A data de 25 de abril ficou conhecida em 2013 como o Dia Nacional de Alerta aos Planos de Saúde. De acordo com o Conselho Federal de Medicina (CFM), médicos credenciados de todo o país “decidiram pela suspensão do atendimento a consultas e outros procedimentos eletivos (…)”. A paralização ocorreu em nove estados: Distrito Federal, Bahia, Goiás, Minas Gerais, Piauí, Rio Grande do Sul, Rondônia, São Paulo e Sergipe. A categoria reivindica melhores honorários “com reajustes determinados em contratos”, e “o fim da interferência no trabalho médico, no momento do diagnóstico e da prescrição”, segundo o CFM (Fonte: Jornal O Globo, 25/04/2013).
Parece que a data não pegou, não. Em 2024, “durante um encontro de lideranças de toda a região (de São Paulo), na sede da Associação Paulista de Medicina, (definiram) o 18 de março como Dia de Alerta aos Planos de Saúde e à ANS, além de orientações para conduzir as negociações com operadoras (…), conforme Lei 13.003″. Ou seja, a luta continua, mas com datas diferentes.
Volta e meia protestos como este têm pipocado no nosso país — apesar de terem arrefecido nos últimos anos. A classe médica deflagrou em 2011, o Movimento Nacional de 7 de abril. A ideia era todo ano ocorrer uma manifestação nacional. De um lado, médicos que não gostam da intromissão dos planos de saúde; do outro, planos que tentam conter custos e obter lucros.
Curiosamente, intencional ou não, o 7 de abril é também o Dia Nacional da Luta em Defesa da Classe Trabalhadora, em que organizações como a CUT, CTB e MST costumam fazer algum tipo de manifestação. Então talvez esta tenha sido a razão desta data também não pegar.
Para melhor ou pior, vivemos numa sociedade capitalista. O principal objetivo de qualquer empresa é oferecer um serviço de qualidade. A satisfação do cliente permite assim seu crescimento. E a prática de maximizar lucros e minimizar custos não implica necessariamente em ser mercenário ou mercantilista. É uma questão de sobrevivência.
O problema reside aí. Ambas as entidades (médicos e planos de saúde) almejam justamente isto: oferecer qualidade com maior lucro e menor custo. O cabo-de-guerra ocorre quando uma quer alcançar tais objetivos em detrimento da outra.
O lucro não é o vilão da história. Não é motivo de vergonha. Lucro é o que move a nossa economia. Quando um médico reivindica melhores honorários, ele pleiteia um ganho digno para viver bem. Afinal de contas, para oferecer um serviço de qualidade (uma excelente consulta médica), o profissional tem que ser compensado por isso.
No entanto, as operadoras têm que lidar também com um fenômeno mundial que vem ocorrendo na classe médica: o aumento absurdo de exames complementares como ferramenta diagnóstica (ver Artigo 141). A boa e velha observação foi para o brejo. Examinar o paciente leva muito tempo e os planos não pagam bem. Logo, fazer um diagnóstico baseado nos exames complementares virou regra. E as solicitações sofreram um drástico aumento nas últimas duas décadas.
Tendo que pagar mais por exames caros, as operadoras vão achar outra maneira de cortar custos: metendo o bedelho nos assuntos dos médicos, desautorizando-os.
E também diminuindo a frequência dos reajustes dos seus honorários.
Nesta situação, não ganha ninguém. Irrita e frustra o cliente/paciente, minimiza o lucro e maximiza o custo. Compromete a qualidade do serviço. Mina assim o objetivo primordial de qualquer empresa nesta nossa sociedade capitalista. Todos perdem.
Mas há solução? Há. Uma delas consiste em procurar maneiras de efetivamente tratar sem gerar tanto ônus para as operadoras. Lançar mão de uma terceira via não vai, necessariamente, subtrair os ganhos médicos. Pode, inclusive, ser altamente benéfica, sem temores de reservas de mercado. Mas envolve boa vontade de ambas as partes.
Um exemplo: na província de Ontário, no Canadá, em que dores de coluna afetam “84% da população economicamente ativa (..) e perdem somente para resfriados como motivo para faltar ao trabalho”, foi feito uma pesquisa pela pela OCA (Ontario Chiropractors Association), que descobriu que 93% “dos clínicos-gerais tratam pacientes com dores lombares”. E 55% destes relatam alguma dificuldade para trata-los sem uma modalidade complementar. Por isso, de acordo com o Dr. Robert Haig, CEO da Associação, “pacientes com dores lombares crônicas são indicados para (cirurgia), mesmo que 90% deles não sejam candidatos (a tal procedimento). Eles também são indicados para fazer exames caros e (nestes casos) desnecessários, como ressonâncias magnéticas”.
Tratamento com “Quiropraxistas, fisioterapeutas (e) massoterapeutas” resultou em menos solicitações de exames caros, menos cirurgias, mais satisfação dos pacientes (“74%”), e menos dias perdidos de trabalho. Ganham todos: os planos, os médicos e os pacientes. (Fonte: revista Canadian Chiropractor, julho/agosto de 2012)
Olhaí uma solução que desoneraria planos de saúde e até poderiam tirar a pressão em cima da classe médica. Quiropraxia casaria muito bem com isso. Mas, como já dizia Winston Churchill, “melhorar é mudar; ser perfeito é ter mudado com frequência”. Mudança é uma coisa complicada: requer uma boa visão a longo prazo; e entender que um pequeno gasto a mais hoje pode significar uma grande economia amanhã.
Em meio a tantos protestos e datas, resolver pareceria tão simples, né? Deveria ser. Porque, afinal de contas, é apenas uma questão de custo-benefício.