Entre 1966 e 1976, a China foi assolada por um período de instabilidade política que ficou conhecida como a Revolução Cultural. Seu líder, Mao Tsé-Tung, começou a perder controle do Partido Comunista. Precisavam de bodes expiatórios. Os intelectuais pagaram o pato. Sofreram em nome da ideologia as letras, as ciências e as artes.
Paradoxalmente, a mulher de Mao, Jiang Qing, líder do temido e famigerado Bando dos Quatro, começou a arregimentar crianças de todos os pontos do país para fazer parte da uma seleta escola de balé — “os fiéis guardiães da grande visão de Mao para a China”. Era a cultura a serviço da nação.
Entra em cena Li Cunxin, “um simples menino camponês, sexto de sete filhos, (que) tinha uma vida bem sofrida na comuna em que vivia com sua família (…)”. O moleque foi escolhido quase a esmo, pelos “delegados culturais” em visita a sua escola. “Passou oito (sofridos) anos na Academia de Artes de Madame Mao em Pequim”.
Foi então emprestado ao Houston Ballet no último ano de seu treinamento. Lá, encantou-se com os Estados Unidos. Voltou para a China e na segunda viagem para os E.U.A., resolveu desertar. A China não deixou barato. A esta altura já era um bailarino consagrado. (Fonte: http://aritmeticadasletras.blogspot.com.br)
Tempos depois, participou de uma competição numa hostil Moscou. Foi aí que conheceu seu maior obstáculo: dores de coluna. “(…) eu ensaiava um grand jeté quando escorreguei, caí e bati com as costas no chão. A dor aguda que desceu pelo meu corpo, do pescoço até a parte inferior das costas, me fez ver estrelas. Percebi imediatamente que se tratava de uma lesão séria (…). Tentei resistir e recuperar a concentração”. Mas “minhas pernas vacilavam, em especial nos saltos, e as piruetas saíam incertas. Eu ouvia a música, mas só conseguia pensar na dor do pescoço e das costas”.
“(…) decidi procurar um médico” que disse tratar-se de um “espasmo muscular — nada que uma boa massagem não resolvesse”. Espasmos musculares não eram novidade para mim, mas não daquele jeito. (…) Ao fim da segunda fase (da competição), sentia dificuldade até para me levantar da cama. A dor já chegava às pernas. Os analgésicos de ação reforçada só serviam para me deixar sonolento e com os músculos entorpecidos. Quando deixei a Rússia, tinha as costas completamente travadas, com dores cada vez mais intensas. Até (…) se (tornar) insuportável. Depois de uma tomografia, os médicos concluíram que havia duas — ou talvez três — hérnias de disco na parte inferior de minha coluna. Com este diagnóstico, disseram que eu deveria parar de dançar imediatamente: repouso absoluto até melhorar. Senão, poderia haver possibilidade de cirurgia, com menos de 50% de probabilidade de sucesso.”
“Sabia que só haveria um jeito de me recuperar: adotar a mesma disciplina e determinação que dedicara ao balé. Assim, aprendi a meditar, a controlar a frustração e a dor. Era a única maneira de me superar. (…) Naqueles três meses de repouso na cama, fiz de tudo para manter a força mental. O Houston Ballet ia se apresentar em New York em outubro — em menos de quatro meses, portanto. (…) os médicos duvidavam de que eu conseguisse me recuperar até lá. Fiz tratamento com acupuntura, homeopatia, medicina chinesa e um massagista maravilhoso (…). Ele garantiu que eu voltaria ao palco, mas o programa de fortalecimento dos músculos foi demorado e doloroso. Muitas vezes cheguei a duvidar”.
“Aos poucos, porém, fui me recuperando. A hérnia de disco nunca desapareceu completamente, mas, com o fortalecimento dos músculos do abdome e das costas e a continuação dos exercícios, manteve-se sob controle”. Recuperado, voltou a dançar.
É impressionante o poder da garra, disciplina, determinação e foco para superar obstáculos. Alguns anos atrás, atendi numa segunda-feira um faixa-preta de karatê em plena crise aguda de lombalgia e ciática. O sujeito tinha um exame de faixa marcado para aquele sábado — em apenas 6 dias, portanto. Avisei que remarcasse o exame, que ele não iria se recuperar a tempo — não naquela crise severa. Pois não é que o paciente não sabia que era impossível, foi lá e fez? Tratamos sua coluna diariamente, ele se recuperou suficientemente, fez o exame de faixa e passou. Quem sabe nosso bailarino não teria se recuperado ainda mais rápido se tivesse também se tratado com Quiropraxia?
Minha cunhada se recuperou de dores incapacitantes causadas por uma hérnia de disco — e a Quiropraxia foi determinante nisso. Mais tarde, depois de vencer uma seleção de mais de 100 candidatos, ela se tornou a primeira brasileira a ingressar e concluir o Programa de Treinamento de Professores (Teacher Training Program) do prestigiado Canada’s National Ballet School (ver artigo 48). Outra que não sabia que era impossível, foi lá e fez. Com garra, disciplina, determinação e foco. Coisas de bailarino…
A extraordinária história de Li Cunxin está na biografia Adeus, China: O Último Bailarino de Mao (Mao’s Last Dancer; 1ª Ed. – São Paulo; Editora Fundamento, 2008) — tranformado em filme homônimo em 2009. A obra foi leitura obrigatória da escola na época que o meu filho mais velho estudava no 9º ano (antiga 8ª série). Foi ele quem me chamou atenção das dores de coluna do protagonista. E é a meu filhote, ávido devorador de livros, que este artigo é dedicado.