Faltava inspiração para um desfile de moda no filme Prêt-à-Porter (1994), do saudoso diretor Robert Altman. Não havia mais como chocar ou causar impacto. Botar as modelos para desfilarem nuas foi a solução. Um desfile de moda sem roupa.
Prêt-à-Porter foi uma sátira. Mas, como todas as sátiras, contém um fundo de verdade. A moda pode ser, sim, meio bizarra. Ou bizarra e meio, dependendo do gosto.
O francês Hubert de Givenchy (1927-2018) revolucionou o pretinho básico. Suas formas limpas já eram sensação na década de 60. Audrey Hepburn vestiu um de seus modelitos no filme Bonequinha de Luxo (Breakfast at Tiffany’s, 1961) e imortalizou o estilista, que se aposentou em 1995. Foi substituído pelo britânico Alexander McQueen (1969-2010). Este aí, deprimido pela morte da mãe, cometeu suicídio. Mas antes, legou para a posteridade vestidos inspirados na obra da pintora Frida Kahlo (ver artigo 144). As peças evocam o esqueleto e a coluna vertebral, como podem ver abaixo:

Já a italiana Elsa Schiaparelli (1890-1973), inspirou muitos de seu trabalhos nas pinturas surrealistas de Salvador Dalí (ver artigo 88). Ela criou este tétrico e esquelético vestido preto nos idos de 1938, mesmo com a Segunda Guerra Mundial nos seus calcanhares — ou talvez justamente por isso. Sinal dos tempos? Confirem e tirem suas conclusões:

Christian Lacroix, considerado um dos estilistas mais influentes da moda desde os anos 80, bolou uma série de colares osteologicamente inspirados em caixas torácicas e na coluna vertebral. O colar “Costela de Adão”, inspirado (ou não) pelo costureiro francês, evoca uma imagem anatômica ou botânica — dependendo do ponto de vista do apreciador.

E dentre os millenials deste Século XXI, os prováveis campeões das bizarrices em prol da moda (ou poesia em prol da moda, dependendo do ponto de vista) são os gêmeos idênticos canadenses Dean and Dan Caten (Catenacci na certidão de nascimento). Os estilistas, donos da festejada loja DSQUARED2, conseguiram elaborar um salto alto tão estranho que até Mortícia da Família Adams pensaria duas vezes em usar (ou não).
Os saltos imitam uma coluna vertebral. Analizando antropologicamente, seria até uma noção interessante, se não fosse meio macabra. Mas deve aguçar a curiosidade e o interesse de qualquer Quiropraxista.

Concluindo: no que diz respeito à moda, gosto não se discute.