O Corpo no Trabalho (157 páginas, Editora Senac, São Paulo) foi escrito pelo médico Primo A. Brandimiller em 1999 — numa época em que o pessoal se referia aos PCs como microcomputadores. O termo laptop sequer existia ainda. Mesmo assim, os conselhos ergonômicos inclusos na obra não ficaram datados. O Corpo no Trabalho deveria ser um livro de cabeceira para qualquer pessoa que trabalhe em indústrias ou escritórios. Bancários, digitadores, operadores de linha de montagem e de telemarketing, metalúrgicos e jornalistas se beneficiariam enormemente de seu conteúdo. Baseadas no livro, as revistas da Folha (19/11/2000), UMA (março de 2004) e VEJA (02/08/2000) publicaram naquele período algumas dicas de como trabalhar melhor. Ainda valem — mesmo nos dias de hoje:

  • Cor, Temperatura e Qualidade do Ar: As cores claras são as mais indicadas para as paredes. A temperatura-padrão ideal seria de 24 graus. Ambientes frios tendem a gerar mais tensão. Uma planta no local funciona como purificador de ar natural. É necessário limpar com alguma frequência as tubulações do ar condicionado.

  • Iluminação: Luz demais ou de menos não faz bem para os olhos. A iluminação artificial não deve causar ofuscamento direto. Preste atenção se a luz da sua sala não está provocando reflexos na tela do computador. A posição correta do monitor é perpendicular à janela — tende a forçar muito a visão se for paralela. Para evitar a fadiga visual, afaste o olhar do posto de trabalho durante alguns instantes e olhe para longe, de preferência através da janela. Isso ajuda a descansar os músculos oculares.

  • Mesa: Esta deve ficar no mesmo plano de apoio da cadeira. A altura deveria ser em torno de 74 centímetros do chão e ter uma boa profundidade para que se possa trabalhar com o monitor afastado de 60 a 70 centímetro dos olhos. A mesa deve ser organizada a ponto dos objetos mais usados estarem próximos das mãos.

  • Cadeira: Não deve apresentar deformações na sua base. Possuir borda frontal arredondada poupa a musculatura posterior da coxa. Base de cinco pernas com rodinhas e assento giratório evitam torções exageradas no momento de realizar tarefas contidianas, como abrir gaveta ou atender ao telefone. Observe a “regra dos 90°”: quando sentado, este ângulo deve ser formado nos cotovelos, entre a coluna e a coxa, e entre a coxa e a perna. A planta dos pés deve estar totalmente apoiada no chão ou com suporte. É essencial que a cadeira tenha um encosto que permita que a coluna fique ereta e a região lombar bem encaixada. O mesmo deve ser regulado nas costas e apresentar formato anatômico que favoreça a distribuição de peso do tronco.

  • Intervalos: Ao sentar-se, procure manter os ombros relaxados, e evite permanecer por mais de uma hora na mesma posição. Recomenda-se uma pausa de 10 minutos a cada 50 minutos de trabalho. Neste intervalo, levante da cadeira, ande a alongue todo o corpo, com atenção especial aos dedos, punhos, braços, pernas e pescoço. O ato de levantar, esticar as pernas, esprequiçar-se e andar pelos escritório ajuda a lubrificar as articulações e melhorar a circulação. Existe um argumento de que estes intervalos poderão comprometer o rendimento do trabalho, mas ocorre justamente o contrário. Estudos comprovam que, após o intervalo, a produtividade cresce mais ainda. O trabalhador descansado fica mais concentrado.

  • Monitor: Se a postura estiver correta e ereta, o foco de visão estará no centro (pouco abaixo da linha superior do monitor). O topo precisa estar na mesma altura dos olhos, que devem ficar à altura da metade superior da tela. Desta maneira, evitam-se dores e rigidez no pescoço e nos ombros. Ao sentar e visualizar o monitor, verifique se o pescoço está numa posição confortável, sem extensão ou flexão exagerada. Mantenha-se a uma distância razoável do monitor para não cansar demais a vista. E, se possível, saia da frente do computador por intervalos de 10 minutos a cada 50 minutos.

  • Teclado: Deve ficar na frente e reto, com a mão e o antebraço alinhados na mesma posição. É aconselhável usar o apoio de pulso. Os antebraços devem estar apoiados na mesa em 2/3 do seu tamanho. Evite digitar por mais de cinco horas por dia — certamente existem outros trabalhos a serem feitos. Trabalhar com a tala indicada nos casos de tendinite ou dores musculares é um erro, de acordo com o assistente-doutor da disciplina de reumatologia da Escola Paulista de Medicina (Unifesp) e atualmente da Universidade Federal de São Paulo, Dr. Milton Helfenstein Jr., pois restringe os movimentos e pode até causar atrofia muscular.

  • Indumentária: Por incrível que pareça, pode também ter um efeito nocivo na saúde do trabalhador. Roupas apertadas diminuem a circulação. Sapato com salto alto aumenta a carga na região lombar (ver Artigo 127). Procure encontrar um equilíbrio entre elegância e conforto. Lembre-se: o uso de roupas confortáveis gera mais rendimento no trabalho. Promove o bem-estar. Faz a pessoa sentir-se bem.

Difícil mesmo é implementar estas medidas em casa, nestes tempos de trabalho remoto… Mas valem muito a pena.

Por fim, é sempre benéfico fazer algum tipo de aquecimento nos dedos e braços antes de começar a digitar. Alongamento é a ferramenta mais eficaz para evitar o Dort. Pratique antes e depois do trabalho, e se puder, nos intervalos. Não levam muito tempo, e irão proporcionar um grande alívio. Eis alguns destes exercícios específicos que podem ser feitos em pleno expediente:

  • PULSOS: Descanse seu antebraço na quina de uma mesa. Segure os dedos de uma mão com a outra mão levemente e dobre-os para trás, alongando o pulso. Segure esta posição por dez segundos. Repita o processo com a outra mão.

  • COSTAS: Entrelace os dedos, vire a palma da mão para fora, à frente de seu corpo e alongue seus braços o mais longe que puder do seu corpo, levando também os ombros à frente.

  • BRAÇOS E TRONCOS: Alongue seus braços para cima, um de cada vez, o mais alto que puder, como se você fosse pegar uma maçã em uma árvore muito alta. Repita de 10 a 15 vezes alternando os lados.

É claro que estas mudanças não transformarão imediatamente uma pessoa com Dort em outra sem. Isto vem com o tempo (da mesma maneira que os problemas não começaram da noite para o dia). Os resultados, contudo, são visíveis após alguns meses (em alguns casos, semanas). Sem falar que o bem-estar não tem preço.

Não oferecer tais recursos ergonômicos, seja por deficiência ou inexistência de mecanismos, torna uma mudança pequena e barata em algo que vai custar ainda mais no futuro. O trabalhador da área administrativa, operacional ou de transporte permanecerá com uma postura incômoda durante toda a jornada de trabalho. As inevitáveis lesões ósseas ou musculares o impedirão de continuar na atividade. São pequenos detalhes que no fim farão uma grande diferença. E o benefício maior será a saúde do trabalhador.

Em tempo: Mais sobre ergonomia, veja Artigo 1, Artigo 2Artigo 3 e Artigo 101.