Durante a Copa do Mundo de 1994, o Brasil enfrentou a Holanda nas quartas de final. Este “foi considerado por muitos o melhor jogo da Copa.” Depois do empate holandês, Branco fez o gol da vitória, cobrando uma “falta potente (…), que contou com uma esquiva primordial do Baixinho.” Anos depois, Branco falou em tom de brincadeira que Romário “não seria senador hoje, com certeza (se (…) tivesse desviado)”. Naquela época, Branco tinha voltado a jogar após ter se recuperado de uma contusão. “(…) meu nervo ciático estava inflamado (mas) estava pronto. Graças a Deus fui premiado: primeiro, em voltar a jogar; segundo, por fazer um gol decisivo.”

Dor ciática…. Sempre ela… Muitas vezes a dita-cuja aparece sem motivo aparente… Só quem já sofreu sabe o que é.

Frequentemente “interpretada como doença, a dor no nervo ciático — aquela que se inicia na região lombar, passa pelas nádegas e vai até a parte mais baixa de uma ou das duas pernas — é na verdade um sintoma de outro problema.” Cerca de 90% das ciatalgias, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), é causada pela famigerada hérnia de disco. É um contingente de quase cinco milhões de pessoas.

Há controvérsias, porém. De acordo com estudos mais recentes, “a prevalência estimada de hérnia discal sintomática da coluna lombar está em cerca de 1-3% de los pacientes” e que transtornos discais “é a etiologia subjacente em menos de 5% dos pacientes com dores nas costas”,

Claro que nem toda dor na perna significa necessariamente que seja ciática. O ciático (ver Artigo 68) é o maior e de longe o mais famoso — mas ainda assim é também somente um dos vários nervos que desce para nossos membros inferiores. Para o paciente, no entanto, condicionou-se associar a palavra “ciática” com dor na perna. E quase todos entendem que sua origem reside na coluna lombar. Por isso, médicos tendem a generalizar.

Por incrível que pareça, a humanidade levou um tempinho para entender que ciática “não era uma dor lombar comum e, sim, um problema no maior nervo do corpo humano (…). E isso só foi acontecer a partir de 1934. Mas isso já é tópico para outro artigo…

Além da dor no nervo ciático, acompanhada de dormência e fraqueza que correm para as pernas e dedos, o paciente pode apresentar ainda sintomas como formigamento e dor na região do quadril”, alerta o neurocirurgião especialista em coluna Alexandre Elias, chefe do setor de cirurgia da coluna vertebral na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Hipócrates, nosso Pai da Medicina via algo de positivo nesta sintomatologia. Para ele, as dores ciáticas “revelavam um bom prognóstico para uma condição que incomoda e limita os movimentos por até 40 dias“. Ou seja, tende a passar. O problema é que até chegar lá; o processo pode ser de dor excruciante.

Sim, doi como quê. Há vários relatos de mulheres que preferem parir a sentir uma ciatalgia violenta. Mas (de acordo com esta reportagem da UOL) os sintomas mais comuns são:

  • Uma “sensação dolorosa como um ‘músculo machucado’ ou ‘pontadas’ que podem ter se manifestado após uma prática física mais intensa (longa caminhada), ou mesmo após a permanência na posição sentada por longo período;

  • Sensação de formigamento (parestesia) na panturrilha, perna e pé (tanto no dorso quanto na planta), a depender de qual raiz do nervo está comprimida);

  • Redução de sensibilidade (adormecimento ou levemente anestesiado);

  • Dor ao flexionar o joelho para trás;

  • Dor ao dobrar a coluna;

  • Dor ao caminhar;

  • Dor ao tossir;

  • Perda de força na perna (nos casos mais graves).”

Contudo, nem toda a dor ciática origina-se de uma hérnia de disco. Os outros 10% compreendem causas como “atividades físicas pesadas, posturas erradas, tumores e fraturas na coluna”, além de contratura muscular excessiva (frise-se que há controvérsias nesta estatística). E, claro, há também fatores não neurogênicos, como, por exemplo, problemas de circulação.

A boa e velha carteira de dinheiro pode ser um grande vilão. “Muitos homens têm o costume de levar a carteira no bolso de trás da calça, sempre do mesmo lado, e não a tiram de lá quando sentam no carro, nem quando chegam ao trabalho. Acabam passando várias horas do dia com um desequilíbrio na postura em função da carteira no bolso. Anos depois, começam a aparecer as dores e a pessoa nem imagina o motivo,” diz Rogério Sawaia, ortopedista do Hospital Samaritano de São Paulo.

Aos 18 anos de idade, este que vos escreve teve uma dor lombar que Quiropraxista nenhum conseguia resolver. Até que um dia um dos profissionais notou um desgaste no bolso traseiro da calça jeans. Deixar de usar carteira no bolso de trás, especialmente num período que se passa grande parte do tempo sentado estudando, foi um grande diferencial para segurar o ajustamento, estabilizar a coluna e finalmente sanar a dor. Funciona.

Também “exercícios físicos intensos praticados por atletas ‘de fim de semana’; o vício de manter a coluna com postura errada”; o hábito da infância de carregar pesadas mochilas nas costas; tudo isso pode prejudicar “a coluna ao longo do tempo e também levar à dor no nervo ciático”.

Hérnia de disco caracteriza-se primeiro pelo desgaste (até certo ponto) natural, Mas, em alguns casos, por “trauma dos discos vertebrais lombares ou cervicais que (pressionam) as raízes nervosas mais próximas, provocando a dor. Nem atletas profissionais estão livres deste suplício. Com o passar do tempo, o problema chega a interferir na qualidade de vida, até mesmo limitando atividades rotineiras”.

Atleta por atleta, alguns anos depois de Branco, chegou a vez do Baixinho. Ainda quando deputado federal, Romário foi internado no final de agosto de 2013 no hospital Sarah Kubitschek em Brasília “após sofrer uma forte crise de dores na região lombar. (De acordo com sua assessoria da época), ele já planejava sofrer uma cirurgia para tratar do problema de hérnia de disco, mas resolveu antecipar o procedimento em decorrência do agravamento do desconforto. (…) três semanas (antes), o ex-jogador (havia sido) submetido a uma cirurgia no pé”. Mancando ou de muletas pelo procedimento cirúrgico e sentado por horas no plenário da Câmara deve ter contribuído para o agravamento do quadro.

Não aguento mais. Vou ser operado”, disse na época o tetracampeão ao jornal Extra. “É no disco L4-5. Já fiz todos os tratamentos possíveis. Não consigo andar três metros. (…) É um procedimento relativamente simples, espero sair do hospital andando”, espera.

Parece que deu tudo certo. “Romário de Souza Faria foi submetido na manhã de hoje a microcirurgia para tratamento de hérnia de disco lombar. A cirurgia transcorreu sem intercorrências e alcançou os seus objetivos. Romário está em recuperação pós-operatória no quarto e seguirá em reabilitação física, (…),” afirmou em comunicado a diretoria da Rede Sarah de Hospitais.

Mas a idade chega para todos e o tempo não para. O deputado federal eventualmente se tornou senador. “Em 2016, passou por um procedimento de redução de estômago para controlar a diabetes, o que resultou em uma perda de peso de 15 quilos.” Removeu a vesícula em 2021. E passou um período internado em 2023 com “quadro de infecção intestinal“.

Até onde sabemos, o senador tetracampeão do mundo não parece ter tido reincidência das dores lombares. Mas havia Romário tentado fazer algum tratamento alternativo? Sessões de Quiropraxia, R.P.G., acupuntura ou Pilates poderiam ter feito maravilhas. Com tratamento adequado, e eliminando o agravante, estas questões relacionadas à hérnia tendem a se resolver sem ter a necessidade de cortar. Até porque muitas vezes nem sequer é ela a causa.

“A técnica para remoção de hérnia é realizada apenas em 5 a 10% dos pacientes”, avisa Roger Brock, neurologista do Hospital Sírio Libanês de São Paulo. A cirurgia, portanto, é exceção — e não a regra.

Aliás, alguém checou se o Baixinho andava usando carteira no bolso de trás?