Os filmes britânicos são conhecidos por seu humor sutil, mas, ao mesmo tempo, ácido e mordaz. Satirizam tópicos que, a priori, não têm lá muita graça. Mesmo meio risqué, os ingleses exercem este dom com maestria.
Assim, conseguem nos fazer rir de assuntos tidos como delicados, como:
Esta relação de erotismo com pessoas que nada têm de erótico é também retratada com leveza e sagacidade no filme Irina Palm (2007). Maggie (interpretada pela cantora e compositora Marianne Faithfull) é uma viúva cinquentona desesperada atrás de algum artifício para levantar uma respeitável soma de dinheiro com o objetivo de custear o tratamento de seu netinho doente.
Meio que por acidente ela entra numa boate de “prazeres adultos” achando que o emprego anunciado tivesse alguma coisa relacionada com limpeza. Não tinha. Mas o dono se encanta com a maciez de suas mãos. E a contrata — para uma atividade inusitada que envolve um buraco na parede e muito, mas muito creme hidratante. Maggie topa a empreitada e põe (figurativamente) a mão na massa. E começa a fazer sucesso com o nome de guerra de Irina Palm.
Sim, caros leitores, o filme é uma comédia romântica. Os britânicos, com seu jeitinho peculiar, conseguem fazer isso acontecer e até passar uma mensagem de empoderamento feminino — por incrível que pareça. Mas o que chamou a atenção deste que vos escreve foi o que ocorreu com a personagem depois de passar semanas exercendo esta, digamos assim, atividade laborativa repetitiva.
Maggie começou a sentir uma dor na pontinha lateral do cotovelo. Os sintomas se intensificaram a ponto de precisar ser imobilizada. Este probleminha é conhecido na comunidade científica como epicondilite lateral, ou Cotovelo de Tenista (no filme, faz-se um trocadilho com o nome — que consegue ser ao mesmo tempo intraduzível e impublicável).
Os músculos responsáveis pela extensão do punho e dos dedos têm um único ponto de origem — um tendão em comum que se insere numa pontinha de osso na parte lateral do cotovelo: o epicôndilo. Movimento repetitivo inadequado pode causar fadiga muscular, e, se mantido por um longo período de tempo, inflamar esta inserção do tendão no osso. O resultado é a epicondilite lateral.
Resulta em dor na região lateral do cotovelo com irradiação para o antebraço e braço, mediante palpação e movimento. Muitas pessoas queixam-se também de perda de força no braço — principalmente no dominante. Afeta tanto homens como mulheres, e é mais comum na faixa etária dos 30 aos 50 anos de idade.
Cotovelo de Tenista é a principal causa de consultas médicas para dor no cotovelo. Extensão repetitiva do punho é frequente no jogo de tênis. Por isso, a lesão é relativamente comum nestes jogadores (afetam entre 10% a 50% deles). Daí o nome.
Mas marceneiros, carpinteiros, lavadeiras, pintores, encanadores, costureiras, digitadoras, secretárias, ou qualquer profissão que apresente este tipo de esforço repetitivo estão também propensas a desenvolverem o problema.
Basta um bom exame clínico para detectar a epicondilite lateral. Radiografia, ressonância magnética e ultrassonografia podem ser úteis para confirmar o diagnóstico. Este tipo de lesão responde bem a fisioterapia tradicional e crioterapia (aplicações de gelo). Manipulação específica com Quiropraxia tem apresentado resultados excelentes. É necessário, no entanto, um bom programa de reabilitação, com exercícios isométricos e isotônicos. A possibilidade de sucesso no tratamento chega a quase 90%.
O paciente pode optar pelo uso concomitante de medicamentos se a dor incomodar muito. Cirurgia é muito rara nesta área, e só deve ser considerada como última alternativa. Imobilizar é, às vezes, necessário — mas por tempo determinado.
Esta última opção, a da imobilização, funcionou muito bem no filme para Irina Palm — que, por sorte, era ambidestra.