Os dentistas reconhecem de antemão o paciente estressado ao observarem sua arcada dentária. O ato atípico de ranger os dentes, sobretudo à noite (bruxismo), provocará algum tipo de desgaste. Os músculos de mastigação, especialmente o masseter e o temporal, estarão sempre tensos. Vale lembrar que a dentina, material de que o dente é composto, é bem mais resistente do que o disco intervertebral, e até do que o próprio osso. Concluindo: se o estresse danifica os dentes, imagine o estrago que faria na coluna?

A tensão muscular excessiva causa os mesmos danos no disco quanto ter postura incorreta ao trabalhar. Estes músculos tensos incluem também aqueles que estabilizam as vértebras, e causam compressão no disco. Com o tempo, favorecem o surgimento de discopatia — um processo em que o disco sistematicamente desidrata e “afina”. Esta diminuição de espaço discal entre duas vértebras faz com que o orifício de conjugação (forame intervertebral) se estreite, e a raiz nervosa que sai dele se torne suscetível a qualquer agressão postural aparentemente banal, como sentar, dormir, andar, torcer o corpo e levantar peso.

A pessoa acometida de estresse crônico freqüentemente sofre de insônia, ou tem sono de má qualidade. Ocorre que o disco também necessita de uma boa noite de sono. Após um dia típico de estresse cotidiano, adicionado à posição sentada, a musculatura “aperta” uma vértebra sobre a outra, causando uma pressão expressiva sobre o disco — e ele perde altura. Porém, se o descanso noturno for adequado e a musculatura relaxar, o disco retoma sua forma original — o que significa que hidratou, recebeu alimentos por difusão — e segue a desempenhar sua função de amortecedor de choque da coluna (entre outras). Considere agora uma pessoa que não durma bem ou até que sofra de insônia. A musculatura que une estas vértebras não relaxará suficientemente, e o disco não vai ter como recuperar a estrutura perdida durante o dia. Sua nutrição ficará comprometida. E mais cedo ou mais tarde, a coluna desta pessoa terá que responder por isto. Porque o disco, se mantido nesta condição por anos a fio, inevitavelmente apresentará distúrbios internos como a perda de água no núcleo pulposo, e enfraquecimento das fibras elásticas do anel fibroso. Chegará num ponto em que estas alterações irão atingir um caráter irreversível — a famigerada discopatia degenerativa. A hérnia de disco é uma conseqüência natural disso. Afinal de contas, onde há fumaça, há fogo.

Não obstante, sabemos que o estresse até um certo ponto é benéfico para o organismo — e crucial para nossa sobrevivência. Mas este excesso constante de cortisol e adrenalina no corpo, causado pela roda viva em que vivemos, frequentemente cobra um preço caro.

Um novo enfoque à esta situação é se dar conta de que o estresse em si sempre irá existir. Afinal, sempre teremos contas a pagar, compromissos a cumprir, e filhos para criar. E isto não mudará nunca. O que podemos modificar é a maneira como processamos o estresse. E tentar, pelo menos, criar válvulas construtivas de escape.

  • Fará um bem enorme se permitir a tirar férias periódicas quando possível; tentar relaxar com passeios; ir ao clube ou à praia nos fins de semana; ou, pelo menos, parar e respirar um pouco.

  • Estudos comprovam que um cochilo de 10 a 15 minutos depois do almoço diminui o risco cardíaco em 37%, e várias empresas estão estimulando seus empregados a isso, porque observaram que esta pequena soneca acaba aumentando a produtividade. Todo mundo sai ganhando.

  • Atividades físicas como ioga, Pilates, ou academia (com acompanhamento adequado), ir à sauna, fazer meditação transcendental — tudo isso tem seus méritos.

  • É comprovado que as pessoas mais otimistas e bem-humoradas são mais relaxadas — ou pelo menos conseguem processar melhor o estresse. Fazem do limão uma limonada.

Em suma, o importante (e dentro de nossas limitações) é tentar relaxar.