Os efeitos nocivos do trabalho nas pessoas foram notados com mais frequência após o advento da Revolução Industrial. Bernadino Ramazzini (1633 – 1714), o primeiro de quem se tem notícia que estudou com afinco esta questão (considerado, portanto, o pai da medicina do trabalho), introduziu a pergunta “qual a sua ocupação?”.

Muita coisa se passou desde então. A Revolução Industrial foi além da Inglaterra e ganhou o mundo. O capitalismo floresceu e com ele as doenças do trabalho. E com elas o conceito e a necessidade da ergonomia.

A palavra é derivada do grego ERGO (trabalho) e NOMOS (leis naturais). De acordo com o IEA (Associação Internacional de Ergonomia) e a ABERGO (Associação Brasileira de Ergonomia), a definição mais técnica seria “disciplina científica que trata da compreensão das interações entre os seres humanos e outros elementos de um sistema, e a aplicação de teorias, princípios, dados e métodos ao projeto a fim de otimizar o bem estar humano e o desempenho global dos sistemas”. Mas é muito mais do que isto.

Na prática, ergonomia é definida como a adaptação do trabalho às pessoas. LUTA MÉDICA, uma revista do sindicato dos médicos do estado da Bahia (ano II, nº 06, janeiro/março de 2008), realizou uma entrevista interessantíssima com o Dr. Carlos Valadares, médico do trabalho, ergonomista, certificado pela Associação Brasileira de Ergonomia (ABERGO), conselheiro do Conselho Regional de Medicina da Bahia (Cremeb), coordenador da Câmara Técnica de Medicina do Trabalho, médico da Petrobrás e do Sindicato dos Bancários. Dr. Valadares alerta que:

“A ergonomia tem como pressuposto básico adaptar o trabalho ao homem e à mulher, e não o inverso, de adaptar o homem ao trabalho. A ergonomia estuda o trabalho em sua plenitude. Estuda fatores que interferem na atividade, os condicionantes econômicos, sociais, políticos, e culturais.”

A ABERGO diz que, desde a tal Revolução Industrial, “os projetos da maioria dos postos de trabalhos não consideram as limitações humanas dos que os executam”. O trabalho, muitas vezes, está além da capacidade de realizá-lo. Como resultado, algumas pessoas se fadigam ao final de seus turnos. Isto acaba afetando negativamente suas vidas, seus lazeres, seus estudos, e até seus relacionamentos com a família e com os amigos.
O projeto de lei Factory Act (1833) obrigou as fábricas inglesas a terem pelo menos 01 médico presente nas vicinidades. Desde então, estes profissionais têm atuado na linha de frente, e percebem primeiro o impacto das doenças e lesões. Prevenção, uma ação prévia por definição e consequência, deveria ter um papel crucial na sociedade, e por tabelinha, nas empresas. Médicos do trabalho não podem simplesmente tratar dos efeitos, e sim procurar as causas e riscos existentes, para poder então transformá-los e eliminá-los.

Em suma, “ergonomia é muito mais do que mudar uma mesa ou uma cadeira”, de acordo com Dr. Valadares, que atesta que “o trabalho é o central na atividade humana. Necessita-se trabalhar para produzir alimentos, vestuários, moradia, lazer, cultura e música. Trabalhar pode ser atividade que gera sofrimento, desconforto, dano físico e moral, ou pode ser uma atividade prazerosa”.

Todos nós queremos uma vida melhor. E, de preferência, mais ergonômica. O ideal seria “buscar corrigir com base na experiência da humanidade, a melhor maneira de produzir sem causar danos, com conforto, saúde, bem-estar e segurança, e de acordo com o meio ambiente, possibilitando o trabalho em novas condições”, afirma Carlos Valadares.