Manter a coluna saudável não depende somente de bons hábitos posturais ou de tonificação muscular apropriada. Uma nutrição adequada é também imprescindível, especialmente no que diz respeito às vitaminas. Discorremos no artigo 36 sobre os efeitos da Vitamina C na coluna vertebral, e estabelecemos seu papel crucial na formação do colágeno, material de que o disco é largamente composto, mas que também age como uma “cola” que une os ossos.
Não menos importante é a Vitamina D. O que faz ela singular é o fato de ser a única vitamina produzida no corpo humano. Não produzimos no nosso corpo as outras vitaminas: elas necessitam de ser obtidas na nossa dieta. A Vitamina D, não. Ela já existe na nossa pele na forma de um tipo de colesterol (1,25-diidroxicalciferol, ou calcitriol para ser mais exato).
O calcitriol é um pró-hormônio latente e sem ação no nosso corpo. Para ativá-lo, é necessário que a pele fique exposta ao sol. Os raios ultravioleta atuarão em cima do 1,25-diidroxicalciferol, e o transformarão em 7-diidrocolesterol, ou calciferol — que é a Vitamina D propriamente dita. Uma vez formada na pele, e absorvida pela circulação, ela é eventualmente armazenada no fígado, cérebro, baço e ossos.
Por isso, o banho de sol é tão importante para nossa saúde, especialmente quando feito de maneira correta. Os dermatologistas recomendam tomar sol antes das 10:00 e depois das 16:00 e não ficar muito tempo exposto. Vale lembrar que 40 minutos de sol já é suficiente para sintetizar a Vitamina D no nosso corpo e suprir nossas necessidades diárias. E hoje em dia, com o buraco na camada de ozônio, a exposição prolongada ao sol tem provocado um aumento expressivo de incidências de câncer de pele, particularmente um bem agressivo chamado melanoma, já considerado endêmico.
Existe aí um certo conflito. Ao mesmo tempo que tomar sol nos ajuda a sintetizar a vitamina D, difundiu-se cada vez mais o uso de bloqueadores solares a fim de protegermos nossa pele contra os raios ultravioleta. Esta espécie de dilema científico moderno fez surgir um paradoxo: o Brasil, sendo um país tropical e com bastante sol, tem índices absurdos e alarmantes de pessoas com deficiência de Vitamina D! É factível que aconteça num país como a Finlândia, mas não em terras tupiniquins.
Uma vez formada no nosso corpo (e maximizada pela ingestão da Vitamina A), a Vitamina D ajudará a aumentar a absorção de cálcio no nosso trato intestinal, e também a desintegrar e assimilar o fósforo. Estes dois minerais são a essência, os “tijolos” dos nossos ossos — extremamente necessários para formação óssea apropriada e imperativos para o crescimento normal nas crianças. E lembrando que nossa coluna vertebral envolve 26 dos 206 ossos (12.6%) do nosso corpo.
Diferentemente da Vitamina C (solúvel em água, e portanto facilmente eliminada do nosso corpo), a Vitamina D é solúvel em gordura, o que significa que ela não é facilmente eliminada. O excesso tende a se acumular no nosso corpo. Excesso pode gerar toxicidade. E esta toxicidade de Vitamina D pode levar a uma condição conhecida como hipercalcemia (excesso de cálcio no sangue). Esta afecção pode gerar calcificações nos tecidos moles, mais particularmente nas paredes dos vasos sanguíneos e rins, e provocar excreção excessiva de cálcio na urina.
Em casos mais extremos, a falta de Vitamina D pode gerar uma doença conhecida como raquitismo, que se caracteriza por má-formação, deformidade óssea e até escoliose (nós, Quiropraxistas, portanto, podemos nos deparar com casos assim no consultõrio). Também causa osteomalácia, que é uma espécie de “amolecimento” ósseo. Estamos, claro, nos referimos a osteomalácia como uma doença mais sistêmica, e não limitada a algumas poucas articulações.
Este hormônio (sim, a Vitamina D é considerada um hormônio) é um aliado extremamente benéfico no tratamento de fraturas, osteomalácia ou osteoporose, epilepsia, meningite, estresse e herpes zoster.
E, apesar de não existir por ora estudos conclusivos sobre o tema, parece que Vitamina D, com suas propriedades antivirais e imunomodulatórias, pode exercer um papel importante no combate a pneumonia e hiperinflamação — e, por tabelinha, o COVID-19. Um estudo no Brasil sugere que Vitamina D pode ajudar a prevenir e gerenciar infecções do trato respiratório. Outro estudo conduzido na Universidade de Turim observou que parte dos pacientes infectados tinham baixos níveis de 25-hidroxi-vitamina D (25OHD) e então relacionou hipovitaminose de Vitamina D ao Covid-19 — como também sugere esta pesquisa — e refutada por outra. Mas esses baixos níveis já não seriam endêmicos na população?
Não obstante, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), em nota de esclarecimento, avisa que “não existe, até o presente momento, nenhuma indicação aprovada para prescrição de suplementação de vitamina D visando efeitos além da saúde óssea”. Mesmo que suas possíveis ações extra-esqueléticas sejam temas de interesse científico, vale lembrar que não se deve ingerir Vitamina D como se fosse suco. Acumulação em excesso no organismo causa toxicidade. Melhor ir com calma.
A Vitamina D também pode trazer certos benefícios para o tratamento de cervicalgias, dorsalgias e lombalgias, bem como dores ciáticas e artrite. Apesar de observados clinicamente efeitos benéficos até em cãibras nos membros inferiores, este efeito não é corroborados por pesquisa. Mas ainda assim, taxas normais de Vitamina D parecem mesmo contribuir para a saúde de nossa coluna vertebral — nem que sejam somente pela questão óssea.