Que cigarro faz mal todo mundo sabe. É público e notório o relacionamento entre o hábito de fumar e a hipertensão, aterosclerose, trombose, infarto do miocárdio, derrame e tantas outras afecções. O que nem todo mundo sabe é que tabagismo pode potencialmente fazer mal a coluna.

Com pouco mais de 4000 componentes conhecidos (e poucos que foram efetivamente isolados), a “fumaça de cigarro que é tragada do tabaco para a boca de um fumante ativo é conhecida como fumaça convencional“.

“A fumaça por fluxo lateral (sidestream) é a fumaça emitida pelas pontas acesas de um cigarro”.

“A fumaça convencional do cigarro compreende 8% de alcatrão e 92% de componentes gasosos. A fumaça ambiental do tabaco resulta da combinação da fumaça do fluxo lateral (85%) de uma pequena fração da fumaça convencional exalada (15%) dos fumantes. A fumaça do fluxo lateral contém uma concentração relativamente maior do componente gasoso tóxico do que a fumaça convencional. De todos os componentes conhecidos, a nicotina, um componente da fase do alcatrão, é a substância viciante da fumaça do cigarro” (Ambrose & Barua).

E é justamente a questão da nicotina que diz respeito a nós, Quiropraxistas. Dr. Rogério Kipper Picada, cirurgião de coluna com especialização nos Estados Unidos pela Twin Cities Spine Center, de Minneapolis, MN, em resposta a uma entrevista sobre os efeitos do cigarro, alertou na seção de cartas da Revista VEJA (09/06/2004) para os efeitos da nicotina sobre dores nas costas:

“O efeito do cigarro sobre os discos intervertebrais é a diminuição de sua nutrição, que leva à desidratação e à instabilidade, provocando lombalgia. Outro problema é a pouca chance que o fumante tem de integração dos enxertos ósseos utilizados nos tratamentos cirúrgicos dessas instabilidades vertebrais. Isso é tão sério que nos Estados Unidos o fumante precisa abster-se do uso do cigarro por um período de até um ano antes de ter sua cirurgia de coluna realizada”.

Isso porque nicotina interfere com a absorção da Vitamina C. Um estudo canadense colocou fumantes e não-fumantes com biótipos parecidos numa dieta deficiente em Vitamina C, e comprovou em exames de sangue que os fumantes tinham 30% menos dosagem de Vitamina C no sangue do que as não-fumantes.

A principal função da Vitamina C é ajudar a formar e manter uma proteína chamada colágeno, necessária para formação do tecido conjuntivo — uma espécie de “cimento” intercelular que “gruda” o corpo das células uma na outra, e ajuda a manter a integridade dos tecidos. A pele, ossos e ligamentos são formados por este tecido conjuntivo.

Nossa coluna, composta de 26 ossos (24 vértebras, sacro e cóccix), 23 discos de fibras de colágeno (externamente) e fibrocartilagem (internamente), e um sem-número de ligamentos, é diretamente afetada pela Vitamina C.

A estrutura molecular da Vitamina C, ou ácido ascórbico, (C6H8O6) é muito parecida com a da glicose (C6H12O6), e prima pela simplicidade. Foi somente isolada há pouco mais de 70 anos. É a menos estável das vitaminas, e muito sensível ao oxigênio. É por isso que o suco de laranja se torna amargo quando exposto ao ambiente. O ácido ascórbico é considerado o menos tóxico de todos os nutrientes. Só perde para a água.

Contato prolongado com o calor do nosso corpo inutiliza a Vitamina C, e por isso, é impossível estocá-la. Solúvel em água, o excesso é sempre eliminado pela urina. E como nosso corpo, diferentemente dos ratos, não possui as enzimas necessárias para converter glicose em ácido ascórbico, a única maneira de obtê-lo é pela alimentação.

Um corpo com deficiência severa de Vitamina C perde sua integridade. Ossos são enfraquecidos, colágeno não se forma apropriadamente, e paredes dos vasos sanguíneos se rompem, causando hemorragia, particularmente em áreas de maior estresse como as gengivas. Esta doença assolou a humanidade com o nome de escorbuto. Há registros dela em papiros egípcios de 1550 A.C.. Era muito comum em longas viagens de navio, até um dia em que um felizardo descobriu que consumir laranjas à bordo evitava o mal.

A maior parte da Vitamina C é absorvida pelas mucosas da boca, estômago e intestino delgado. Mas a absorção pode ser reduzida por fumo, estresse, febre alta, uso prolongado de antibióticos ou cortisona, inalação de DDT ou emanações de petróleo, e ingestão de aspirina ou outros medicamentos específicos.

A absorção apropriada da Vitamina C é imprescindível no tratamento da coluna, principalmente nos casos de discopatia degenerativa e hérnia de disco, e pode ficar comprometida pelo uso indiscriminado e prolongado de analgésicos.

Deixar de fumar proporcionará uma coluna mais sadia e com aproveitamento melhor da Vitamina C — sem contar com outros benefícios mais óbvios e tangíveis.