Os quarentões/quarentonas e cinquentões/cinquentonas de plantão conhecem muito bem Phil Collins. Na década de 80 e 90 só dava ele.

Cantor, compositor, multi-instrumentista e produtor musical britânico, Collins foi alçado a fama com apenas 19 anos ao se tornar baterista da banda de rock progressivo Gênesis em 1970. Assumiu o lado cantor quando o vocalista Peter Gabriel saiu do conjunto em 1975 — mas nunca deixou de lado a bateria. Apesar do estrondoso successo e da venda de mais de 130 milhões de disco, Phil Collins, mais do que cantor, se identificava como baterista primeiro e principalmente. “Eu não sou um cantor que toca um pouco de bateria. Estou mais para um baterista que canta um pouco”, costumava dizer.

Em 1981 lançou uma extremamente bem-sucedida carreira-solo, com hits como  “In the Air Tonight“, “One More Night“, “Sussudio“, “Another Day in Paradise“, “I Wish It Would Rain Down“, “Against All Odds (Take a Look at Me Now)“, Two Hearts — entre muitos outros sucessos.

Recebeu indicações ao Oscar™ por estas duas últimas canções. Levou a cobiçada estatueta dourada de Melhor Canção Original em 1999 por “You’ll Be in My Heart“.

Phil Collins nunca havia deixado Gênesis de fato. A banda se reunia esporadicamente. E com isso, acabou tocando bateria por mais de 50 anos — que, ressalte-se, era sua grande paixão. Mas aparentemente a posição que seu pescoço ficava enquanto tocava foi cobrando seu preço. “A posição da bateria exigia que Phil se inclinasse para frente. Sem isso, não conseguiria tocar.” De acordo com o próprio, suas vértebras vinham “esmagando” sua medula espinhal.

O dilema é que isso levou o veterano a erros de postura. Não seria algo grave se acontecesse só uma vez ou outra, mas ele passou décadas dessa forma. Como resultado, o artista lida com uma dor crônica no pescoço.

O processo degenerativo foi lento e gradual — talvez (ou não) até tenha sido relativamente assintomático.

Isso até a turnê “Turn It On Again” do Genesis em 2007 pela Europa e América do Norte —- “a primeira (…) do grupo em quase uma década”. Ao final de cada apresentação, Phil Collins “enfrentaria o baterista da banda, Chester Thompson”, (…) num “duelo de baterias”.

Pois bem. Durante um desses duelos, uma bela noite, o cantor sentiu “seu pescoço torcer”. O cantor relata que “algo aconteceu. Simplesmente aconteceu.” O simple segurar das baquetas causavam dores lancinantes. “Isso vem de anos tocando. (…) eu até costumava colar as baquetas nas mãos para passar.”

Phil Collins passou por uma cirurgia cervical em 2009 “para ajudar a curar uma vértebra deslocada em sua coluna”. Não deu certo. As dores ao segurar as baquetas se tornaram piores ainda. Após esta cirurgia e outra em 2016, ocorreu “danos nos nervos, (que) o deixou ‘mais imóvel’ do que nunca”, de acordo com seu companheiro de banda Mike Rutheford.

Existe uma aura de mistério envolvendo a lesão do cantor. Ele mesmo já aventou a possibilidade das injeções de corticóide que tomava frequentemente para aliviar o estresse nas suas cordas vocais ter um papel decisivo no rápido declínio da sua estrutura óssea — que incluem as vértebras cervicais (ver estudo). De fato, “a ressonância magnética que revelou que as vértebras de seu pescoço estavam desmoronando” e isso tem o quê de anormalidade e pode explicar seu rápido declínio.

Não houve cirurgia que desse jeito. Inclusive a segunda operação “para ajudar a aliviar a dor nas costas em 2016 significou que ele sofreria de ‘pé caído‘, onde danos nos nervos significavam que ele agora arrastava o pé ao caminhar, apesar de ser auxiliado por uma bengala.” Foram nada menos que 8 parafusos naquela fatídica cirurgia.

O mundo ficou chocado quando o viu numa apresentação em 26 de março de 2022 — ocasião em que a banda Gênesis “finalmente encerrou sua carreira em apresentações ao vivo com um show final na O2 Arena de Londres. Depois de anos de sofrimento, Collins não conseguia enfrentar os rigores de uma agenda de turnê mundial (…)”. Apareceu de bengala, abatido, envelhecido e caminhando com dificuldade. Teve “que se apresentar sentado em uma cadeira”. A lesão da coluna de Phil Collins afetou sua saúde a tal ponto que ele teve que se aposentar completamente de tocar bateria ao vivo.” Até cantar hoje em dia é uma dúvida. Uma grande perda.

E isso, compreensivelmente, levou Phil Collins a um estado de depressão. Agravado por um alcoolismo crônico, diabetes tipo II (ver Artigo 74), várias quedas, fraturas e lesões, este grande cantor ficou realmente baqueado. E “anda tão debilitado que sequer tem vontade de voltar a atuar musicalmente. ‘Eu continuo achando que deveria ir até o estúdio e ver o que acontece. Mas não estou mais com vontade. A questão é que tenho estado doente. Quero dizer, muito doente (…). Ainda estou meio que afundando um pouco’ (…), declarou ele à revista inglesa Mojo“.

Isso me remete a um trágico caso ocorrido há uns anos antes, como discutido no Artigo 152: “um paciente de 60 anos (com aparência de 40, diga-se) que sofria de dores neuropáticas no pescoço e nos braços. De acordo com ele, as dores tiveram início durante o saque num jogo de vôlei (outra estatística improvável). Ele aparecia de vez em quando, sempre com dor. Nada passava. Fazia todo tipo de tratamento e nada. Mas excetuando-se a dor, era um cara atlético e saudável. No desespero, (contra minha recomendação, porque não havia nada no pescoço que justificasse), resolveu fazer uma cirurgia. Morreu na sala de operação.”

A diferença entre Phil Collins e este paciente é que a coluna do último era relativamente saudável — que, ao contrário do cantor, em que Quiropraxia seria provavelmente contraindicada pela fragilidade óssea causada por anos de uso de corticóides, conseguíamos com ajustamentos estabilizar o quadro álgico e evitar que piorasse, pelo menos. Mesmo assim, o desespero e a impaciência falaram mais alto e deu no que deu.

Mas com Phil Collins, o problema parece ser bem mais sério. E significou o fim da sua qualidade de vida. Faz pena uma carreira tão brilhante aparentemente ter terminado de uma maneira tão melancólica.