Definitivamente Seinfeld foi o mais influente seriado americano da década de 90 — pelo menos lá nos Estados Unidos. O programa gira em torno das trivialidades do dia-a-dia de quatro amigos. Começou tímido em 1989. Quase foi cancelado nos primeiros dois anos. Mas, lá pela quarta temporada, grudou de tal maneira na psique da geração X, que não saiu mais. Fez escola. Criou até neologismos. As pessoas comentavam o episódio no dia seguinte. Era uma coisa de louco. E, ainda por cima, e no auge do sucesso, resolveram, depois de nove anos, cancelar o seriado em 1998.
O programa foi criado pelos comediantes stand-up Jerry Seinfeld e Larry David. O gancho seria discorrer sobre as banalidades da vida cotidiana, sobre as picuinhas que irritam as pessoas e sobre as mesquinharias que cometemos rotineiramente. Um episódio inteiro poderia enfocar numa espera por uma mesa num concorrido restaurante chinês, ou numa procura por um carro no estacionamento de um shopping. Ou seja, Seinfeld é basicamente um seriado que fala sobre o nada. Pelo menos, nada que preste. E ainda assim pode-se dizer que foi o seriado americano de maior sucesso da história televisiva dos Estados Unidos.
Os episódios centram em redor da vida de uma versão ficcionalizada do próprio comediante Jerry Seinfeld, que serve de escada para as paripécias e desventuras de seus três amigos:
Nada é sagrado em Seinfeld. Já tiraram sarro de masturbação (masculina e feminina), sexo oral, prisão de ventre, deficientes físicos, estrangeiros, e por aí vai. Tudo é motivo de gozação. Até sobre a morte eles fazem chacota. Nos nove anos que durou o show, não houve crescimento espiritual. Todos os personagens, principais ou secundários, simplesmente e alegremente permanecem do jeito que são — imorais, inseguros e mentirosos. E foi justamente este mote que conquistou o público.
Uma óbvia cria de Seinfeld é o seriado It’s Always Sunny in Philadelphia. No ar desde 2005, “tornou-se a comédia em live-action mais longa da história da TV norte-americana”. Como em Seinfeld, o programa acompanha a vida de 5 amigos depravados, egocêntricos e antissociais munidos um raro talento para se envolver em atividades controversas e se meter em encrencas e confusões. São desonestos, egoístas, gananciosos, mesquinhos, ignorantes, preguiçosos e sem um pingo de ética. Diferentemente de Seinfeld, a turma (em inglês, The Gang) se envolve o tempo todo em planos mirabolantes, “ocasionalmente formando alianças e (conspirando) contra si e outros para ganho pessoal, vingança, ou simplesmente para o entretenimento de assistir à desgraça uns dos outros.”
Sim. Eles se sacaneiam mutualmente — um Seinfeld anabolizado.
Mas voltando à série de 1989, até dores lombares são motivo de piadas. E, como não deveria deixar de ser, nem a Quiropraxia se salva:
Os atores que interpretaram os amigos de Jerry não emplacaram nenhum sucesso depois do programa — fato que ficou conhecido como “a maldição de Seinfeld”. Michael Richards, que interpretou Kramer, basicamente arruinou sua carreira após ter sido filmado num show lançando impropérios racistas a um dos expectadores.
Aparentemente, Julia Louis-Dreyfus (Elaine) foi a única que conseguiu romper a tal “maldição”, faturando múltiplos Emmys™ por sua atuação em As Novas Aventuras de Christine (The New Adventures of Old Christine, 2006-2010 e Veep (2012-2019). Hoje em dia pode ser vista em alguns filmes da Marvel.
Larry David lançou o elogiado seriado Segura a Onda (Curb Your Enthusiasm, 2000-2024), onde interpretou uma versão perversa de si mesmo — sempre se mentendo em encrencas e situações vexatórias devido a sua ferina e comprida língua (ver Artigo 109).
Já Jerry Seinfeld, podre de rico, flertou com o ócio por alguns anos. Além de alguns documentários e de de uma ou outra participação especial, podemos contar nos dedos de uma mão o que ele, de fato, tem feito desde então:
Como podem perceber o homem não é lá muito prolífico. Também, nem precisa ser, né?