No dia 28 de outubro de 2011, estreava nos Estados Unidos o seriado Grimm. Tratava-se de uma espécie de Arquivos X dos contos de fadas. Interpretado por David Giuntoli, o protagonista é um policial civil que descobre descender de uma linhagem de “Grimms” — guardiões que combatem criaturas mitológicas, extraídas diretamente dos contos de fadas do mesmo nome. A série durou 6 temporadas, teve 123 episódios — e terminou em 2017.
Grimm obteve boa audiência na primeira temporada, com mais de seis milhões de telespectadores. Por isso, foi prontamente renovado para uma segunda e manteve sua audiência ao longo das outras temporadas. A crítica ficou dividida. Os episódios, na opinião deste escriba, são meio ridículos (opinião, claro, não compartilhada pelos filhos na época). Aparece todo tipo de criaturas: homens-castores, homens-ratos, homens-lobos, homens-cobras, anjos da morte e por aí vai. E o herói vai resolvendo mistério após mistério com a ajuda de seu colega policial, que cego não é, mas nada vê.
O seriado só não é uma completa perda de tempo por causa da participação do ator Silas Weir Mitchell, que interpreta Monroe — um “lobo mau” reformado (sim, é isso mesmo) que acaba se tornando uma espécie de enciclopédia ambulante e guru para o protagonista. Mitchell é um ator de olhos esbugalhados, que participou de alguns seriados, mas se destacou como um cristão reformado meio pirado no ótimo Meu Nome é Earl (2005 – 2009).
Monroe é um Wieder Blutbad (todas as criaturas têm nomes tirados do alemão arcaico). Adora sangue, mas é abstêmio. Tem obviamente uma queda pela cor vermelha (principalmente em menininhas que vestem um manto desta cor e carregam um cestinho de comida — soa familiar?). E é fanático por Pilates — a ponto de possuir um reformer em sua própria casa (aquele aparelho com molas que desliza). Alega que fazer Pilates relaxa-o, deixa-o mais zen e “com menos sede de sangue”.
Piadas à parte, esta peculiaridade do personagem reflete a febre mundial que é o Pilates atualmente. Ainda na época que Grimm foi lançado, a revista ÉPOCA (28/11/2011) noticiou estimar a existência de mais “de 8 milhões de alunos de pilates nos Estados Unidos, de acordo com os dados da Sporting Goods Manufacturers Association, entidade que reúne os maiores fabricantes de artigos esportivos”. Isso em 2011. Este número chegou a atingir 9,92 milhões em 2020, sofrendo um ligeiro declínio em 2021. De acordo com ÉPOCA, havia no Brasil “8 mil estúdios de pilates e, por ano, surgem mais de 200 novas casas”. Mas ainda em 2020, de acordo com Agência Senado, já tinha por aqui “mais de 85 mil estúdios de pilates e mais de 400 mil instrutores no país — (…) números (estes) colhidos com fabricantes de equipamentos de pilates”. É um crescimento exponencial supertativo, comparado com o dos Estados Unidos.
Dá para sentir esta proliferação aqui, no sul da Bahia. Todas as cidades de médio porte da região já têm. E até algumas de pequeno porte contam com estúdios de Pilates: Ipiaú (44.390 habitantes), Coaraci (20.964), Ubatã (25.004), Ubaitaba (20.333), Buerarema (14.804) e por aí vai. Algumas de boa procedência, outras nem tanto. O problema está no curso.
“As principais instituições que emitem certificados no Brasil são reconhecidos pela Pilates Method Alliance (PMA), aliança internacional do método, e exigem um mínimo de 450 horas de aula”. Nas terras tupiniquins, uma boa opção para formar bons instrutores de Pilates são os cursos ministrados, direta ou indiretamente, pelo fisioterapeuta americano Brent Anderson. O sujeito é fera: presidente e fundador da Polestar® Pilates, membro da PMA, e com doutorado em fisioterapia, seus cursos são bastante concorridos.
O pulo do gato da modalidade é “o fortalecimento da musculatura do abdome, que ele (o criador da técnica Joseph Pilates) chamava de power house (ou casa de força, na tradução do inglês). A definição dos músculos, principalmente do abdome, a melhora na postura e o aumento da flexibilidade são alguns dos benefícios propagados pelos praticantes”.
Um dos principais objetivos do Pilates é “exercitar a musculatura do core.” Em inglês, core significa “centro ou miolo”. Este termo é usado “na educação física (…) para definir um conjunto de oito grupos musculares, que se estendem da porção abaixo do peito até a base da coluna”. São eles: o oblíquo externo e interno; o reto abdominal; o transverso do abdome; os multífidos; o eretor da espinha; o diafragma; e o assoalho pélvico. Os seis primeiros perfazem uma “cinta” extremamente importante de proteção da coluna lombar. O último, a ser descrito com mais detalhes no próximo artigo, é uma estrutura de músculos, fáscias e ligamentos que oferece suporte aos órgãos pélvicos, que controla as excreções urinárias e fecais, e que tem um papel importante no desempenho e na função sexual. Para mais informações sobre Pilates, ver Artigo 90.
Criada em 2001, a PMA é a associação (sem fins lucrativos) que representa o Pilates nos Estados Unidos. Em 2005, começaram o programa de certificação, o National Pilates Certification Program (NPCP) — que, desde 2019, é o único programa de certificação de Pilates no país — acreditada pela NCCA (National Commission on Certifying Agencies) desde 2012. “Isto representa um grande passo para estabelecer estandardes na indústria do Pilates. Seguindo normas estabelecidas, o NPCP aplica uma avaliação construída psicometricamente e estabelece competência mínima no ensino do Pilates com a intenção de assegurar a segurança do público”. E já tem estudos que comprovam sua eficácia.
Estamos, por sinal, tentando fazer o mesmo aqui no Brasil e na América Latina com Quiropraxia. Mas não há notícias de tais movimentos em relação ao Pilates nas terras tupiniquins. Não com os números atuais.
De qualquer maneira, nem todos nós podemos ter um reformer em casa como o tal do Wieder Blutbad do seriado acima. Sem falar que Pilates não é bolinho. Pode machucar se não for feito corretamente. Por isso, é prudente procurar um profissional com formação sólida.