Se os diletos leitores forem acometidos por um senso de déjà-vu, é porque este filme a gente já viu (Artigo 92). Sim, entra ano, sai ano e permanece o peso excessivo das mochilas escolares — que continua sendo um problema crônico.

E se considerarmos a “assustadora estatística levantada pela Organização Mundial da Saúde” que diz “que 85% da população mundial adulta sente ou já sentiu dores nas costas e 70% dos problemas de coluna na fase adulta tem como causa o efeito cumulativo do excesso de peso e esforço repetitivo na adolescência” e as posturas inadequadas, o problema adquire contornos pandêmicos.

Com isto em mente, a SBOT (Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia) “faz um alerta nessa volta às aulas: uma mochila que pese mais de 10% do peso da criança pode causar problemas não só na infância, mas repercutir na vida adulta quando a coluna vertebral passará a apresentar os efeitos do esforço anormal a que foi submetida”. No Artigo 92 mostramos estudos que comprovam isto.

Além do folder mostrado abaixo (que discutimos extensamente naquele artigo), a instituição elaborou outro informativo com algumas “medidas simples, mas efetivas podem evitar os problemas com mochilas”:

  • “A primeira recomendação é optar por mochilas com alças largas, de no mínimo 4 centímetros;

  • Orientar a criança para nunca carregar a mochila por uma única alça, o que pode provocar escoliose;

  • Ajustar as alças para que a mochila fique bem encostada ao corpo, com a base cinco centímetros acima da linha da cintura”;

  • E, “caso não seja possível adequar o peso da mochila, a opção é a mochila de rodinhas, que é puxada e não carregada”.

“O problema é tão sério que (tramita no) Congresso (…) o projeto 3.673/15 da Câmara dos Deputados, cujo objetivo é limitar por lei o peso que uma criança pode carregar nas costas. Durante a discussão na Câmara Federal, foi citado o fato de que o estudante universitário, cujo organismo já está formado, proporcionalmente leva para a Faculdade menos livros e material que o estudante de Ensino Fundamental. O tema é tão importante que na França, por exemplo, os livros didáticos são impressos em papel de baixa gramatura, para reduzir seu peso.”

Uma solução seria a implantação de armários escolares. Mas as instituições de ensino não se entusiasmam muito em construir o que seria um alento para a coluna do estudante. Até hoje na região onde vivo, só tive notícia de uma escola que se propôs a disponibilizar estes armários: o SESI, onde, não por acaso, estudou meu filho caçula.

Pois considere um aluno de 7 anos que pesa em torno de 20 quilos. Seria uma carga equivalente ao da obesidade carregar uma mochila pesada. Além disso, o centro de gravidade muda. “(…) leva a criança a se inclinar para a frente pois faz mudar o ponto de equilíbrio do corpo”, diz o responsável pelas Campanhas Públicas da SBOT, Sandro da Silva Reginaldo. Essa mudança afeta não só a coluna como outras articulações, como ombros, quadris, joelhos e tornozelos.

Tristemente, o assunto ainda continua relevante. E o problema, crônico.

Pensando nisto, a PROTESTE (“uma entidade civil sem fins lucrativos, apartidária, independente de governos e empresas, que atua na defesa e no fortalecimento dos direitos dos consumidores brasileiros”) e a SBOT uniram forças alguns anos atrás para publicar um panfleto muito bem elaborado e assim tentar conscientizar a escola, os pais, os professores e os alunos.

Cedemos assim o resto deste espaço para publicação na íntegra. Que este ano a volta às aulas seja feliz, com uma mochila adequada e uma coluna tranquila.