Assim se Entorta A Humanidade é o nome de um belo artigo publicado alguns anos atrás na revista SUPERINTERESSANTE (número 06, ano IV). Nele, estabelecia-se um elo entre evolução humana e dores de coluna. E isto vem acontecendo desde os primórdios.

“Entre oito e cinco milhões de anos atrás, um suposto ancestral comum do homem e do chimpanzé vivia de quatro. Sua coluna era um tubo rígido, que não sustentava o corpo — servia apenas de elo entre os membros superiores e inferiores. Há quatro milhões de anos, porém, ele libertou as patas dianteiras do chão. Tornava-se o Australopithecus afarensis. (…) Este hominídeo mal sabia caminhar direito só com os membros inferiores — andava com os pés para fora. Já faz 1,5 milhão de anos que as vértebras deram uma nova empinada, estufando o peito. Desse jeito, conseguiram erguer completamente o tronco. Surgia o Homo erectus. O homem ficou de pé. Em 1995, 80% da população mundial têm dor nas costas. Nesses mais de 1 milhão de anos, o ser humano ainda não se adaptou a ser bípede. Ele até agüenta essa postura por duas ou três décadas. Depois dos 30, a situação pode se tornar cada vez mais insuportável”.

Vale a penar ressaltar que a expectativa de vida na pré-história era de mais ou menos 30 anos. Ou seja, a coluna simplesmente não tinha tempo suficiente para começar a doer. Parafraseando um certo presidente, nunca antes na história humana se viveu tanto tempo. A expectativa de vida hoje em dia aqui no Brasil bate na casa dos 76 anos.

Não são poucos os problemas de coluna que têm a ver, direta ou indiretamente, com os desgastes (até certo ponto) naturais dos discos intervertebrais. Possuímos 24 vértebras — 7 no pescoço, 12 no meio das costas e 5 lombares. É necessário que exista, portanto, algum sistema de “amortecimento de choque” entre uma vértebra e outra. E para isso, contamos com 23 discos intervertebrais. Feitos de colágeno, são fortes e resilientes. Deformam-se com facilidade, mas têm o potencial de recuperar sua forma rapidamente.

Por exemplo, é público e notório que a gente DIMINUI de altura gradativamente no decorrer do dia. Isto porque, sob os efeitos da gravidade, o disco sofre uma pressão contínua. Como resultado, e por pura osmose, ele perde água e diminui de tamanho.  Durante o sono, e sem os efeitos da gravidade, o disco recupera sua altura original e o processo recomeça outra vez.

Fenômeno este, claro, que ocorre milimetricamente.

Bem, isto é o que DEVERIA acontecer, pelo menos. Infelizmente, há fatores que impedem nossos discos intervertebrais de se recuperarem. Tensão muscular, por exemplo, pode inibir a expansão do disco durante o sono. E, se sofrer carga excessiva prolongada, pode ficar desidratado, e dar origem à discopatia degenerativa — que é a precursora da famigerada hérnia de disco. Em suma, qualquer carga exercida no disco aumenta sua pressão interna. Portanto, temos que procurar preservar da melhor maneira possível nossa PRESSÃO INTRADISCAL.

Analizemos o seguinte gráfico, caros leitores:

  • Notem que o ato de sentar, mesmo ereto, aumenta em quase 50% a pressão intradiscal em comparação a ficar em pé.

  • Arquear o corpo para a frente também aumenta este tipo de pressão.

  • Se adicionarmos algum tipo de peso, a pressão intradiscal salta para mais de 100%.

  • Sentar-se arqueado, então, e ainda por cima com peso, aumenta a pressão intradiscal em absurdos 175%!!!

    Não é coincidência que a maior parte dos problemas de coluna ocorre justamente em posições arqueadas.

  • Notem também que a posição deitada de barriga para cima exerce a menor pressão sobre o disco.

    E, se houver um travesseiro debaixo do joelho, a pressão é menor ainda. (Ver artigo 59)

Este pequeno gráfico pode nos ensinar muito sobre prevenção de problemas de coluna. Mas não é suficiente. Temos que alongar músculos encurtados e fortalecer nossa musculatura abdominal. A resultante pressão intraabdominal ajudará a neutralizar a pressão intradiscal.

Aumentar o prazo de validade de nossa coluna vertebral é o que interessa. E resto, não tem pressa?