Entende-se por “alongamento” qualquer forma de exercício físico em que um grupo muscular (ou um músculo ou tendão) é deliberadamente flexionado ou alongado para melhorar elasticidade e atingir um adequado tônus muscular.

Alongamento resulta em maior flexibilidade, controle muscular e amplitude de movimento. Ótimo para combater cãibras, é natural e instintivo. Animais alongam-se com frequência. Um dos pilares para o bom condicionamento muscular é o alongamento para aumentar a flexibilidade. Desde sempre atletas costumam alongar-se antes e depois de exercícios para aumentar o desempenho e reduzir danos musculares.

Pois bem. Ainda em 2011, a revista VEJA publicou uma reportagem que, de acordo com um “estudo divulgado na reunião anual da Academia Americana de Cirurgiões Ortopédicos (AAOS), (…) fazer alongamento antes de correr não previne nem causa contusões”. E poucos anos depois, a mesma publicou outra reportagem que contestava de novo toda esta questão do alongamento por meio de dois estudos que, na época, causaram uma panaceia na comunidade científica. Foi um arerê dos infernos.

  • No primeiro, cientistas da Universidade de Zagreb, na Croácia “reuniram 104 pesquisas que analisavam o desempenho de voluntários em modalidades como natação, corrida e musculação logo depois de realizar alongamentos estáticos. O cruzamento desses dados revelou que os exercícios de flexibilidade prejudicavam o desempenho ao reduzir a força dos músculos em 5,5%, a capacidade de produzir contrações em 2% e aptidão para treinos de explosão em 2,8%”.

  • No segundo realizado pelo periódico The Journal of Strength and Conditioning Research “mostrou que homens jovens que se exercitaram frequentemente levantam 8,3% menos peso quando fazem movimentos de flexibilidade antes da musculação”.

Então concluíram que “alongar-se antes dos exercícios reduz a potência e a força muscular, além de aumentar o risco de lesões”. Seus autores “sugerem que a atividade relaxa a musculatura e os tendões, deixando-os menos dispostos a estocar energia e à ação”. E podem “favorecer lesões”. Era só o que nos faltava.

Nem todo mundo, no entanto, concorda. “O alongamento diminui o risco de lesões e distensões musculares” e proporciona “melhor desempenho físico e melhoria na circulação sanguínea”, afirma Gilberto Anauate, chefe de ortopedia do Hospital Santa Paula, em São Paulo. “Além disso, traz uma sensação de relaxamento e bem estar”.

As pesquisas, no entanto, não param de pipocar. Este estudo conclui que, “embora as evidências sejam conflitantes, (muitas delas) sugerem que o alongamento estático imediatamente antes das atividades de força e potência diminui o desempenho”. Mas enfatizam que, “se o alongamento estático for realizado com tempo adequado (15 minutos, por exemplo) antes do evento ou for combinado com um aquecimento geral subsequente, não terá efeito no desempenho de força e potência”. Este pelo menos tem um porém. né?

De fato, o neurofisiologista Paulo Correia vê com reservas a atividade na preparação do treino. Coordenador do Laboratório de Neurofisiologia e Exercício da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), para ele os exercícios de flexibilidade “devem ser feitos em um dia reservado apenas para eles ou pelo menos duas horas após o treino de força ou resistência”. Ou seja: evite alongar-se logo antes de praticar um esporte. Mas e aí?

A bem dizer da verdade, nosso neurofisiologista fala com uma certa autoridade. Além dos títulos acadêmicos, participou e foi finalista em duas Olimpíadas.

O ortopedista Moisés Cohen, também da Unifesp, sugere que os exercícios iniciais sejam feitos com “movimentos similares àqueles que serão realizados, mas sem carga ou impacto excessivo”.

Seja lá como for, a verdade é que alguns alongamentos podem realmente machucar. Não foram poucos os pacientes que já apareceram no nosso consultório relatando exatamente isso. Ao alongar-se, deram um jeito na coluna.

Observem, por exemplo, a tabela de aquecimento físico abaixo. Dá pra ver nela algumas manobras potencialmente danosas. Dos seus dez movimentos, pelo menos cinco pode ocasionar algum tipo de problema.

O disco intervertebral é feito para resistir várias forças, mas rotação não é uma delas. Girar o pescoço e a cintura já não parece mais uma boa ideia. Alongamentos que envolvem o tronco e a coluna dever ser feitos com a anuência de um bom profissional. E movimentos circulares nos joelhos podem ser particularmente prejudiciais a alguém que sofra de osteoartrose ou problemas nos meniscos.

Os estudos acima sugerem uma perda de desempenho na atividade do atleta. Mas o que dizer de nós, reles mortais? Continua, portanto, valendo alongar-se antes do treino para assim evitar maiores danos. Mas talvez tirar um intervalo maior para fazê-lo?

Então, se há alguma conclusão a ser tirada, é a seguinte: alongamentos podem ser maravilhosos, mas não necessariamente inofensivos. É bom sempre ter o acompanhamento de um profissional qualificado.

Porque, afinal de contas, tudo na vida é uma questão de timing.