Todos nós, em um momento ou outro de nossas vidas, já perdemos as estribeiras ao esperarmos para sermos atendidos por aquele médico cronicamente atrasado. 15 minutos de espera dá para levar. Uma hora já nos irrita. Mas dá pra imaginar quatro ou cinco horas de atraso? A verdade, caros leitores, é que quase todo médico tende a atrasar no seu atendimento. É meio que inerente da profissão, né? Mas antes de linchá-los em praça pública, consideremos os seguintes dados para tentar entendê-los melhor.
Medicina é uma das profissões mais estressantes do mundo, com significantes taxas de depressão e suicídio. O Conselho Federal de Medicina (CFM), através do seu Centro de Pesquisa e Documentação (CPDOC), planejou e executou um amplo estudo com 7.700 médicos de diferentes cidades em todo o país. Os resultados foram publicados alguns anos atrás num livro chamado A Saúde do Médicos no Brasil, e nele, atesta que “ansiedade, depressão e estafa afetam mais da metade dos médicos entrevistados, até 5% de potenciais suicidas. 7.7% (dos médicos) disseram ser portadores de transtornos mentais ou comportamentais.”
O livro, desenvolvido e escrito por Edson Andrade, Genário Alves Barbosa, Mauro Carneiro, Munir Massud, e Valdiney Veloso Golveia pode ser conferido nos site do CFM: www.portalmedico.org.br (Revista da CREMEB, setembro/outubro de 2007).
A pesquisa revela que “82.2% dos médicos exercem até três atividades em medicina. 39.5% trabalham de 41 a 60 horas semanais, número bem superior ao padrão de um trabalhador contratado sob regime do CLT. Há médicos que trabalham em cinco locais diferentes.” Visto por esta ótica, a razão de um possível atraso pode ter sido (além da sobrecarga de trabalho) por causa de uma cirurgia ou compromisso anterior que tomou mais tempo que deveria, um atendimento de emergência, ou de um paciente que requeresse mais cuidados. A opção de alguns médicos de não atender por hora marcada, e sim por ordem de chegada é, com certeza, consequência daquela (pequena) parcela dos pacientes que não ligam com antecedência para desmarcar suas consultas. 90% dos pacientes pagam pela falta de cidadania dos outros 10%. É justo? Mas é assim…
Pessoalmente, me considero um privilegiado por levar uma vida profissional idílica. Atendo estritamente por horário marcado. Pedalo para a clínica; tenho 3 horas de intervalo para almoço (até com direito a um cochilinho); começo 7:30 e encerro às 18:00. Só que, conversando com Quiropraxistas de São Paulo, por exemplo, percebo que alguns têm uma realidade bem diferente da minha — de trabalhar em 3-4 clínicas e enfrentar o tráfego diário da capital paulista. Como se diz na Bahia, é pau pra dar em doido!
Médicos, contrário do que se comumente acredita, não são imunes às afecções prevalentes na população em geral. “Doenças que acometem o sistema osteomuscular e tecido conjuntivo foi a segunda mais comum (22.2%). O estudo relacionou as setes doenças / sintomatologias mais comuns entre os médicos entrevistados. Dores lombares ficou em primeiro lugar (21.6%); artrose em sexto (6.9%).” Em outras palavras, os médicos e outros profissionais da saúde também fazem parte da nossa “família” dos 80% da população que sofrem da coluna. Portanto, médicos precisam de Quiropraxistas.
O trabalho relata que 60% a 80% dos entrevistados são dependentes de nicotina, quase 40% referem diminuição da libido, e cerca de 30% afirmam estarem insatisfeito com sua vida sexual.
E se este constante atraso visto nos consultórios for um dos fatores que contribuem para o aumento alarmante de violência contra os médicos? A noção pode ridícula, mas a violência é real. Havendo correlação ou não, um estudo realizado em 2006 pelo Sindicato dos Médicos de São Paulo revelou que “41% dos médicos que trabalham no estado sofreram algum tipo de violência no ambiente de trabalho, 77.1 % destes nos hospitais públicos (61.19% nos prontos-socorros).” Seriam estas altas estatísticas um reflexo de atrasos crônicos? Ou seriam um reflexo de algo mais sombrio, nestes tempos de intolerância que vivemos? Mas aí só isso já é assunto para outro artigo, né?
De qualquer modo, o então presidente do CFM, Edson de Oliveira Andrade, viu as pesquisas d’A Saúde dos Médicos do Brasil como o início de uma reflexão: “não é preciso ir muito longe para constatar que os médicos estão em uma situação precária, (…) e permite que a categoria, as entidades de classe, e os gestores de saúde possam refletir a respeito da saúde do médicos e encontrar alternativas coletivas para os problemas por eles vivenciados”.
A grande questão é se tudo isso tem também afetado a nós, Quiropraxistas. Afinal de contas, como profissionais de saúde, não estamos imunes, estamos?