Foi-se o tempo em que o Brasil era considerado um país jovem. Outrora tínhamos uma robusta pirâmide demográfica em que nossa população era composta na sua maioria de jovens, um número menor de adultos e uma minoria na terceira idade. Pois é. Nossa pirâmide demográfica está prestes a se inverter e seguir a maioria dos países desenvolvidos. Considere o que diz o Censo 2022, produzido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE):
Envelhecer não é bolinho. Fisiologicamente falando, há diminuição da digestão e absorção de alimentos. Menor produção de ATP acarreta menor eficiência na produção de energia e diminuição de eficiência e flexibilidade metabólica (que é a capacidade de usar gorduras e carboidratos e mudar de substrato de acordo com a demanda). Há diminuição da autofagia e consequente diminuição da imunidade; aumento de dano oxidativo; aumento de processos inflamatórios; e diminuição de resiliência (capacidade de se adaptar a mudanças de ambiente).
Tudo isso, direta ou indiretamente, contribui para o desenvolvimento de mudanças histológias na coluna, como discopatias degenerativas e formação osteofítica — este último, não só nas vértebras, como também nas demais articulações do corpo.
Mas envelhecer também é uma arte. E a arte de envelhecer bem (principalmente com a coluna que tem) se pauta em 3 pilares:
Envelhecendo bem ou não, o fato é que haverá aumento neste segmento populacional. Nos Estados Unidos, por exemplo, “quase 20% da população terá 65 anos ou mais até 2030”. Sim, com a população envelhecendo gradativamente, a terceira idade requer uma atenção cada vez maior no nosso dia-a-dia clínico. E se esta tendência refletir no consultório de Quiropraxia, nos próximos anos o percentual de pacientes idosos deve aumentar sensivelmente — e é bom estarmos preparados.
Nossa profissão já é “um dos tipos de cuidados complementares e alternativos mais frequentemente utilizados por idosos” nas terras do Tio Sam. Aproximadamente 5% deste segmento populacional se trata com Quiropraxia — percentual este que deve seguir crescendo.
Não à toa o IDQUIRO tem oferecido cursos sobre o tema. Envelhecimento Saudável com Quiropraxia: Adaptando Condutas, Protocolos e Ajustamentos à Terceira Idade fala justamente sobre esta “tsunami grisalha” que está prestes a tomar o mundo.
No artigo Chiropractic and geriatrics: a review of the training, role, and scope of chiropractic in caring for aging patients (Quiropraxia e geriatria: uma revisão do treinamento, papel e escopo da Quiropraxia no cuidado de pacientes idosos), publicado na revista Clinics in Geriatric Medicine em maio de 2004 (ou seja, mais de 2 décadas atrás), a palestrante do curso acima, doutora Lisa Zaynab Killinger, DC, já fazia ponderações à isso:
“Quiropraxistas (pelo estilo de prática e filosofia holística) podem muito bem estar posicionados para desempenhar um papel importante na promoção da saúde, na prevenção de lesões e doenças, e em equipes de cuidados geriátricos.” (…) O atendimento é seguro, “de custo relativamente baixo , e a satisfação dos pacientes (…) muito alta. (…) Com a natureza prática do tratamento de Quiropraxia, estabelece-se uma forte relação médico-paciente, na qual recomendações de saúde e estilo de vida podem ser discutidas de forma confortável e eficaz.”
Algumas autarquias americanas como a Agência de Política e Pesquisa em Cuidados de Saúde (Agency for Health Care Policy and Research) e diretrizes para manejo de dor crônica de organizações como a Sociedade Geriátrica Americana (American Geriatric Society Panel Guidelines for the Management of Chronic Pain) “afirmam que intervenções não farmacológicas, como a Quiropraxia, podem ser apropriadas”. Mais do que isso, eles recomendam os ajustes de Quiropraxia (Manipulação Articular Vertebral – MAV) para o tratamento da dor lombar aguda de origem neuromusculoesquelética em pacientes idosos. Nossa profissão tem a vantagem de oferecer “diversas técnicas de menor intensidade (…) como alternativas seguras a medicamentos e cirurgia para queixas musculoesqueléticas” no pessoal da terceira idade.
Até porque as (outras) alternativas (que não são necessariamente alternativas) têm lá suas limitações. “A maioria dos profissionais de saúde geriátrica tem um número limitado de opções para oferecer aos pacientes com essas queixas.” A medicina tradicional é mestra para fazer o paciente resistir por mais tempo a doenças, mas claudica para proporcionar qualidade de vida propriamente dita. Até porque, mais cedo ou mais tarde, o aumento populacional de pessoas mais velhas irá acarretar em mais pacientes idosos que, por sua vez, sobrecarregará profundamente qualquer sistema de saúde. Com o tempo já curto para atender em hospitais, clínicas e postos de saúde, esta pressão pode impedir médicos e demais provedores alopáticos de dedicar tempo suficiente para discutir a promoção da saúde e a prevenção de doenças com seus pacientes. Aqui no Brasil, sendo a Quiropraxia primariamente um atendimento particular, não tende a ser “tão afetada por essas pressões extremas”. Além disso, promover saúde e prevenir doenças são investimentos que irão render dividendos a longo prazo. E quem melhor do que isso do que Quiropraxistas?
Profissionais formados por universidades reconhecidas costumam ser bem treinados em fazer anamneses, avaliação física detalhada, estudos radiográficos. São perfeitamente capazes de diagnosticar. E, pela natureza da profissão, a Quiropraxia é mestra por excelência na promoção da saúde e prevenção de doenças. Sim, Quiropraxistas “estão bem posicionados para fornecer muitos serviços de atenção primária à saúde a pacientes idosos”. Isso é particularmente importante em países que se esforçam “para fornecer cuidados de saúde geriátricos adequados em áreas rurais e áreas com escassez de profissionais de saúde” (ver Programa de Estágio e Aperfeiçoamento Profissional Clínica Itinerante do IDQUIRO). Como bem dito por Montes e Johnston no Journal of Health Education: “a formação, bem como a atualização contínua das competências dos educadores em saúde, deve incluir maneiras de lidar com as grandes disparidades em saúde entre as populações, especialmente as mais vulneráveis e carentes”.
Veja, por exemplo, o Healthy People 2020. Trata-se de uma iniciativa nacional de saúde, lançada em 2010 por outra autarquia americana, o Departamento de Saúde e Serviços Humanos (Department of Health and Human Services). O objetivo desta iniciativa é “melhorar a saúde de todos os americanos através de 4 objetivos abrangentes:
Devido à prevalência das condições discutidas acima e ao sucesso da Quiropraxia no tratamento dos pacientes idosos, equipes interdisciplinares de saúde geriátrica devem incluir Quiropraxistas no seu time. Até porque dor nas costas “é um problema musculoesquelético significativo entre pacientes idosos”. Este estudo afirma que “a prevalência de dor nas costas incapacitante e não incapacitante em adultos que vivem na comunidade é de 6% e 23%, respectivamente.”
Há dados que sugerem que a MAV “pode desempenhar um papel importante no tratamento de pacientes com dor na coluna e nas articulações periféricas e disfunção associada” — isso, claro, já sabíamos há muito tempo… Mas da perspectiva do público, Quiropraxia está mais intimamente associado à um tipo de MAV, que “tradicionalmente consiste em manobras de alta velocidade e baixa amplitude aplicadas manualmente às articulações da coluna e periféricas”. “Essas manobras movem as articulações do fim de suas amplitudes de movimento ativas e passivas para o espaço articular parafisiológico, mas não além de seu limite de integridade anatômica para fornecer um estímulo terapêutico ao complexo articular. Só que, com o paciente idoso, algumas manobras podem ser modificadas para oferecer um tratamento ao mesmo tempo conciso e seguro.
“Estudos observacionais e ensaios clínicos randomizados relataram melhora da dor na coluna (aguda, subaguda e crônica) entre idosos, utilizando não apenas a MAV, mas também técnicas de baixa força, como Sincronização Bioenergética e Flexão-Distração de Cox.
Importante frisar a variedade de técnicas usadas por Quiropraxistas, que podem “incluir níveis (diversos) de força biomecânica, variando de alta velocidade e baixa amplitude a baixa velocidade e baixa amplitude”. E lembrando também que essa variedade — no caso de tratar um idoso, por exemplo — “pode incluir manipulação assistida por instrumentos, uso de mesas especializadas, uso de cunhas acolchoadas (SOT) e muitas técnicas de baixa força.”
De acordo com o estudo Best Practices Recommendations for Chiropractic Care for Older Adults: Results of a Consensus Process (Recomendações das Melhores Práticas para o Tratamento de Quiropraxia em Idosos: Resultados de um Processo de Consenso) — realizado em 2010 e coescrito inclusive pela Dra Lisa Killinger, DC (olha ela aí de novo) — seriam essas as estratégias mais eficazes ao lidar com as diferentes necessidades impostas à idade:
Frise-se que, apesar de todas essas recomendações, e embora se presuma que a “alteração das técnicas” e “variação na aplicação de força” possam “desempenhar um papel importante” (…) “na prevenção de lesões associadas à” MAV em idosos, “há necessidade de mais pesquisas para determinar a abordagem mais apropriada para essa população. Estudos que compararam uma técnica de maior força com uma de menor força em pacientes da terceira idade “demonstraram resultados comparáveis com ambas as técnicas”. E, apesar de não ter feito “uma subanálise de dos efeitos nos idosos, o Relatório de Terapias Manuais do Reino Unido de 2010 relatou que a MAV” é, sim, eficaz em adultos para:
Enfim… Como dito no começo deste artigo, envelhecer não é bolinho. São constantemente necessários “melhorias contínuas na educação geriátrica e (…) aumento na pesquisa e publicação sobre tratamento de Quiropraxia pacientes idosos” (…). Com um “sistema de prestação de cuidados de saúde em constante mudança” (…) numa “sociedade que envelhece rapidamente”, Quiropraxistas (juntamente com todas as profissões da saúde) “devem se preparar para fornecer cuidados de saúde ideais a esse importante segmento da nossa sociedade, por meio da excelência na educação, treinamento e prática da Quiropraxia — as quais e alinham direitinho aos objetivos do Healthy People 2020:
Envelhecer bem com a coluna que tem não vale somente para a Quiropraxia, como também em outras atividades, procedimentos e métodos (“acupuntura, atividade física/exercícios (ver Artigo 40), aconselhamento nutricional”, reabilitação, RPG, ioga, Pilates (ver Artigos 90, 133, 156, 189), “prevenção de quedas”…) — mas com atenção especial nas profissões que promovem movimento, como educação física, fisioterapia, e, particularmente, a nossa.
Sim, “à medida que a população continua envelhecendo, haverá uma necessidade (cada vez) maior da profissão de Quiropraxia” (…) se familiarizar “com as evidências e o uso prudente de diferentes estratégias de tratamento” (…) “para (melhor) atender às necessidades dos idosos”. É bom estarmos preparados.