NOTA: Este artigo foi publicado em maio de 2012 no jornal O Diário de Ilhéus. Apesar dos seus mais de nove anos de idade, se mantém surpreendentemente atual.

Lorax, Valium, Rivotril e Frontal. Prozac, Zoloft, Pondera e Luvox. Aspirina, Naprosyn, Cataflan e Advil. Retemic e Detrusitol. Buscopan e Atroveran. Por incrível que pareça, boa parte desses remédios estão presentes no dia-a-dia de muita gente. E alguns até demais, por sinal.

“Um idoso toma de cinco a dez medicamentos diferentes todos os dias. Não bastassem os riscos inerentes a qualquer remédio, nessas quantidades há o perigo das interações medicamentosas. Um terço dos idosos, indicam levantamentos recentes, sofre as consequências do mau uso de medicamentos. Nos Estados Unidos, ele é a causa de 28% das internações a partir dos 60 anos.” (Revista VEJA, 04/05/2012)

Pensem bem: quase um terço da melhor idade americana baixa num hospital por causa de intoxicação medicamentosa. Se lá, no país dos litígios, isto está ocorrendo, imaginem o que não acontece por cá, onde nem há índices estatísticos confiáveis.

Estamos nos entupindo de remédios. Estamos tomando medicação como se toma suco. Alguns médicos estão prescrevendo-os levianamente. Nada em excesso presta.

É necessário estudar mais a fundo caso a caso para averiguar a necessidade real do paciente de consumir diferentes remédios simultaneamente. O coordenador de geriatria da Santa Casa de São Paulo, Milton Gorzoni, alerta que “cada novo composto acrescido à rotina de um paciente mais velho, o risco de problemas sobe 10%”. Publicou até artigo sobre isso.

Pois é. Medicação não é suco. Se não houver controle, pode trazer sérios danos à saúde.

É por estas e por outras, e “com o objetivo de orientar médicos e pacientes”, que “a Sociedade Americana de Geriatria lançou ainda nos idos de 2012 as novas diretrizes sobre o uso de medicamentos por idosos. Concebida por onze especialistas, a cartilha foi elaborada a partir da revisão de 2.000 estudos científicos sobre o assunto e traz 53 medicamentos, de classes diferentes, potencialmente perigosos para os mais velhos”.

Em 2003, a Sociedade Americana de Geriatria sugeria que benzodiazepínicos para “ansiedade e insônia” como o Lorax, Valium, Rivotril e Frontal, fossem usados em doses baixas. Não mais. Hoje em dia, “aconselha evita-los sob o risco de causarem problemas de memória, confusão mental aguda, quedas e fraturas”. O fígado do idoso pode ser sobrecarregado, já que possui o metabolismo mais lento, o que retarda a degradação do medicamento. O geriatra Rubens de Fraga Júnior, da Sociedade Brasileira de Geriatria alerta que, “se tomado diariamente, um comprimido do benzodiazepínico diazepan pode ficar circulando por 200 horas no organismo do idoso. (…) No organismo de um jovem, ele é descartado em apenas seis horas”.

Antidepressivos inibidores seletivos de receptação de serotonina, como o Prozac, Zoloft, Pondera e Luvox, indicados para depressão, “devem ser usados com cautela porque alteram a produção de urina e as taxas de sódio”. Nas pessoas que apresentam problemas no equilíbrio da concentração de sódio, tais medicamentos podem “levar a sonolência, confusão mental, náuseas e dor de cabeça”.

Os anti-inflamatórios não hormonais, como a Aspirina, Naprosyn, Cataflan e Advil, são indicados para “dores musculares e articulares e doenças reumatológicas”. E são também vendidos sem receita para uma população que adora automedicar-se.  Pois bem: estes aí, de acordo com a cartilha, “devem ser a última opção de tratamento”, pois seu uso excessivo pode causar “hemorragias estomacais e insuficiência renal”.

Anticolinérgicos (Retemic e Detrusitol) usados para incontinência urinária e antiespasmódicos (Buscopan e Atroveran) para desconforto intestinal, “bloqueiam a ação do neurotransmissor acetilcolina” e, por esta substância já ser baixa nos idosos, “devem ser evitados sob o risco de piorar a constipação intestinal e causar fadiga e confusão mental”.

Mas qual a alternativa? Há outras maneiras de controlar a micção? De combater a ansiedade, a insônia e a depressão? Necessita-se estudo detalhado e personalizado para cada caso. Mas pelo menos em relação às medicações para dores, uma vida menos sedentária, com mais exercícios físicos, e tratamento com acupuntura, Quiropraxia, Pilates ou até R.P.G., podem trazer um alívio enorme para o paciente. Sem remédios.

Em tempo: O Instituto para o Desevolvimento da Quiropraxia (IDQUIRO) realizou em meados de 2018 um curso sobre Quiropraxia e Geriatria. Um sucesso na época, fica mais do que nunca constatada a necessidade de trazer cursos similares de volta — assim que a situação mundial se normalize.