Conforme entrevista publicada na revista LUTA MÉDICA (ano II, nº 06, janeiro/março de 2008), Carlos Valadares, médico do trabalho e membro da Associação Brasileira de Ergonomia (ABERGO), faz um alerta contra o aumento de casos de Ler/dort, que “atingem inúmeras categorias como os metalúrgicos da Ford e a numerosa categoria dos bancários, mas são descritos casos em todas as categorias”.

A ergonomia utiliza os conhecimentos de diferentes ciências para analisar a interação entre o trabalhador, seu ambiente de trabalho, e os elementos que o afetam negativamente. É primordial definir as exigências do trabalho que possam exceder os limites do corpo humano. Os elementos negativos e as exigências excessivas são chamados de sobrecarga do trabalho. Para reduzi-las ou eliminá-las, são realizadas modificações e adaptações em métodos e locais de trabalho, ferramentas, e até mesmo pequenas modificações no produto a fim de adaptar o trabalho às pessoas.

O objetivo seria prover referências e difundir conhecimentos para uma abordagem prática e objetiva na tarefa de identificar tais deficiências; enfatizar que cada produto, bem como projeto, processo ou local de trabalho, seja concebido dentro de conceitos ergonômicos. Como consequência, reduz-se custos futuros com correções e adaptações — sem falar com o custo de tratar o trabalhador, que quase nunca irá corresponder com seu trabalho às expectativas de um projeto mal elaborado ergonomicamente. O próprio necessita ser conscientizado disso. Sintomas como sobrecarga visual e mental, desconforto, dores e fadiga torna-o cansado, desatento e propenso à cometer erros e ficar sujeito à risco de acidentes e incidente.

Isto não afeta somente o trabalhador, mas eventualmente toda a organização. Seu trabalho terá que ser refeito com frequência. Haverá maior risco de acidentes e incidentes, problemas de produção, baixa qualidade, e menor eficiência e produtividade. Mas não é somente isso…

Há também outras perdas difíceis de computar:

  • As perdas econômicas para os trabalhadores afetados e suas famílias;

  • A perda da própria qualidade de vida;

  • A perda operacional com relação à eficiência, conhecimento e experiência do trabalhador;

  • As perdas sociais devido ao aumento dos dependentes na Previdência Social.

Todos perdem quando o projeto de trabalho é mal elaborado: trabalhadores, suas famílias, a sociedade, e toda a organização.

Nem os próprios médicos estão imunes. Dr. Carlos Valadares afirma que “as longas jornadas de trabalho; as pressões que atribuíram ao servidor de saúde; a responsabilidade pela carência dos serviços; o corre-corre para outros plantões e atividades; as lombalgias; o estresse; a hipertensão; as patologias psicossomáticas; o suicídio no trabalho ou por causa dele; o uso de diversas drogas, lícitas e ilícitas; as diversas doenças mentais; as condições adversas de trabalho às vezes sem condições mínimas; os baixos salários, ainda fazendo do ato médico um ato heroico e cada vez mais criticado e com menos reconhecimento” contribuem para o adoecimento da classe.

De acordo com Fabrício Avancini Silva – M.Sc., diretor técnico da ERGOAPPLIED:

“Os especialistas devem ser envolvidos no processo corretivo para verificação das modificações com o objetivo de prevenir que as mesmas não comprometam outras condições da capacidade humana na interação com a nova condição de trabalho.”

Trabalhar bem e saudável não é luxo – é vital.