Tim Burton é um diretor acima de tudo autoral. Mesmo com uma filmografia irregular, que mistura obras-primas com filmes medíocres, percebe-se facilmente um filme feito por ele. Realizador de longa-metragens como os dois primeiros BatmanEdward Mãos-de-TesouraA Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça, A Fantástica Fábrica de Chocolate e Alice no País das Maravilhas, realizou uma pérola em 1994 sobre uma pessoa que eventualmente viria a ser conhecida como o pior diretor de todos os tempos: Edward D. Wood, Jr..  

Johnny Depp (o capitão Jack Sparrow da franquia Piratas do Caribe), em uma de suas várias parcerias com Burton, interpreta este visionário apaixonado por cinema. Seu maior sonho era dirigir filmes. Só duas coisas o impediam: não tinha um tostão furado e talento menos ainda — detalhes pequenos demais para atrapalhar sua promissora carreira.  

Ed Wood adorava também se vestir de mulher, apesar de não se considerar homossexual. Isso em plena repressora década de 50!

Depois de alguns anos envolvido com peças de teatro abaixo de sofríveis, surgiu uma oportunidade para dirigir um filme sobre um assunto que ele conhecia bem. Glen ou Glenda, a odisseia de um homem que gostava (pasmem!) de se vestir de mulher, foi tão ruim que quase destruiu a dinâmica carreira do nosso herói. Quase.  

Aconteceu então um encontro que entrou (pela porta dos fundos, é verdade) para os anais (metaforicamente falando) do cinema. O acaso levou Ed Wood a conhecer Béla Lugosi, Ícone de filmes de terror dos Estúdios Universal na década de 30, e estrela do clássico Drácula, Lugosi estava num processo de franca decadência, viciado em morfina, e abandonado pela mulher.

Magistralmente interpretado pelo saudoso pelo Martin Landau, que acabou faturando o Oscar™️ de Melhor Ator Coadjuvante pelo papel, o filme levou também o de Melhor Maquiagem.

O foco de Ed Wood foi esta amizade a que os dois se agarraram com unhas e dentes. Além da afeição genuína que um nutria pelo outro, Lugosi precisava sobreviver e Wood precisava de um nome para atrair financiamento. Daí começou uma parceria de alguns dos piores filmes da história do cinema. Mas de tão ruins que acabaram virando cult. 

Debilitado pelos anos de morfina, Béla Lugosi morreu em 1958 (foi enterrado vestido com a capa de Drácula). Ed Wood tinha alguns poucos minutos filmados com o que seria a última aparição de Lugosi em celulóide, e decidiu fazer uma homenagem ao amigo morto. Como? Simplesmente rodando um filme inteiro em redor daqueles parcos minutos e lançá-lo como “o último filme de Bela Lugosi”.  

A essa altura do campeonato, os diletos leitores devem estar se perguntando: que raios este artigo tem a ver com a coluna vertebral, ou Quiropraxia?  Bem, chegaremos lá.  

Ed Wood não tinha cenas suficientes com Bela Lugosi que sustentasse um filme. Por isso, precisava de um dublê. Só que não encontrava ninguém parecido com Bela, pelo menos na concepção dele. Mas o acaso interveio mais uma vez.  

Numa cena passada numa lanchonete, Dolores, a namorada de Ed, vê seu QUIROPRAXISTA, Tom Mason, e acena para ele, que se aproxima do grupo e pergunta como ela anda. Dolores então relata algumas dores no pescoço. Dr. Mason, ali na lata, agarra o pescoço de Dolores e faz a manipulação mais tosca, bruta e barulhenta que a sétima arte já viu!

Este encontro na lanchonete provavelmente nem aconteceu de verdade, mas o pior diretor de todos os tempos cismou que a testa do doutor era “exatamente igual a de Bela” (não era), e implora para que Mason, mais alto e nada parecido fisicamente com o falecido, se tornasse seu dublê. O plano era que ele aparecesse o filme inteiro cobrindo o rosto com o braço envolto numa capa preta.

E assim, com a tal testa à mostra, e inebriado com o glamour de Hollywood (única explicação plausível), nosso colega Quiropraxista topou a parada. Com isto, entrou para a História do Cinema como dublê do legendário ator de filmes de terror, o magnífico Bela Lugosi, em seu grandioso último filme Plano 9 do Espaço Sideral. 

Thomas Robert Mason fez mais dois filme com nosso destemido diretor, que desta vez o deixou mostrar seu rosto — em um deles como um zumbi sentado num caixão (o que não foi um grande progresso).

Ed Wood morreu de alcoolismo em 1978, sua “obra-prima” relegada ao ostracismo. Mas, em 1980, Plano 9 foi “reabilitado”, sendo votado naquele ano pelo Rapsberry Awards™️ (Framboesa de Ouro) — uma espécie de anti-Oscar — como o pior filme de todos os tempos. Adquiriu seu status cult, com fã-clube, exibições à meia-noite com cosplay e tudo mais a que tem direito. 

Claro, não foi esta a intenção original de seu diretor. Mas a “obra” (se é que devemos chamá-la assim) é muito engraçada, com seus diálogos terríveis, os erros de continuidade, a edição tosca, os cenários descaradamente baratos, as interpretações canastronas…

De tão ruim, porém, Plano 9 do Espaço Sideral chega quase a ser bom. Quase.