De todos os pacientes que se submetem a procedimentos como mielografia, punção, cirurgia lombar, ou até somente durante a raquianestesia, estudos indicam que entre 10% a 20% podem colateralmente sofrer uma reação inflamatória. Acontece com algumas mulheres após o parto — às vezes se manifesta como uma dor de coluna que vai além de uma corriqueira cefaléia. Não é que seja negligência médica. É simplesmente chance. Estatística.

Para melhor compreender este processo, observa-se que o sistema nervoso central é composto pelo encéfalo (protegido pelo crânio) e pela medula espinhal (protegida pelas vértebras da coluna). Estas estruturas são protegidas adicionalmente por 03 meninges (membranas de tecido conjuntivo):

  • A dura-máter ou paquimeninge (“membrana grossa”) é a membrana mais forte e externa. Extremamente vascularizada e relacionada com cefaléias, ela adere aos ossos craniais, mas forma um “saco quase solto” no canal vertebral.

  • A pia-máter é uma membrana bem fina, vascularizada e transparente, que envolve diretamente o encéfalo e a medula espinhal.

  • A aracnóide (suas fibras se parecem com teias de aranha), fica entre a dura-máter e a pia-máter. Compõe com a última a leptomeninge (“membrana fina”). Cobre a raiz dorsal e ventral dos nervos. É a que tem maior propensão a ficar irritada após ser furada ou cortada, causando aracnoidite. Por ser avascular, a melhora é lenta.

Além das membranas, o espaço entre elas é não menos importante:

  • O cavo epidural ou (peridural), espaço entre o canal vertebral e a dura-máter, é composto largamente de tecido conjuntivo areolar e adiposo, e contém o plexo venoso vertebral interno. A injeção epidural só vai até este espaço, e, se feita corretamente, não afeta a dura-máter, o líquor cefalorraquidiano, nem a aracnóide.

  • O cavo subdural, espaço entre a dura-máter e a aracnóide, é bem fino.

  • O cavo subaracnóideo, espaço entre a aracnoide e a pia-máter, é de suma importância. Dentro dele está o extremamente vital líquido cérebro-espinhal, que, rico em glicose, “banha” o encéfalo e a medula — e é até lá que vai a agulhinha da raquianestesia. O problema é que, às vezes, dependendo de como ela entra, pode causar uma irritação na membrana aracnoide.

    A aracnoidite adesiva provoca aumento de fibrose e causa aderências entre a dura-máter, a aracnóide e a pia-máter, formando uma única membrana grossa. O cavo subaracnóideo é praticamente obliterado e causa constrição da raiz nervosa e comprometimento do suprimento vascular — além, obviamente, de hipomobilidade ou de fixações articulares vertebrais. Apesar de também ocorrer por severa e localizada meningite viral ou bacteriana, em muitos pacientes simplesmente não existe uma etiologia específica.

Na maioria dos casos, o sintoma é somente dor lombar. Aí Quiropraxia pode ajudar. Mas nos casos mais sérios (e felizmente bem mais raros), podem ocorrer incontinência urinária e fecal, seguida por marcha insegura, fraqueza / dormência nos membros inferiores, e espasticidade muscular (se houver envolvimento da medula espinhal).

Claro, nove entre dez anestesistas irão negar a possibilidade de raquianestesia causar dores crônicas na coluna. E tampouco existem estudos que realmente comprovem isso. Mas, clinicamente falando, num consultório de Quiropraxia, quem de nós nunca ouviu esse relato por parte de um paciente? Pois é.

O que não se nega é a possibilidade da cefaleia. Uma vez que a agulhinha tem que inevitavelmente perfurar a dura-máter, a anestesia pode trazer as famosas e terríveis dores de cabeça. A chamada cefaleia pós-raqui é caracterizada por uma dor intensa que se manifesta apenas se o paciente está sentado ou de pé. Seus efeitos podem ser reduzidos com repouso (deitar-se) e analgésicos. Tende a ter curta duração.

Apesar da mielografia ser uma das causadoras da aracnoidite adesiva, é também, paradoxalmente, o procedimento mais importante para detectá-la. O clínico vai procurar por irregularidades no cavo subaracnóideo, e interrupção de fluxo do contraste.

A medula espinhal e a pia-máter terminam num cone na altura de L1. O feixe de nervos que prossegue abaixo parece uma cauda de cavalo (cauda equina) — envolvida pela dura-máter e aracnóide, mas não pela pia-máter. Por isso, aconselha-se que a punção lombar seja feita abaixo de L1, a fim de afetar o menor número de estruturas possíveis. O processo inflamatório diminui a pressão do líquor cefalorraquidiano, e pode fazer aumentar seus níveis de proteína, glicose, leucócitos, ou de albumina em casos crônicos.

Incidentalmente, é possível visualizar agrupamento das raízes nervosas ou dos nervos da cauda equina na tomografia computadorizada. Esta massa disforme precisa ser diferenciada de lesões metastáticas ou de fibrose epidural. Delamarter et. al., em um artigo denominado Lumbar aracnoiditis diagnosis in magnetic ressonance imaging (Spine 15(4): 304-310, 1990), dividiu os achados em 03 grupos distintos: no primeiro, as raizes nervosas se agrupam centralmente; no segundo, as raízes nervosas aderem periferalmente às meninges; no terceiro, uma massa de tecido mole toma o lugar do cavo subaracnóideo. Sacaram aí a potencial receita de desastre?

Tratamento à base de fenicilamina tem tido relativo sucesso. Em casos com significante déficit neurológico, intervenção cirúrgica pode ser necessária. Algumas fontes sugerem suplementos de vitamina E para ajudar a aliviar alguns dos sintomas. Em casos mais sintomatológicos do que neurológicos, restauração da mobilidade vertebral através de ajustamentos específicos com Quiropraxia pode ajudar, e muito.