De todos os pacientes que se submetem a procedimentos como mielografia, punção, cirurgia lombar, ou até somente durante a raquianestesia, estudos indicam que entre 10% a 20% podem colateralmente sofrer uma reação inflamatória. Acontece com algumas mulheres após o parto — às vezes se manifesta como uma dor de coluna que vai além de uma corriqueira cefaléia. Não é que seja negligência médica. É simplesmente chance. Estatística.
Para melhor compreender este processo, observa-se que o sistema nervoso central é composto pelo encéfalo (protegido pelo crânio) e pela medula espinhal (protegida pelas vértebras da coluna). Estas estruturas são protegidas adicionalmente por 03 meninges (membranas de tecido conjuntivo):
Além das membranas, o espaço entre elas é não menos importante:
Na maioria dos casos, o sintoma é somente dor lombar. Aí Quiropraxia pode ajudar. Mas nos casos mais sérios (e felizmente bem mais raros), podem ocorrer incontinência urinária e fecal, seguida por marcha insegura, fraqueza / dormência nos membros inferiores, e espasticidade muscular (se houver envolvimento da medula espinhal).
Claro, nove entre dez anestesistas irão negar a possibilidade de raquianestesia causar dores crônicas na coluna. E tampouco existem estudos que realmente comprovem isso. Mas, clinicamente falando, num consultório de Quiropraxia, quem de nós nunca ouviu esse relato por parte de um paciente? Pois é.
O que não se nega é a possibilidade da cefaleia. Uma vez que a agulhinha tem que inevitavelmente perfurar a dura-máter, a anestesia pode trazer as famosas e terríveis dores de cabeça. A chamada cefaleia pós-raqui é caracterizada por uma dor intensa que se manifesta apenas se o paciente está sentado ou de pé. Seus efeitos podem ser reduzidos com repouso (deitar-se) e analgésicos. Tende a ter curta duração.
Apesar da mielografia ser uma das causadoras da aracnoidite adesiva, é também, paradoxalmente, o procedimento mais importante para detectá-la. O clínico vai procurar por irregularidades no cavo subaracnóideo, e interrupção de fluxo do contraste.
A medula espinhal e a pia-máter terminam num cone na altura de L1. O feixe de nervos que prossegue abaixo parece uma cauda de cavalo (cauda equina) — envolvida pela dura-máter e aracnóide, mas não pela pia-máter. Por isso, aconselha-se que a punção lombar seja feita abaixo de L1, a fim de afetar o menor número de estruturas possíveis. O processo inflamatório diminui a pressão do líquor cefalorraquidiano, e pode fazer aumentar seus níveis de proteína, glicose, leucócitos, ou de albumina em casos crônicos.
Incidentalmente, é possível visualizar agrupamento das raízes nervosas ou dos nervos da cauda equina na tomografia computadorizada. Esta massa disforme precisa ser diferenciada de lesões metastáticas ou de fibrose epidural. Delamarter et. al., em um artigo denominado Lumbar aracnoiditis diagnosis in magnetic ressonance imaging (Spine 15(4): 304-310, 1990), dividiu os achados em 03 grupos distintos: no primeiro, as raizes nervosas se agrupam centralmente; no segundo, as raízes nervosas aderem periferalmente às meninges; no terceiro, uma massa de tecido mole toma o lugar do cavo subaracnóideo. Sacaram aí a potencial receita de desastre?
Tratamento à base de fenicilamina tem tido relativo sucesso. Em casos com significante déficit neurológico, intervenção cirúrgica pode ser necessária. Algumas fontes sugerem suplementos de vitamina E para ajudar a aliviar alguns dos sintomas. Em casos mais sintomatológicos do que neurológicos, restauração da mobilidade vertebral através de ajustamentos específicos com Quiropraxia pode ajudar, e muito.