Considerem o que acontece a um jogador de futebol quando se machuca durante uma partida e é carregado para fora do campo. Seu preparador físico o massageia vigorosamente com gelo e logo o craque volta para jogar — muitas vezes como se nada tivesse acontecido. Tudo isso graças a uma modalidade extremamente eficaz, mas ainda muito subestimada: a crioterapia.

O nome deriva do grego krio (κρύο) — frio ou gelado.

Trata-se de uma terapia que consiste simplesmente de fazer aplicação de gelo no local afetado para amenizar a dor. Mas a crioterapia faz bem mais do que isto. O gelo contrai os vasos sanguíneos e conseqüentemente diminui a circulação no local, controlando a (micro) hemorragia. Isto desestimula o metabolismo e a secreção de histamina, o que faz diminuir enormemente os efeitos inflamatórios. Apesar de aumentar a rigidez do tecido, há menor espasmo muscular, e a dor decresce exponencialmente.

A velocidade de condução dos impulsos nervosos é amplamente afetadas pelo gelo, sobretudo nos nervos sensoriais — o que nos interessa, pois transmitem informação de dor. Esta condução tem o potencial de diminuir gradativamente em baixas temperaturas até, em alguns casos, chegar a ser totalmente bloqueada. Estudos afirmam ocorrer até 18% de diminuição da condução sensorial do nervo ulnar, por exemplo, após aplicação de gelo por 16 minutos. O interessante é que o mesmo nervo ainda apresentava uma diminuição de 4.5% da sua condução mesmo depois que o gelo foi interrompido.

A pele é o tecido mais afetado durante a crioterapia. Sua temperatura diminui quase o equivalente à da aplicação. Um outro estudo demonstrou uma diminuição de 22º na temperatura da pele após 20 minutos de aplicação de gelo no tornozelo. E depois de 90 minutos sem gelo, a temperatura da pele ainda estava 2º abaixo da temperatura inicial de 29.7º. Se o paciente exagerar no tempo de aplicação, podem ocorrer queimaduras de até 2º grau. Sim, gelo queima!

Em tecidos profundos, ocorre um resfriamento mais moderado, porém mais gradual do que a pele. Estes tecidos continuam a resfriar mesmo após uma aplicação de gelo de 20 minutos ser interrompida. Daí a extrema eficácia do tratamento.

Gelo é indicado primariamente não só para dores agudas, mas para qualquer caso de dor ou espasmo muscular. Apesar da literatura sugerir o uso de calor nos casos crônicos, observamos que, clinicamente, muitos destes respondem muito bem à crioterapia.

É contraindicado para quem tem alergia a frio (pode empolar ou produzir dores articulares), e para quem sofre de Fenômeno de Raynaud (espasmo arterial que pode resultar em necrose isquêmica). Para detectar pacientes com má circulação, o Teste de Diascopia ou Blanche tende a ser bastante eficaz (ao ser pressionada, a pele teria que se manter branca por um curto espaço de tempo). O gelo deve ser usado com muita cautela por quem sofre de artrite reumatóide, hipertensão arterial, disfunções renais, e em pacientes comatosos.

Para realizar esta modalidade, basta envolver uma bolsa ou saco de gelo com uma toalha ou pano úmido e aplicar na região de dor ou no local indicado durante 15 a 20 minutos. É importante deixar passar de 30 a 45 minutos entre uma aplicação e outra para a pele aclimatizar. E repetir o processo quantas vezes for indicado. Deve ser explicado para o paciente as sensações provocadas pelo gelo (a crioterapia não é conhecida por ser muito prazeirosa.):

  • frio nos primeiros 01 a 03 minutos;

  • desconforto, queimação, ou dor nos 02 a 07 minutos subsequentes;

  • culminando com dormência nos últimos 05 a 12 minutos.

    É justamente neste estágio que ocorrem riscos de queimaduras.

A crioterapia é ridiculamente barata e extremamente segura. E definitivamente uma das maneiras mais eficaz, saudável e natural de controlar dores de natureza neuromusculoesqueléticas.