Então. A priori, a situação não teria jeito. Se o ser humano começa a perder massa muscular a partir dos 30 anos, a sarcopenia resultante seria inevitável. Durante o envelhecimento, a perda de massa e força muscular parecem ocorrer com mais frequência na musculatura do bíceps, tríceps e quadríceps). “Cerca de um terço da massa muscular perde-se com a idade avançada, começando a partir dos 40 anos com queda de 0,5% ao ano e aumentando até cerca de 1% ao ano a partir dos 65 anos de idade.” É essa perda de massa que efetivamente reduz a força muscular.
Porém, o assunto adquirire contornos de complexidade para a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG). De acordo com ela, “sarcopenia é uma doença caracterizada pela acelerada perda de massa e força muscular com redução do desempenho físico nos indivíduos”. Fica estabelecido então que sarcopenia é considerada doença e não consequência natural da idade. O Consenso Europeu vai mais além: em 2010 e depois em 2018, a definiu como “condição patológica musculoesquelética progressiva e generalizada, associada com risco aumentado de efeitos adversos incluindo quedas, fraturas, deficiência motora e morte.” Mais do que um simples processo natural que ocorre com o tempo, a sarcopenia já adquire contornos mais sérios.
A etimologia da palavra deriva do grego Σάρξ (carne) e πενία (pobreza, deficiência).
Este que vos escreve nunca havia ouvido falar do termo até poucos anos atrás. Não se recorda da palavra sequer ter sido mencionada nem mesmo na época da faculdade, há 3 décadas. Claro que, com o gradual envelhecimento da população, sarcopenia tem passado cada vez mais a fazer parte do nosso presente vocabulário. Afinal de contas, de acordo com levantamentos do IBGE, “em 1980, o Brasil tinha 6,1% da população com 60 anos ou mais de idade. Já em 2022, esse grupo etário representou 15,8% da população total e um crescimento de 46,6% em relação ao Censo Demográfico 2010, quando representava 10,8% da população”. Pensem bem: o percentual mais do que dobrou em pouco mais de 4 décadas. E hoje conta com um contingente de mais de 32 milhões de pessoas só no Brasil, como revelou o Censo Demográfico de 2022. E isto reflete nos consultórios de Quiropraxia. Porque a tendência estatisticamente lógica é que vejamos cada vez mais pacientes idosos.
Não à toa, foi justamente pensando no constante aumento desta faixa etária que o IDQUIRO tem oferecido em duas ocasiões o curso Envelhecimento Saudável com Quiropraxia: Adaptando Condutas, Protocolos e Ajustamentos à Terceira Idade. A palestrante, Lisa Killinger, D.C., é uma das grandes autoridades mundiais em geriatria. Vale a pena conferir. E também há planos de oferecer eventualmente um curso de imagenologia sobre sarcopenia.
O “tsunami populacional grisalho” tem sido, sem dúvida, a razão do aumento dos estudos sobre sarcopenia nos últimos anos. “Este fato é evidente tanto pelo número crescente de publicações sobre o tema como pelo surgimento de periódicos quase exclusivamente focados no estudo das doenças de consumo muscular (ex: Journal of Cachexia, Sarcopenia and Muscle). O envelhecimento da população e consequente aumento na incidência de fragilidade e de doenças crônicas tem levado a um importante crescimento no número de pacientes sarcopênicos em nosso meio, com consequências importantes para a sociedade como um todo”.
A “diminuição global e progressiva da massa e força muscular” compromente a funcionalidade do idoso. Fica mais difícil realizar atividades simples e rotineiras, como subir escadas, levantar da cama ou até caminhar. “Os mecanismos envolvidos na sua etiologia e progressão são múltiplos, incluindo alterações na síntese de proteínas, proteólise, diminuição da função neuromuscular, inflamação, estresse oxidativo, alterações hormonais e anormalidades metabólicas e nutricionais. Além disso, fatores de risco, tais como sexo, hábitos de vida, comorbidades e fatores genéticos também podem predispor ao aparecimento da sarcopenia.1 – 3 O declínio do sistema muscular cursa com modificações na composição da fibra muscular, com diminuição da inervação, da vascularização, da contratilidade e comprometimento das unidades tendíneas. Há ainda alterações importantes no metabolismo da glicose.2 , 3 No indivíduo idoso, tais perdas podem refletir em fragilidade e sinais de fadiga generalizada1“.
Não muito tempo atrás foi realizado uma metanálise “que incluiu 35 estudos e 58.404 pacientes” e foi estimado por ela que a sarcopenia estava presente “em aproximadamente 10%, tanto em homens quanto mulheres”. Ainda assim, apesar de ser cada vez mais mencionada, sarcopenia continua sendo uma doença pouco conhecida e diagnosticada no Brasil. E por isso, é importante para um Quiropraxista mais antenado reconhecer alguns sinais e sintomas:
“A sarcopenia pode ser dividida em primária ou secundária de acordo com as bases fisiopatológicas identificadas. O Consenso Europeu define como sarcopenia primária quando não são identificadas outras causas ou fatores de risco, quando passa a ser considerada secundária.” Considera-se, portanto, a perda de massa muscular relacionada ao envelhecimento como sarcopenia primária. Já a secundária, depende de:
Sobre estes últimos, concluímos então que a sarcopenia pode não estar somente confinada ao processo de envelhecimento. Apesar de observarmos um aumento significativo de atividades físicas em todas as faixas etárias nas últimas décadas, paradoxalmente tem aparecido muitos jovens também sofrendo com músculos enfraquecidos por aí. “Remédios para emagrecer e dietas milagrosas são algumas das causas.”
Uma vez estabelecido a suspeita clínica, é necessário então confirmar a suspeita diagnóstica. O primeiro passo, recomendado pelos Consenso Europeu, é aplicar um simples formulário: o SARC-F. “O questionário é de fácil aplicação e consiste em perguntas sobre a vida diária, tais como dificuldade em carregar objetos minimamente pesados, necessidade de assistência para locomoção e troca de decúbito, bem como número de quedas no último ano. Os valores variam de 0 a 10, onde 0 significa ausência de sintomas e 10 paciente extremamente sintomático. Os autores encontraram risco aumentado de redução da força muscular em testes padronizados (velocidade de marcha, força de preensão palmar, entre outros) em pacientes com escore acima de 3, recomendando que estes pacientes sejam considerados casos positivos e sejam submetidos a avaliação formal.”
Há formas de mensurar a massa muscular esquelética. Avaliação da creatinina e potássio séricos e medidas antropométricas simples já não são mais consideradas opções válidas. Hoje em dia, “são clinicamente indicadas as medidas da massa muscular apendicular avaliadas por:
Pois é. Estamos diante de uma doença que vai ser cada vez mais prevalente na nossa clínica. E que ainda não conquistou a devida atenção — apesar dos aumentos de estudos na área. Melhor mesmo é investir na prevenção:
Melhor prevenir do que tentar remediar depois. Sarcopenia é coisa séria e não tardará a fazer parte do vocábulo popular. Precisamos, como profissionais, estar preparados para lidar com ela.