É correto tratar uma apendicite com analgésicos e anti-inflamatórios?

Não obstante, é praxe estas classes de medicamentos serem as escolhas mais comuns para tratar problemas neuromusculoesqueléticos. Um erro, na opinião deste que vos escreve. Fisiologicamente falando, a dor é um sistema de alarme. Seria como a luzinha no console do carro acusando a falta de óleo. Ninguém em sã consciência pararia o veículo para cortar o fio da tal luzinha e depois seguir viagem despreocupadamente. Mas nós fazemos isso com nosso próprio corpo. Dor é sinal de que alguma coisa está errada. E que precisa ser corrigida.

Infelizmente, a coluna vertebral frequentemente acaba utilizando a dor como último recurso para chamar a atenção. Locomoção e proteção do sistema nervoso central são suas funções mais importantes — ambas imprescindíveis para sobrevivência. Então, se há alguma alteração, faz parte da natureza da coluna tentar adaptar-se à ela para não comprometer estas duas funções. Por isso, a dor só vai aparecer às vezes anos depois que o problema se instala.

Consumir analgésicos e anti-inflamatórios como um projeto de vida é totalmente improdutivo. A automedicação e o uso indiscriminado é ainda pior. Mas é mais simples do que mudar o estilo de vida, corrigir vícios posturais, ou enfrentar uma longa e frustrante terapia. A fatura, entretanto, vai ser cobrada depois. E com juros.

“Quanto mais analgésicos se toma, mais a dor pode se perpetuar”, já dizia (duas décadas atrás, ressalte-se) o conceituado (e saudoso) neurocirurgião Edgard Rafaelli Jr. (1930-2006), fundador da primeira clínica especializada no tratamento de cefaleias (ver Artigo 105) na America Latina (ÉPOCA, 14/03/2005). Isto tem a ver com a secreção de um grupo de hormônios chamados endorfinas. O uso excessivo de analgésicos e anti-inflamatórios faz com que o cérebro interprete que já não é mais tão necessário fabricar tantas endorfinas para combater a dor. A pessoa, então, desenvolve uma espécie de dependência, já que houve diminuição deste hormônio relacionado ao bem-estar. Em suma, ficamos mais suscetíveis à dor e cada vez mais dependentes nestes medicamento. E isso não é bom (ver artigos  63103, 161, 211 e 249).

É portanto imprescindível e necessário perder o desafortunado hábito de tomar anti-inflamatório para tudo. Estes tipos de medicamentos são úteis e importantes, mas com um propósito definido. São prescritos sob orientação médica e por tempo determinado. O que precisamos é combater a origem das dores e não desligar o sistema de alarme. Para isto, um diagnóstico preciso é fundamental. Há radiografias, ressonâncias, ultrassonografias, e até um exame chamado termografia infravermelha que ajuda a identificar melhor os pontos doloridos.

Felizmente há outras opções para combater a dor. O Hospital das Clínicas em São Paulo tem adotado um tratamento conjugado com remédios e terapias alternativas, como musicoterapia, massagem, biodança, hipnose, relaxamento, meditação, homeopatia e estimulação eletromagnética. Apela até para a religiosidade. João Augusto Figueiró, médico psicoterapeuta do Centro Multidisciplinar de Dor da Divisão de Clínica Neurológica do HCFMUSP e coordenador do Programa Nacional de Educação Continuada em Dor e Cuidados Paliativos para Profissionais de Saúde da Associação Médica Brasileira, afirmou na mesma reportagem da ÉPOCA que há “evidências na literatura científica que demonstram como a fé permite que a pessoa com dor tenha maior capacidade de tolerá-la” (mais sobre religiosidade e dor no Artigo 60).

Aliás, o doutor Figueiró vai até mais além: ele reitera que “a dor é importante para o equilíbrio e para o desenvolvimento de nossas vidas. Afinal, (…) ela se contrapõe ao prazer, formando com ele uma balança. Esse equilíbrio é rompido quando se tenta eliminar a dor, bombardeamos o organismo com medicamentos, ou quando deixamos de sentir prazer. Além disso, a dor é imprescindível para o desenvolvimento emocional e espiritual do ser humano” (veja também esta interessante entrevista com o próprio sobre este tema).

Sim, é necessário, portanto, reacostumar o corpo a produzir endorfinas em quantidades satisfatórias de novo. Estudos comprovam que a acupuntura causa este tipo de reação. Mais ainda, a medicina oriental prega que a dor só aparece quando a energia não circula. E nestes casos, os resultados apresentados são excelentes (ver Artigo 145).

A origem da dor pode até residir nas emoções. O estresse causa aumento de cortisol no corpo. Em quantidades excessivas, este hormônio é um veneno.  Tristeza, medo e insegurança geram pensamentos conflitantes, contraem a musculatura e “travam” o corpo. A energia fica estagnada. O significado que damos à estas emoções negativas reflete na nossa postura e na nossa maneira de viver. Terapia cognitiva pode ajudar. O simples ato de respirar direito também (ver Artigo 96).

E, claro, fazer atividades físicas. Melhorar a postura com R.P.G. (ver Artigo 133). Movimentar e fortalecer a musculatura do centro com Pilates (ver Artigo 90). Alinhar a coluna com Quiropraxia, Melhorar a qualidade de vida. Viver sem dor. Sem automedicar-se.