No fringir dos ovos, pode-se dizer que todos os problemas de coluna originam-se da falta de mobilidade com eventual perda da função articular e fisiológica de um ou mais segmentos vertebrais. Todos. Até os casos traumáticos e congênitos vão efetivamente dar problemas se houver fixação envolvida.

A palavra-chave é adaptabilidade. A coluna vertebral tem o potencial de mudar para proteger seu bem mais precioso: a medula espinhal. É inteiramente plausível que os vícios posturais adquiridos ao longo de uma vida travem algumas vértebras. Essa perda de fisiologia articular é o que dá origem aos problemas e compromete a adaptabilidade.

Este dito “travamento” é a síntese do Complexo de Subluxação Vertebral com seus cinco componentes:

  • A cinesiopatologia — que é a perda do posicionamento e movimento vertebral normal em relação à vértebra adjacente (troque a palavra “vértebra” por “articulação” e teremos aqui um universo expandido);

  • A miopatologia — mudanças patológicas que ocorrem na musculatura da coluna (hipertonicidade, espasmo, fibrose, fraqueza e funcionamento impróprio ou inapropriado);

  • neuropatologia — dano / irritação das raízes nervosas por algum tipo de compressão (pinçamento?), distensão, ou irritação química proveniente das estruturas adjacentes;

  • A histopatologia — mudanças patológicas no tecido vertebral, assim como osteófitos (bicos-de-papagaio), fibroses e adesões da musculatura e ligamentos da coluna, bem como desidratação e degeneração dos discos intervertebrais.

  • Com o quinto elemento, a patofisiologia, este ciclo se completa. Além de ser um apanhado dos primeiros quatro, inclue-se também mudanças biomecânicas sofridas pela coluna que incluem agentes bioquímicos, como substância P, calcitonina e peptídeo intestinal vasoativo, que produzem inflamação e lixo metabólico.

A Quiropraxia, que literalmente significa “tratamento com as mãos”, se propõe a corrigir o Complexo de Subluxação Vertebral e restaurar a função adaptativa da coluna.

Sendo um procedimento natural, não-invasivo, custo-eficiente e livre de riscos (para quem sabe fazer), a Quiropraxia, não por acaso, tornou-se ponto de referência para tratamento de coluna mundialmente, sobretudo nos Estados Unidos. Potencializam-se os resultados se o paciente for tratado concomitantemente com Pilates (ver Artigo 90), fisioterapia reabilitativa, natação, hidroginástica, acupuntura (ver Artigo 145), ou R.P.G. (ver Artigo 133).

Há desafios, claro. Dores crônicas podem complicar a equação. O componente emocional também pode atrapalhar. Ansiedade, depressão e estresse não convergem muito bem com um tratamento de coluna.

Então, o que fazer quando o paciente simplesmente não melhora? O que fazer quando o tratamento convencional e o não-convencional não dão resultados? Indicar cirurgia? Hoje em dia, os próprios médicos relutam em fazê-la. A reincidência nos três primeiros anos é de quase 85%.

Procedimentos cirúrgicos minimamente invasivos podem ser uma solução para casos mais difíceis:

  • A cirurgia endoscópica percutânea usa a videolaparoscopia para atingir a área afetada. Por uma incisão de menos de um centímetro na região lombar, insere-se uma cânula e injeta-se uma solução de soro e antibióticos. A anestesia é local, a taxa de infecção pós-operatória é minúscula e o paciente pode ter alta no mesmo dia.

  • Com a Nucleoplastia ou Descompressão Discal Plasma (PDD®), insere-se uma agulha no disco. Aplica-se então “uma injeção esteroide epidural. Um dispositivo de plasma patenteado é introduzido então através da agulha no centro do disco onde o tecido adicional é removido”. Reduz-se a pressão do disco e, em tese, alivia-se a dor.

    A VEJA publicou uma matéria alguns anos atrás sobre uma técnica que consiste em enfiar uma espécie de agulha finíssima no disco. Ao ser aquecida, ocorre um fenômeno físico que retrai o núcleo pulposo com consequente diminuição da hérnia de disco (mas só funciona se a mesma se for pequena e não-extrusa).

  • A Rizotomia Facetária por Radiofreqüência (conhecida por Denervação ou Neurotomia Facetária) é um procedimento percutâneo que concentra sua atuação nas facetas articulares. Estas aí podem causar dores terríveis na coluna. “Cada faceta é inervada por ramos de duas raízes espinhais, e cada raiz participa da inervação de duas facetas articulares”. O ramo posterior (recorrente primário) supre a inervação sensorial da faceta. Parte dele é seccionada pelo procedimento. As sensações proprioceptivas e táteis e são mantidas intactas — e melhorariam as dores, em tese.

A questão aqui é que estes procedimentos não tratam a causa do problemas, e sim os seus efeitos. A hipomobilidade continua, e, com ela, a possibilidade real de reincidências. Em suma: se permanece o Complexo de Subluxação Vertebral, pode haver alívio (e resolução) a longo prazo?