Toronto é definitivamente uma das cidades mais multiculturais do mundo. A maior cidade do Canadá (2,6 milhões de habitantes) atrai todo ano dezenas de milhares de imigrantes. Estima-se que 49,9% da população nasceram fora do Canadá. Pensem bem: metade de Toronto não é de lá. Incrível, não?

Isto faz com que Toronto possua a segunda maior população de estrangeiros do mundo. Só perde para Miami. Mas é muito mais etnicamente diverso — já que Miami tem muito latino-americano, na sua maior parte. Mais impressionante ainda é a convivência relativamente harmoniosa desta mistura de religiões, raças e costumes. De fato, Toronto possui menor taxa de criminalidade de qualquer cidade dos Estados Unidos: apenas 1,3 homicídios para cada 100 mil habitantes. A título de comparação, Salvador-BA , que tem quase 2,9 milhões de habitantes, possui uma taxa de criminalidade de 63,5 homicídios para cada 100 mil habitantes.

Com tanta gente vindo de tanto lugar, Toronto tornou-se uma cidade cultural. A gastronomia impressiona: é possível comer por 365 dias sem repetir restaurantes. Há um número enorme de bibliotecas, teatros e museus. Por causa do baixo preço na produção de filmes, a indústria cinematográfica tem filmado muito em Toronto nos últimos anos. Somente na Casa Loma, um castelo neo-romântico construído por um milionário no começo do século XX (que faliu logo depois e a cidade tomou a propriedade), foi palco do primeiro X-Men (2000), Chicago (2002) e Scott Pilgrim Contra o Mundo (2010).

Por lá, naturalmente, foi fundado em 1951 o Canada’s National Ballet School. É uma das mais renomadas escolas de balé do mundo. Quem se forma lá é aproveitado nas melhores companhias de balé profissional. Uma brasileirinha conseguiu ingressar no concorridíssimo curso de treinamento de professores de ballet daquela instituição em 2009, batendo mais de 100 concorrentes. O curso começou em setembro de 2010. Três intensivos anos depois, Bartira Barreto tornou-se a primeira brasileira a ingressar e concluir o Programa de Treinamento de Professores (Teacher Training Program).

Bartira Barreto Salto Ballet

Desde pequena Bartira quis ser bailarina. Dança desde os quatro anos de idade. Começou em Feira de Santana e passou pela Inglaterra. “Fiz cursos de ballet clássico e contemporâneo pela Europa e ingressei na companhia de dança profissional do Ballet do Teatro Castro Alves em Salvador no ano de 2005 por onde dancei com a companhia na Europa e no Brasil. (…) comecei a ensinar ballet muito nova, e dividia minha paixão pela dança entre os palcos e (ensinando) em estúdios de dança”, relembra.

Bartira Barreto viu tudo desmoronar em 2008. Enquanto nadava no mar de Barra Grande, Maraú-BA num frio mês de maio, foi acometida de uma brutal lombalgia. Não conseguia mover-se de tanta dor. O laudo da ressonância acusou hérnia discal extrusa de L5/S1. “As atividades de dança tiveram que ser extintas devido aos movimentos de alto impacto e extensão/flexão da coluna”, recorda. Tratou-se com Quiropraxia com este que vos escreve e com o Dr. Marcelo Botelho em Salvador. Aos poucos voltou a caminhar. Seus movimentos foram gradualmente ficando mais livres. Melhorou. Mas ainda doía.

Em meados de 2008, recebeu um convite para ensinar numa conceituada escola de ballet em Portugal. Um ano depois, partiu para o Canadá com o grande amor de sua vida e integrou-se à vida multicultural de Toronto. Lá, retomou suas aulas de ballet.

Mesmo com a coluna tendo melhorado muito, os limites físicos estavam sempre presentes. Os períodos de treino eram muito intensos. Havia, além das óbvias aulas de ballet, danças a caráter e folclóricas e de condicionamento. E aulas teóricas, como anatomia, história da dança e música – o que também desafiava os limites da linguagem.

Com tudo isso, Bartira graduou-se em junho de 2013 com distinção e honra. Foi agraciada com o prêmio Betty Oliphant Award pelo brilhante desempenho e promissor em potencial de excelente profissional da escola.

Consta que, no dia da formatura, os olhos de Bartira faiscavam e seu sorriso ia de orelha a orelha — fenômeno observado novamente no dia em que se casou com o irmão deste humilde escriba. Parabéns, Bá.

Em tempo: a hérnia ainda dá alguns sinais de vida. Nossa bailarina ainda sente uma leve dor na coxa esquerda de vez em quando. Mas não passa disso. Se mantém sempre em movimento e faz manutenção com Quiropraxia até hoje.