A Quiropraxia, como profissão, parece mesmo estar eternamente num processo de regulamentação, que volta e meia tramita na Câmara dos Deputados. Sofre um revés, volta a estaca zero e começa de novo. E já se vão duas décadas desse chove-não-molha. Mas é justamente por isso que a vasta maoria dos planos de saúde não cobre este procedimento. Aliás, mesmo depois de amplamente reconhecida e regulamentada (que, mais cedo ou mais tarde, vai inevitavelmente acontecer), levará anos até que a Quiropraxia seja, de fato, coberta por algum plano. A acupuntura passou pelo mesmo processo.
Portanto, o senso comum dita que este tipo de modalidade seria procurado somente depois do paciente não obter sucesso com todos os outros tratamentos cobertos pelo plano. Esta “última alternativa”, quase um ato de desespero, não é, no entanto, o que tem acontecido na prática. Observamos que — não só na nossa clínica, mas em inúmeras outras espalhadas pelo país — há cada vez mais pacientes procurando Quiropraxia, não como última, mas como primeira alternativa.
Aparentemente isto não é um fenômeno isolado. E, aparentemente, já não é de hoje. Alguns anos atrás, a revista ISTOÉ (14/10/2009) já havia publicado uma reportagem que relatava uma crescente tendência entre os pacientes: eles estão deixando de ter um comportamento passivo para assumir maior controle no gerenciamento de sua saúde e exigir mais dos profissionais que os atendem.
Estes “pacientes empoderados” (“empowered patients” em inglês):
Enfim, a palavra do médico não é mais inquestionável. Esses pacientes pesquisam. Até já publicaram trabalhos científicos. E postam sites na internet como PatientsLikeme ou Oncoguia, que são parte de uma rede conhecida por Health 2.0, marcada pela criação de conteúdo pelos próprios pacientes.
Aparentemente, o Conselho Federal de Medicina endossa esta tendência. Afinal de contas, “decisões unilaterais são mais difíceis de serem cumpridas”, atesta o clínico-geral Alex Botsaris, do Rio de Janeiro. E já faz algum tempo que uma mudança no Código de Ética Médica ocasionou numa nova dinâmica no relacionamento médico-paciente. Agora, estimula-se o clínico a relevar as decisões do paciente, contanto que não haja risco de vida imediato. Os profissionais que relutam em acompanhar as transformações perderão o bonde da história. Terão que rever suas posições. “Quem não aceitar isso terá problemas para estreitar relações com o seu doente”, afirma o neurologista Cláudio Fernandes Correa, do Hospital 9 de Julho, de São Paulo.
Mas, claro, mudanças como essas não são gratuitas. Na prática, significa uma espécie de corresponsabilidade. “O paciente assume o risco de tomar decisões junto com seu médico”, diz o clínico e psicoterapeuta João Augusto Figueiró do Hospital das Clínicas de São Paulo. Abre-se o diálogo, mas o médico obviamente tem a palavra final. O paciente, no frigir dos ovos, precisa seguir as orientações médicas. Questionamento, ainda que seja saudável, não substitui tratamento. “Se não for assim, as conversas valem apenas como exercícios de retórica”, diz o cardiologista Flávio Cure, professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.
Então, é direito do paciente:
Uma frase muito comum nos consultórios de Quiropraxia dos Estados Unidos é “take charge of your health“. Tomar as rédeas da sua saúde requer primeiro ter acesso a informação.
Porque um paciente bem-informado é um paciente empoderado. E mais satisfeito também.