Para os canadenses, Sidney Patrick Crosby é algo assim como o Pelé do hóquei. Já no seu segundo ano jogando pela Liga Nacional de Hóquei (NHL em inglês) sagrou-se artilheiro. Conquistou a Copa Stanley em 2008/09, tornando-se o mais jovem capitão a erguer o troféu. O mundo estava mesmo sorrindo para Crosby. Pelo menos até janeiro de 2011. Neste dia, o sujeito levou uma tremenda trombada durante o jogo. Até aí tudo bem. Ossos do ofício. O hóquei tem dessas coisas.
Mas esta porrada causou uma bela concussão cerebral. Não houve sangue. Não houve fratura. Tudo parecia bem no seu cérebro. No entanto, Crosby não ficou legal. Ninguém sabia explicar por quê. O campeão começou a ficar tonto, a ter visão turva, e a sentir uma náusea tão violenta que o impedia de dirigir e até de assistir televisão. Aparentemente, sua carreira estava encerrada. Aí ele ouviu falar de Ted Carrick.
Frederick Robert “Ted” Carrick, DC, PhD, MS-HPEd, formado pela CMCC, pós-graduado em Metodologia de Pesquisa e Métodos Quantitativos pela prestigiada Harvard, fellow da Bedfordshire Centre for Mental Health Research associada com a também prestigiada Universidade Cambridge (além de doutorado em filosofia pela Universidade Walden), conta com décadas de experiência em diagnóstico e tratamento de disfunções neurológicas. Goza de grande prestígio na comunidade científica — ao ponto de seus colegas (Quiropraxistas e médicos) mandarem-lhe casos que ninguém consegue dar jeito. Ted Carrick lecionou nas universidades americanas de Quiropraxia Logan, Parker e Life — além de dirigir um instituto que leva seu nome na Flórida.
“Líder mundial em educação da neurociência há mais de 40 anos”, o Carrick Institute, tem vários programas diferentes de ensino. Baseia-se no conceito de Neurologia Funcional (NF) — termo “usado para descrever o objetivo de, não só restaurar, mas efetivamente aumentar a função humana. (…) Integra diversos modelos de função cerebral com princípios consolidados de neurofisiologia & neurociência clínica e usa esta informação de uma maneira fácil de entender e aplicar”. Parte do princípio em que o ato de “estimular os vários sistemas receptores em intensidades e padrões específicos (…) promove otimização do sistema nervoso “.
Neurologia Funcional não é uma técnica de Quiropraxia — nem sequer é uma disciplina própria. É algo que muitas vezes até já é praticado em uma variedade de profissões da saúde, como, por exemplo, num otorrino fazendo reabilitação vestibular ou num fisioterapeuta encontrando uma forma mais eficaz de recuperar uma lesão muscular. Com isso, de acordo com o dr. Carrick, “há mais evidências publicadas na literatura do que alguém jamais poderia ler durante a vida”. Mas “simplesmente não é delineado como neurologia funcional” e este termo não vai ser encontrado no campo de busca de um periódico. É amplo demais.
NF é basicamente um sistema de análise. O que Instituto Carrick faz é unir e sistematizar o conceito com uma “crescente pegada de investigação numa vasta gama de tópicos e aplicações relacionados (…)” em que “muitas doenças frequentemente envolvem mudanças negativas dentro do sistema nervoso central que acabam promovendo e contribuindo mais ainda para (piorar) a doença inicial.” E quando o tratamento padrão falha, possuir conhecimento destes relacionamentos podem fazer uma diferença para o paciente. A chave é restaurar e otimizar a conectividade funcional através da neurogênese (criação de novos neurônios) e neuroplasticidade (habilidades do nosso sistema nervoso de refazer conexões e se auto-otimizar). Justamente por isso, o Instituto “tem sido associado há muito tempo ao trabalho em casos complexos, como acidente vascular cerebral, concussão e lesões cerebrais”.
É feito através de analises neurovisuais, proprioceptivas, somatosensórias, autonômicas, equilíbrio e marcha. E por minucioso exame físico e neurológico. Os exames “são muito específicos para o cérebro, sistema nervoso central e periférico no que diz respeito às ativações ambientais, sejam elas luz, calor, frio, paladar, cheiro, movimento ou sensações diferentes. Nós os examinamos e quantificamos, então certamente nossa disciplina é baseada em evidências. (…) treinamos médicos de todas as disciplinas da neurologia”. FN “não é específico para um neurologista Quiropraxista, um neurologista médico ou um dentista”. Inclusive “nossos alunos de cirurgia aprendem procedimentos cirúrgicos juntamente com uma ampla e profunda neurociência clínica [etc.]”, relata dr. Carrick.
“Aumentar a função humana ou melhorar a forma como o cérebro e o corpo trabalham juntos é algo que interessa a muitos profissionais de saúde, especialmente a Quiropraxistas. (…) Temos um nicho especial para (eles) e ensinamos-lhes ajustes ou manipulações muito específicas, juntamente com uma ampla e profunda neurociência clínica. (…) Quiropraxistas são uma escolha natural como estudiosos neurológicos. (…) são profissionais de saúde qualificados, com talentos e habilidades extraordinários nascidos em um modelo neurobiomecânico. As consequências da manipulação/ajuste da coluna vertebral são bem conhecidas pelos pacientes de Quiropraxia (…)”, afirma.
O tratamento que Crosby submeteu tem a ver com recondicionamento cerebral. Basicamente, seu cérebro teve que reaprender a deixar de sentir vertigem. Parece que surtiu efeito. Algumas semanas depois, já estava treinando com seus companheiros e havia acabado de ser liberado para contato. (Fonte: www.macleans.ca, 03/11/2011)
Efeito deve ter surtido. Porque alguns anos depois “conquistou seu segundo título da NHL” na temporada 2015/2016. “Dessa vez recebendo o Troféu Conn Smythe como melhor jogador dos playoffs, feito que ele repetiu” na temporada 2016-2017. De fato, “Crosby é um dos 27 jogadores de hóquei a conseguir o ouro triplo, com títulos da Copa Stanley, Campeonato Mundial e Olimpíadas“. Só Deus sabe o que teria acontecido se a vertigem não tivesse sido tratada corretamente. Ponto para o Dr. Carrick.
Sidney Crosby pode ser praticamente desconhecido no Brasil, mas todo mundo aqui já ouviu falar de Alexandre Pato. Advindo da mesma geração de Neymar e Ganso, Pato foi na sua época uma das grandes promessas do futebol jovem. O jogador fez seu nome no Internacional. E não demorou muito para ser transferido para o Milan, onde brilhou (particularmente na temporada 2009/10). O problema eram as frequentes lesões. Na vida de um jogador de futebol, elas são corriqueiras. No caso de Pato, porém, elas começaram a não o dar sossego a partir de outubro de 2010. Começou com uma lesão na coxa esquerda. Depois sofreu outra no ombro em maio de 2011. Um mês antes, a coxa direita chiou. Daí em diante, era lesão em cima de lesão na coxa. A ponto de comprometer a sua própria carreira.
“Após 14 minutos de disputa na derrota do Milan por 3 a 1 para o Barcelona, no jogo de volta das quartas de final da Liga dos Campeões”, Pato lesionou novamente a coxa esquerda. Foi a sua 14ª em apenas dois anos. O coordenador médico da equipe italiana, Jean Pierre Meersseman, não alimenta muitas esperanças. “Pato foi declarado clinicamente curado 13 vezes (…). Ele viajou para vários lugares, Alemanha, Estados Unidos, consultou muitos médicos. Já não sei o que fazer”, disse. O problema persistia.
O interessante de Jean-Pierre Meersseman é que ele é também Quiropraxista graduado da Palmer College of Chiropractic in 1971. Foi discípulo de grandes e notáveis Quiropraxistas como Major B. de Jarnette (o criador do S.O.T.), Clarence Gonstead e Ted Morter — além de ter colaborado com George Goodheart para estabelecer os princípios e parâmetros da Cinesiologia Aplicada. O próprio Meersseman foi o “fundador do relacionamento entre oclusão dental e postura” e vem ensinando na Europa e ao redor do mundo por mais de 40 anos. Em 1990 estabeleceu o JPM Chiropratica e nunca mais parou de tratar atletas. Portanto, é muito difícil para um sujeito desses não conseguir tratar um atleta de elite com sucesso. Mas…
E quando ninguém consegue dar jeito, contataram então o doutor Ted Carrick. No final de março (de 2012), Pato e uma comitiva do Milan foram para a Universidade Life para fazer alguns exames com o Quiropraxista. Doutor Carrick afirmou que os resultados, após testes iniciais, foram “encorajadores”. Microtraumas, imperceptíveis ás vezes, “podem afetar os músculos dos membros”. (Fonte: Bettor.com)
De acordo com Carrick, os impulsos que chegam para os músculos do atacante pelo sistema nervoso podem vir acompanhados por um sistema de defesa que nem sempre é justificado. Como resultado, movimentos potencialmente incorretos podem levar a repetidas lesões. Em teoria fazia sentido. E no caso das lesões inexplicáveis e recorrentes de Alexandre Pato, seria uma ferramenta diagnóstica a mais para tentar compreender e tratar melhor o atleta. Em teoria.
Restava saber se daria resultado. Acabou não dando.
Claro, Meersseman pediu cautela na época. Ressaltou que não se resolve em três semanas um problema de mais de dois anos. No entanto, o mundo esportivo esperou, ansioso, que o tratamento do doutor Carrick surtisse resultado no Pato.
Contrário de Sidney Crosby (que apresentou um problema inteiramente diferente), desta vez o tratamento de Carrick não surtiu muito resultado no Pato, não. Não se sabe se por questões psicossomáticas, fisiológicas, se o tratamento foi cumprido à risca ou simplesmente por não ter dado muito certo.
Pato “quase foi contratado (naquele período) pelo Paris Saint-Germain por 28 milhões de euros”. O então proprietário do Milan, Silvio Berlusconi, bloqueou a transferência no último minuto. Desde então seu valor de mercado diminuiu consideravelmente em consequência das lesões”. Convocá-lo para a Seleção Brasileira Olímpica de 2012, nem pensar. (Fonte: www.terra.com.br/esportes, 05/04/2012)
A transferência de Alexandre Pato para o Corinthians em janeiro de 2013 quebrou um recorde: “foi o jogador de maior preço adquirido por um clube brasileiro até então” (15 milhões de euros na época). Mas sua passagem por lá foi considerada decepcionante. O mesmo se aplica ao período no São Paulo, no Chelsea e no Villarreal. Após um breve período no Orlando City, “atualmente está sem clube”.
Não se sabe se as lesões do jogador tiveram algo a ver com esses percalços. Pato acabou sendo um daqueles craques que nunca aconteceu. Uma pena não termos testemunhado o que poderia ter sido.
Em tempo: Não obstante, o Instituto Carrick continua fazendo jus a sua reputação de conseguir resultados e resolver casos difíceis. Temos em torno de 30 Quiropraxistas tupiniquins que completaram o programa. E um dos seus mais renomados professores, o dr. Adam Klotzek, esteve no Brasil algumas vezes como palestrante em congressos.