima. Então, é muito comum (na lombar) que um disco hernie ou que uma articulação interfacetária crie um processo de atrito (e se degenere). Quando, (através do ajuste), você cria espaço e dá uma possibilidade de uma folga, o “aperto” em cima do disco diminui. O disco, então, vai ficar um pouco mais íntegro. Ele dá uma possibilidade de cicatrização em movimento, onde as células de cartilagem da articulação podem também se recompor.

É como se você estiver (sic) num campo de futebol que a grama tá machucada e não tá recuperando bem. (Se) você joga terra na graminha fofa e não pisa em cima, ela recupera com mais facilidade do que se você ficar pisando em cima e machucando-a. No caso da articulação, ela se recupera melhor se houver movimento sem atrito do que um atrito constante o tempo todo.

ENTREVISTADORA — Doutor, outro ponto que eu gostaria de entrar e que o pessoal têm muita dúvida é a questão das dormências e formigamentos. Esses sintomas nos braços e e principalmente nas pernas que as pessoas sentem podem ser tratados com a Quiropraxia?

DR. IAN ROCHA — Sim, com certeza. É claro que a gente precisa avaliar. Geralmente as sensações são transmitidas pelos nervos, (como) sensação de queimor, de dor, de dormência, de formigamento… Essas sensações (…) transmitidas pelo nervo, vêm do da a percepção da gente lá no cérebro. E a ligação do cérebro desce pela coluna. E no final da coluna ela ramifica por nervos — tipo o nervo ciático que vai descer pra perna. Então se houver uma pressão em cima desse nervo por causa da diminuição do espaço onde o nervo deveria sair da coluna — sendo ele por uma compressão de uma hérnia de disco ou uma disfunção (articular) — ela vai se manifestar na perna ou nas pernas (geralmente na forma de uma dormência ou uma sensação diferenciada: um queimor, uma dor, etc.). E às vezes até entorta o corpo um pouquinho para o corpo sair daquela pressão.

(E é) claro que uma pessoa com trombose vai sentir dor na perna. Então, se teve um acidente e houve uma descoloração da perna, é muito importante procurar um médico que (atue) nessa área vascular — para poder resolver essa situação.

(Também é claro) que (há) outras questões (como) inchaços por problemas renais ou situações de circulação de sangue que são sintomas de manifestação diferente.

Mas se a perna (estiver) normal, (sem) descoloração, (sem) inchaço, (com) uma dor que não sabe (direito) de onde vem — muito possivelmente, uma grande porcentagem inclusive, (…) vem decorrente de problemas da coluna lombar. E é uma dor terrível. Uma crise de coluna é horrível. Muito incapacitante. Uma dor terrível.

ENTREVISTADORA — Falando em dor, doutor, o senhor trouxe pra gente a questão dos bebês que podem (…) desenvolver dor de cabeça futuramente. E falando em dor de cabeça, além dessa questão de ter adquirido quando bebê durante o parto, um probleminha ali no pescoço, na coluna, desalinhamentos na coluna, podem estar por trás desse problema também?

DR. IAN ROCHA — Claro. Eu tive uma paciente, por exemplo, muitos anos atrás, (que) hoje (…) é uma adulta casada (…). (Mas quando a tratei) era era (uma criança de) 3 anos de idade. (Seus pais), vizinhos meus (…), notaram que ela tinha crises ao começar a caminhar. (A perna) “endurecia” (e) ela não conseguia andar. Caía no chão, não conseguia ficar em pé e chorava muito. Os pais a levaram a Salvador (para) alguns (…) ortopedistas especialistas na área — (que) acharam (se tratar de) um problema no pé ou no joelho. Colocaram inclusive (…) um tipo de aparelho no joelho dela para correção. (A menina usou) isso (por) 1 ano e pouco. Sentiu algumas mudanças, mas de vez em quando ela (apresentava esses episódios). Como eu era vizinho deles, um dia (pedi para) dar uma olhadinha nessa menina. Quando (examinei) a articulação sacroilíaca dela — que é bem na base da coluna, ali entre o sacro e os ílios (na) bacia, nessa região no finalzinho da lombar — ela (estava) com uma uma das das articulações do lado direito, se eu não me engano, bem posterior.

Muito provavelmente (esta posterioridade foi resultado) de uma queda sentada (em que atingiu) (…) um lado (mais) do que do outro que ela devia ter tomado quando bebê. O bebê cai sentado (de) bunda o tempo todo. Provavelmente deve ter batido num lugar mais duro ou numa quina de alguma coisa. Pois esta articulação (sacroilíaca) “travou”. E ela (…), às vezes, (dependendo) da forma que pisava, machucava essa articulação e doía. Então ela não conseguia se movimentar (e “endurecia”) a perna. A primeira vez que eu (a ajustei foi suficiente para) ela nunca mais (ter esses episódios). Claro, ela continuou (indo se tratar) de vez em quando, os pais levavam. (Eles) ficaram muito contentes com os resultados porque (só bastou) uma intervenção, um estralinho (que) na hora que mexe assim faz “trac” — (e) aí solta a articulação.

Então eu fico imaginando: (se) uma criança dessas, com uma quedinha que levou antes dos 3 anos de idade. se isso ficasse travado 20-30 anos, como ela (estaria) hoje? Existiria (sem dúvida) um processo degenerativo que (…) (poderia) teria sido evitado e ela provavelmente ia ser uma pessoa com (um precoce) problema de coluna. (…) Ela hoje tem 20 e poucos anos. Se não tivesse feito (esse ajustamento), ela hoje teria muito mais problemas. (E), de fato, ela (…) nunca mais teve crise, ficou bem (…), se desenvolveu normalmente. (Isso) porque (suas) articulações estavam funcionando bem.

ENTREVISTADORA — Pronto, doutor (…), só reforçando o (que) o senhor disse, Quiropraxia (trata) desde bebês até adultos e idosos? Todo mundo pode se beneficiar? Quem tem (problemas de) coluna deveria ser avaliado?

DR. IAN ROCHA — Com certeza. Geralmente se tem sintomas é porque já existe (algum) problema. Às vezes existem problemas sem sintomas e existem sintomas sem muitos problemas. (A pessoa pode não ter) tanto problema de coluna, mas tem algum sintoma. Mas geralmente quem tem sintomas é porque está apresentando (alguma disfunção) nas articulações da coluna e às vezes nas articulações do corpo também.

Os pés acabam afetando muito. A gente (tende a) compensar. Se eu, por exemplo, torço um pé (que é constuído de) 27 ossos, e se (…) um osso fica “meio torto” junto do outro, aquilo vai causar um desgaste. (Ao cabo de 20 anos) a gente (observa) uma artrose (…) por causa de uma (simples) torção (de) 20 Anos antes. Então (…) se a torção não for tão extrema (a ponto de haver) rotura de ligamento, (a pessoa) vai se beneficiar de um ajuste. Pegar aquele osso e “botar no lugarzinho” que ele deve ficar, vai machucar menos a pessoa e vai evitar um problema — mesmo que (não haja necessariamente) (…) um sintoma, uma dor. Mas, (ao fazer) uma avaliação (de caráter preventivo) (…), e se precisar de um ajuste, seria interessante. (E só tem a se beneficiar).

Geralmente aquelas pessoas que fazem atividades tracionais; quem nada; quem faz yoga (ver Artigo 156); quem faz Pilates (ver Artigo 90); quem se alonga (ver Artigo 196) — essas pessoas tendem a sofrer menos porque (o corpo) já (se movimenta). Isso já (se faz) naturalmente. (Ao) manter as regiões (do corpo em movimento), de (maneira) normal e de (…) forma que não esteja sendo compensada de um lado mais do que do outro, essas pessoas tendem a ter menos sintomas. Sim, tendem a ter uma coluna mais saudável, as articulações mais saudáveis.

Mas aquelas pessoas que (só fazem) academia pela estética, (…) não (estão) trabalhando músculos que você não vê. (O que se quer neste caso é) desenvolver músculos para você ver porque é (estético) — (o que) acaba enfraquecendo ou (negligenciando) músculos de sustentação. Então (existem) outras modalidades que são bem mais interessantes (…) para poder estabilizar (e) manter (a coluna) móvel. (E) o Pilates (…) é maravilhoso. Ajuda muito com problemas de coluna — mas, (por outro lado), não destrava.

(…) É como fazer uma caminhada com sapato apertado. A caminhada é ótima, mas o sapato apertado machuca. Então faça sua caminhada com seu sapato ajustado. Faça seu pilates com sua coluna movimentando direitinho. (…) Siga uma orientação de alguém que tenha esse conhecimento. que possa passar (informações que) ajude a pessoa a ter mais saúde e qualidade de vida.

ENTREVISTADORA — Doutor, em quanto tempo os pacientes costumam perceber a melhora da da Quiropraxia?

DR. IAN ROCHA — Olha geralmente a gente fica até mal-acostumado. Porque (muitas vezes) a melhora é muito rápida. A pessoa está sofrendo com dores de cabeça por anos (ver Artigo 105). (A gente) faz um ajuste e aquilo já melhora. É muito comum também (…) a pessoa (ter) uma uma disfunção (articular, por exemplo), uma dor na na coluna lombar — principalmente quando faz extensão da coluna; (quando) a pessoa (…) fica muito tempo sentada; ou (…) dependendo da posição que (…) trabalha (ver mais sobre ergonomia nos Artigos 1, 2, 3, 170 e 198); ou (das) atividades do dia a dia. (Após o) ajuste, a pessoa já sente um alívio — às vezes imediato, (ainda) na maca. Esse é o normal (e o Quiropraxista) fica (mesmo) mal-acostumado.

ENTREVISTADORA — Acontece (…) (de atender) pessoas que têm uma situação mais crônica e mais delicada — e que vão reagir ou (…) e (se) manifestar depois de um ajuste de uma forma diferente?

DR. IAN ROCHA — Sim, com certeza. Inclusive, (há) pacientes que (…), depois de algum trauma, um acidente de carro ou alguma situação onde (sofreu) um acidente de moto, (…) bicicleta ou (…), (e) pelo fato de termos dezenas de articulações da nossa coluna, é comum que uma que travou (permaneça) travada (por) 1 ano, 2, 3, 10. E essa “trava” sem mobilidade (…) cria uma adesão. A articulação “gruda” (e) compensa (…) as demais.

(…) quando (o Quiropraxista) faz um ajuste naquela articulação que não se move, que está “grudada”, ela (pode, às vezes), inflamar. Então (o que o paciente) sente é o seguinte: (…) passa (uns) dias dolorido, (…) (e) me xinga todinho. (Mas o que ocorre é que) a articulação começou a mexer. (E) ela vai cicatrizar de uma forma mais saudável. (E depois de mais uns) 2 ou 3 dias seguindo (minhas) orientações, (o paciente vai acabar) me abençoando também. (…) não é que todo mundo (sinta) alívio no momento (do ajuste). Tem gente também que vai melhorando aos poucos. (…) de uma semana (a) outra, de uma sessão para outra, vai (gradativamente se) sentindo melhor (e) vai (se) movimentando mais.

Então depende da situação. Depende da cronicidade, da idade, do problema. E do que é que está acontecendo de fato com aquela pessoa. Cada (caso) é um caso. (Por exemplo), pessoas também que, (no trabalho), precisam fazer muitos agachamentos (…) —  e (vocês) têm muitos ouvintes da zona rural, né? (Esse) pessoal que cuida dos bichinhos, (que) vai tirar o leite da vaca, tem que ficar muito tempo agachado. O pessoal que trabalha na roça com plantação, querendo ou não, fica ali um tempo maior com esses agachamentos. Isso pode também ser prejudicial pra coluna.

A grande maioria dos meus pacientes são da zona rural. São lavradores. São pessoas que trabalham com o corpo. (…) e que, às vezes, até muita gente (que atendemos) já (tem uma certa) idade. (E carregam) uma consequência de um problema de coluna muito antigo. (…) é comum eu ver pacientes de 40, 50, 60 anos que passaram muitos anos carregando mourão, mexendo com enxada, batendo facão ou machado. Então, claro, isso geralmente (cobra um preço) — principalmente se (…) trabalha mais de um lado do que do outro; se (…) abaixa muito com a coluna (ao invés) de com as pernas.

A forma de trabalhar voga muito. Aqueles aquelas pessoas que trabalham dos dois lados; que vão abaixar usando as pernas; (…) tendem a machucar menos a coluna. A pessoa que (se) abaixa de lado sempre pro mesmo lado, que trabalha; que varre casa sempre do mesmo jeito, sempre assim priorizando mais um lado do que o outro; (…) sempre (…) tende a sofrer um pouco mais. E a gente acaba vendo sequelas, né? Consequências em exames radiográficos tipo artrose na coluna, tipo “bico-de-papagaio”, desidratação de disco, diminuição dos espaços do disco, compressões neurais, essas coisas.

ENTREVISTADORA — Doutor, a gente está chegando aqui ao final do nosso bate-papo e eu gostaria que o senhor deixasse umas dicas de cuidados diários que os nossos ouvintes podem ter (e) que podem ajudar (…) a manter a coluna saudável.

DR. IAN ROCHA — Claro, é muito importante a gente prestar atenção na hora de exercer (uma determinada) atividade:

  • (…) vamos dizer (que) um ajudante de pedreiro vai pegar um saco de cimento. (O segredo é) não pegar de (qualquer) jeito. Se puder arrumar uma ajuda, (peça). Se (tiver) que pegar sozinho, abaixa com as pernas. A gente gasta tanto dinheiro num academia para fazer agachamento… Por que a gente não faz agachamento no dia-a-dia dia do nosso trabalho? (Se) cai uma meia no chão (ou calça) um sapato, abaixa com as pernas. Faz um agachamento (ao invés de se) abaixar com a coluna. Porque (…) a gente acaba maltratando ela — principalmente se a gente repete isso muito e muito e muito.

  • (…) a forma (correta) de abaixar para pegar alguma coisa, se você tem um bebê, por exemplo, pegar ele no berço ou (…) se no chão, (é usar) as pernas. Faça seu agachamentozinho. Suas pernas vão ficar malhadas. (E) a coluna não vai machucar.

  • (Em relação a) (…) exercícios de impacto, ter cuidado com eles. (…) um pouco de impacto não é ruim. Mas o impacto exacerbado, muito constante, (…) tende a piorar (as dores) — principalmente se já houver um disco herniado ou alguma (outra) situação nesse sentido.

  • (…) (se) eu estou num computador trabalhando e minha cabeça tá assim o dia todinho olhando pra tela aqui (em rotação), vamos (então) melhorar a estação de trabalho; voltar minha (posição do pescoço neutra) para a frente da tela e melhorar a minha estação. Porque isso vai acabar me dando um problema no pescoço de um lado. E a gente tem que prestar atenção no que é que a gente tá fazendo (e o) que está causando aquele problema.

E (tudo) isso é muito comum: a gente faz alguma coisa que causa (um) problema e (que) tende a (se) repetir. Inclusive o povo tem um ditado: “o costume do cachimbo entorta a boca“. E é por aí.

A gente faz, faz, faz, faz — e vai criando (esses vícios). O corpo vai se adaptando, mas não gosta. Não gosta e (faz doer). Avisa que não tá bom. E a gente, às vezes, toma remédio para para a dor e vai empurrando para frente — até na hora que acha um filho de Deus que “bota a coluna (…) no lugar” e começa a melhorar a situação.

ENTREVISTADORA — Doutor, (…) antes de da gente aqui finalizar, o senhor falou sobre movimentos de impacto (do) pessoal da academia. Tem um alerta (que o pessoal) tem que ficar atento em algum movimento no peso (que) pode ser prejudicial pra coluna?

DR. IAN ROCHA — Academia pode ser um grande aliado na nossa vida ou pode ser pode ser muito complicado. Assim é importante, sim, (…) (mesmo se) a gente (já tiver) um problema ou não, (de) variar os tipos de exercício na academia — que, (ressalte-se), são benéficos (e) que vão ajudar a reabilitar a sentir-se melhor e ter mais mobilidade. (Mas se) (…) ficar só naquele movimento repetitivo para engrossar, para criar muito corpo muscular sem alongamento (e) sem mobilidade, (é uma receita para ter problemas).

Então, é claro (que) o educador físico ou personal (trainer esteja) muito bem preparado (e tenha) uma noção (de) que ele (esteja) orientando a própria pessoa (a se conscientizar) (…) que certas coisas, que (…) algum tipo de atividade, algum tipo de de levantamento de peso, que (esteja) machucando (seja evitado). Evite, ou realmente modifique. Evite, porque aquilo pode lhe dar uma crise. Então, não que ache que a academia (seja) uma maravilha, mas tem que ser bem usada.

ENTREVISTADORA — Doutor, muito obrigada pela participação, por trazer pra gente essas dicas, essas informações valiosas. Eu gostaria que o senhor deixasse também o contato (…) para quem quer (sic) realizar uma consulta. A (nossa) FM está sempre de portas abertas pra gente falar sobre outro outras pautas dentro da Quiropraxia.

DR. IAN ROCHA — Ah, muito obrigado, Tati. Foi um prazer estar aqui, sim.

Adoro conversar sobre Quiropraxia. É uma das minhas paixões. Sou quiropraxista há muito tempo. Venho de uma linhagem de Quiropraxistas. (…) meu nome está aí na internet. Se pesquisar “Ian Borges Rocha”, (vai achar) minha mãe (também) — (que) é a primeira Quiropraxista do Brasil;  primeira mulher (Quiropraxista); (e) uma da fundadora da Associação Brasileira de Quiropraxia. (…) ela (é) (…) muito ativa no meio da Quiropraxia, da parte internacional, da parte política da profissão — principalmente nessa luta para a regulamentação dessa profissão que é maravilhosa. Tenho irmão, primo, padrasto (e cunhada) que são Quiropraxistas. Então é algo que já corre no meu sangue mesmo, de família.

Atendo (…) (na Clínica Santa Bárbara) em Seabra há muitos anos. Tenho clínica estabelecida na região. Pessoalmente, moro no Vale do Capão (…). Atendo aqui em Macaúbas há alguns anos também — recentemente (…) (em) parceria com a IRM (Instituto de Radiologia de Macaúbas). Está muito legal (e temos tido) uma receptividade muito boa. Esperamos que (…) entrem em contato com essa clínica para poder melhorar a função das articulações de vocês e que não precisem ficar tomando tanto remédio só para parar a dor; que realmente essa dor passe porque para de machucar. (…) a gente vai passar aqui o contato da IRM. Quem quiser (se consultar), pode (ligar para o número) 77 9 9993 2453 (ou) 77 9 9993 2453. (Há também o) Instagram, (que) podem seguir e acompanhar: (@ian_borges_rocha e @ian.rocha1).

ENTREVISTADORA — Doutor, mais uma vez, muito obrigada, viu? Tenha uma excelente tarde e até uma próxima oportunidade pra gente falar sobre saúde da coluna.

DR. IAN ROCHA — Muito obrigado, Tati. Boa tarde para você e boa tarde para os ouvintes.