Gostem dele ou não, o escritor americano Stephen King tem sido um dos autores mais influentes da literatura de terror, suspense e ficção científica dos últimos 50 anos.

O homem é muito prolífico. Publicou cerca de 60 obras, sejam elas contos, novelas ou livros. Todas venderam muito bem. King faturou alto também com a venda dos direitos autorais para o cinema. Alguns de seus enredos renderam excelentes filmes, como O Iluminado (The Shining, 1980), Carrie, a Estranha (1976), Conta Comigo (Stand By Me, 1986), Um Sonho de Liberdade (The Shawshank Redemption, 1994), O Aprendiz (Apt Pupil, 1998) e À Espera de um Milagre (The Green Mile, 1999). Mas também muitas das suas adaptações se tornaram filmes sofríveis.

De qualquer maneira, o Mestre do Terror anunciou sua suposta aposentadoria em 2002. Alegou na época que não aguentava passar muito tempo sentado. A dor o impedia de escrever. Foi uma sequela de um atropelamento que sofreu em 1999. Seguindo a esteira de seus livros, este infortúnio foi seguido de estranhos eventos.

No dia 16 de junho de 1999, Stephen King saía de sua residência para dar sua costumeira caminhada. Tinha também o hábito de andar no acostamento oposto para ficar de olho nos veículos — afinal de contas, não queria ser atropelado. Às quatro e meia da tarde, passava numa van um sujeito chamado Bryan Smith. Dono de várias infrações anteriores de trânsito, e distraído com seu cachorro dentro do carro, não viu o pedestre no acostamento que tentava desviar-se dele. O carro atingiu King em cheio. Só não foi pior porque não foi de surpresa. O escritor voou quatro metros e estatelou-se no asfalto.

Stephen King sofreu fraturas múltiplas na perna direita, no quadril e em várias costelas (algumas perfuraram seu pulmão), além de uma laceração na cabeça. Sua saúde só foi restaurada em parte após várias operações e mais de um ano de reabilitação.

Dizem que ele comprou o carro que o atropelou. E assim que se sentiu melhor, pegou um bastão de beisebol e amassou o veículo todinho. Fez também campanha para que seu agressor tivesse a carteira de motorista revogada. Mas não quis prestar queixa.

Bryan Smith era um sujeito problemático. E ainda por cima, sofria de dores crônicas na região da coluna lombar. Tomava analgésicos como água. Que falta a Quiropraxia não faz…

Pois é. Um ano e pouco depois do acidente, no aniversário de 53 anos de Stephen King, descobriram o corpo de Smith no trailer onde vivia. A autópsia concluiu que foi uma “overdose acidental do analgésico fentanyl” (Michael Jackson morreu de maneira semelhante — ver Artigo 193). Um amigo disse que, desde o incidente com King, Bryan Smith vinha se deprimindo e se isolando cada vez mais. Falou que não suportaria passar outro inverno tirando a neve da calçada. Parece ficção, não parece?

Ainda mais irônico é o fato de alguns de seus livros lidarem justamente com assuntos pertinentes a estes estranhos eventos:

  • O livro A Zona Morta, publicado em 1979, é sobre um cara normal que sofre um acidente, passa alguns anos em coma, e acorda com a capacidade de prever o futuro — inclusive a Terceira Guerra Mundial. Foi adaptado para o cinema em 1983 e para a televisão (O Vidente — um elogiado seriado que durou seis temporadas, de 2002 a 2007).

  • Angústia, de 1987, relata as desventuras de um escritor famoso (olhaí !) que sofre um acidente e é socorrido pela “sua fã número um”. No universo de King, isso só pode dar errado. Foi adaptado para o cinema como Louca Obsessão (1990) e deu o Oscar® a atriz Kathy Bates — dona de uma atuação fantástica e visceral.

  • Christine, de 1983 (adaptado num filme homônimo no mesmo ano), lida com as agruras de um tímido jovem nerd, que compra um carro no ferro-velho. Só que o veículo é “do mal”, se regenera por si só e sai matando os inimigos do rapazinho.

  • Na sua primeira obra posterior ao acidente, O Apanhador de Sonhos (2001), há um personagem que sofre um atropelamento bem parecido como o do autor. Outro do seriado televisivo Kingdom Hospital (2004) também. Stephen King incorporou seu próprio acidente no que seria o volume final da série literária A Torre Negra.

Nestes casos aí (e mais aqui), a tenebrosa realidade suplanta qualquer livro que o Mestre do Terror possa ter escrito. De longe.

Em tempo: o homem deve ter se recuperado um pouco mais das dores, porque não se aposentou coisíssima nenhuma! Desde o acidente, ele lançou mais um volume d’A Torre Negra, e escreveu os ótimos 11/22/63 e Dr Sono (uma continuação d’O Iluminado) — ambos adaptados à telinha e à telona, respectivamente — além de vários outros projetos concluídos e em andamento. Aposentar tão cedo ele não vai.