Apesar de terem produzido inúmeras obra-primas, os estúdios da Universal (que têm mais de 100 anos) fizeram seu nome com os filmes de terror. Drácula Frankenstein (1931). O Lobisomem (The Wolf Man,1941) e O Monstro da Lagoa Negra (Creature from the Black Lagoon, 1954) são verdadeiros clássicos.

Este último teve meio que uma releitura com o excelente A Forma da Água (The Shape of Water, 2017), ganhador de vários Oscars, incluindo Melhor Filme e Melhor Diretor.

Drácula, por exemplo, catapultou a carreira de um então jovem húngaro Béla Lugosi. O filme, fraquinho para os dias de hoje, apavorou toda uma geração. Contudo, não há uma única cena que mostre os caninos do vampiro, nem ele mordendo a mocinha, nem sequer saindo do seu caixão (só mostra uma mão). Seu olhar penetrante e pronunciado sotaque fizeram donzelas casadoiras desmaiarem de pavor.

Tod Browning, o diretor de Drácula, fez logo em seguida Freaks (1932), uma fábula de terror com deficientes de verdade. Chocou tanto na época (e até hoje choca) que seu diretor saiu corrido de Hollywood com a carreira destruída e nunca mais fez um filme de relevância.  

Logo depois de Drácula, Béla Lugosi tornou-se o rei da cocada preta. Podia escolher qualquer papel que quisesse (ou que seu sotaque deixasse). Ofereceram-lhe o papel principal de Frankenstein. Achou que um monstro desajeitado e coberto de maquiagem estava além de seus talentos e charme e recusou a parte. Foi um mau passo. 

Lugosi acabou seus dias viciado em morfina e fazendo filmes Z com seu único amigo, Edward D. Wood, Jr. (este aí ficou imortalizado como “o pior diretor de todos os tempos”). Os dois foram retratados no ótimo filme dirigido por Tim Burton, Ed Wood (1994). Martin Landau ganhou o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por sua atuação como eterno (e decrépito) “vampiro” (Veja Artigo 83).

A produção de Frankenstein escolheu um britânico desconhecido que só havia até então atuado em partes diminutas em filmes menores. William Henry Pratt andava na casa dos 44 anos. O trabalho como ator não pagava muita coisa. Complementava a renda fazendo bicos como dirigir caminhões, carregar e descarregar pesados sacos de cimento. Foi mesmo neste período que os problemas de coluna começaram.  

Após adotar o tenebroso e amedrontador nome artístico de Boris Karloff, Pratt começou as filmagens. Tinha que acordar de madrugada e comparecer ao estúdio às quatro da manhã. O mestre das maquiagens, Jack Pierce, bolou uma espécie de máscara em que o topo de sua cabeça ficaria chato. E a proverbial cereja do bolo foram dois parafusos, um a cada lado do pescoço.  

Na década de 30, a arte da maquiagem estava nos seus primórdios. Fazia-se muito com pouco. E, para acabar de completar, o verão durante as filmagens estava pleno e tórrido. O calor fazia a cera das pálpebras derreterem sobre os olhos do ator britânico.  

O corpo de Karloff era meio franzino. A pesada maquiagem fazia-o ficar com um cabeção que não tinha mais tamanho. O jeito era compensar com as roupas do monstro, que eram de duplo revestimento. Tinha que usar um grosso colete para aumentar o volume de seu tronco. Os pesados sapatos, em enormes plataformas, dificultavam o movimento ainda mais. E ainda por cima o ator não podia mover os joelhos.  

Resultado: as dores de coluna se intensificaram, e o acompanharam até o fim de seus dias. Mas Karloff, sempre um gentleman, não se deixou abater. Não reclamava. O resto do elenco e a equipe o adoravam. Ainda assim, dizem que o pobre coitado se submeteu a três cirurgias de coluna depois do filme e sofreu de dores crônicas pelo resto da sua vida.    

Colin Clive, o Doutor Frankenstein, e autor da canastrona frase clássica “It´s alive, it´s alive!” (“Está vivo, está vivo!”) — usada depois em inúmeros filmes como referência pop — era o ator principal. Karloff acabou roubando-lhe os créditos inintencionalmente. 

O nome do filme remete ao cientista, e não a criatura. O monstro mesmo não tinha nome. Com o tempo ficou conhecido como “o Monstro de Frankenstein” ou até como somente “Frankenstein”, mas este termo é incorreto. Ou seja, o título deste artigo também (esse erro, porém, foi intencional).

O filme foi um megassucesso. Entrou no imaginário coletivo e hoje, a imagem do monstro tornou-se um ícone. Gerou (mesmo naquela época) algumas continuações. O segundo filme, A Noiva de Frankenstein (1935), foi um sucesso ainda maior. Tanto a sequência como o original foram dirigidos pelo homossexual assumido James Whale — que, curiosamente, teve sua carreira naufragada mais pelos subsequentes fracassos de bilheteria do que pela sua evidente sexualidade. A sequência consegue a proeza de ser melhor do que o original e filme é bem mais desvairado.

Whale foi retratado pelo excelente ator britânico Sir Ian McKellen (o Gandalf da trilogia Senhor dos Anéis e O Hobbit), que foi até nominado ao Oscar de Melhor Ator pelo papel no aclamado Deuses e Monstros (Gods and Monsters, 1998). 

Sofrendo de horríveis dores de coluna e abatido por enfisema, Boris Karloff continuou atuando até quando pôde — usando uma cadeira de rodas entre uma cena e outra. O eterno Monstro de Frankenstein morreu em 1969.