Se formos analizar direitinho, o ser humano provavelmente não foi feito para correr — a não ser em situações de urgência. No entanto, corremos por esporte. O ato em si, quando há exagero, provoca uma miríade de problemas neuromusculoesqueléticos, especialmente articulares. Mas, com moderação, traz inúmeros benefícios para a saúde.

Estudos comprovam que a prática de correr regularmente aumenta os níveis de HDL (o colesterol “bom”) e diminui os de triglicérides (o precursor do colesterol). Há também diminuição dos índices de gordura corporal e pressão arterial. Sim, caros leitores, corredores de longa distância exibem uma diminuição na pressão sanguínea de quase 50%. Que, por consequência, diminui também a necessidade de medicações para tal fim. Portanto, a prática de correr por esporte está aqui para ficar. Mais do que nos resignar, temos que estar preparados como Quiropraxistas para lidar com os possíveis efeitos adversos, e procurar minimizá-los.

O impacto causado pela corrida, por exemplo, pode afetar a coluna vertebral, sobretudo a região lombar. Pessoas com hipolordose, cujo centro de gravidade fica concentrado nos discos intervertebrais ao invés das articulações zigapofiseais, são mais suscetíveis. Encurtamento e fraqueza muscular não ajudam — muito menos em atletas de fim de semana que correm sem a supervisão de um professor de educação física (ver Artigo 174). O quadro pode ser agravado por lesões antigas nas pernas ou por uso de tênis inadequado. Vale lembrar não é bom correr em superfícies irregulares e rígidas. Grama é melhor que asfalto. E asfalto é melhor do que paralelepípedos.

Alguns anos atrás, tivemos um paciente de 64 anos de idade com queixa de dores pontuais na virilha e quadril esquerdo. Era corredor costumaz e corria diariamente 30 kms. A dor, no entanto, só aparecia a partir do 20° quilômetro. Só. Não se manifestava em nenhuma outra hora. Tratamos o quadril, mas o aconselhamos, muito para seu desprazer, a correr menos de 20 kms. Difícil para um corredor ouvir isso. Porque não se pode ganhar todas nem agradar todo mundo, não é?

Já nos casos de hérnia de disco, o aconselhável seria, em tese, parar de correr. Mas em nossa clínica, observamos pacientes que, mesmo com o problema, ainda correm. E não sentem necessariamente dor com isso. Por que?

Novamente, a chave reside no movimento articular adequado. Quiropraxia restaura a biomecânica da coluna à níveis aceitáveis. Mas o segredo mesmo está na tonificação muscular. Sobretudo num músculo meio obscuro chamado de transverso do abdome (ver Artigos 90, 113 e 189).

Sim, do reto abdominal todos nós já ouvimos falar. É aquele musculo que faz a barriga ficar definida. Menos famoso é o transverso do abdome, um músculo bem mais profundo. Fica abaixo dos oblíquos externo e interno. Origina-se a partir da face interna das últimas 6 cartilagens costais, da fáscia toracolombar, da crista ilíaca e do ligamento inguinal. Insere-se na linha alba e crista do púbis.

De todos os músculos abdominais, este É O ÚNICO QUE TEM A FUNÇÃO ESPECÍFICA DE ESTABILIZAR A COLUNA LOMBAR, além de aumentar a pressão intra-abdominal. Sua enervação vem dos 5 últimos intercostais, bem como do nervo ilio-hipogástrico e do ilioinguinal. Portanto, alguma disfunção articular nas vértebras torácicas inferiores e nas lombares superiores podem afetar este músculo. Manipulação vertebral com Quiropraxia nesta região pode fazer toda a diferença.

Helder Montenegro, fisioterapeuta, osteopata e fundador do Instituto do Tratamento da Coluna Vertebral alerta que “a corrida passa a ser um risco maior para os novos corredores que não estão fisicamente preparados para o esporte. Por isso, é preciso ter uma boa estrutura muscular e saber usar bem o músculo transverso do abdome e os demais músculos posturais. Esses músculos darão suporte para que a coluna não sofra nenhum tipo de lesão, evitando assim uma hérnia de disco no futuro”. Aconselha também “um programa de mobilização das articulações vertebrais (…)”.

Convém lembrar que um documento da Academia Americana de Cirurgiões Ortopédicos reiterou que “gerenciamento não-cirúrgico é eficaz para dores radiculares agudas em aproximadamente 70-85% dos casos (…)” e que 10% dos casos de hérnia de disco são de fato cirúrgicos. Portanto, 90% das hérnias podem ser tratadas com fisioterapia, exercícios físicos e Quiropraxia.

Correndo ou não. Mas com uma boa orientação.