O Canadá é o segundo maior país do mundo em área total. Só perde para a Rússia. E conta com pouco menos de 33 milhões de habitantes. Apesar da sua grande extensão territorial e baixa densidade demográfica, este gigante gelado é a quintessência do progresso. O país tem um ótimo sistema educacional e o de saúde é referência no mundo todo. Os Estados Unidos nem passam perto da civilidade canadense.

Por isso, caros leitores, quando um país dessa estirpe resolve banir o uso de andadores para bebês, é porque deve ter tido um excelente motivo. E merece uma investigação mais detalhada.

Boa parte dos pediatras brasileiros concorda com esta proibição. Para eles, de acordo com uma nota na revista VEJA (23/12/2009), “andadores aumentam o risco de quedas e traumatismos. Como as rodinhas atingem uma velocidade que a criança não está preparada para controlar, permitir seu uso é como dar a chave do carro a alguém que não tem habilitação para dirigir”. Exagero? Talvez. Mas…

Os diletos leitores hão de concordar que é imprescindível para um bom desenvolvimento motor e de equilíbrio a criança explorar o ambiente e objetos à sua volta. O bebê observa os adultos e o que eles fazem. E os imita.

Não existe uma idade certa para andar. O bebê só vai fazê-lo quando sentir-se apto para tanto. Os primeiros passos ocorrem entre os 9 e 18 meses. Neste ínterim, a criança engatinha e desenvolve suas curvas fisiológicas na coluna (cervical e lombar). Cai, se machuca, levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima. São lições de valor incalculável sobre a hostilidade do ambiente e um ótimo aprendizado para lidar com frustrações. O bom desenvolvimento do seu sistema neuropsicomotor depende disso.

O andador reprime todo este processo. Não faz a criança andar mais rápido. De fato, para a maior parte dos pediatras e fisioterapeutas, até atrapalha o desenvolvimento motor e atrasa os primeiros passos. “A criança se apóia sobre o equipamento como se fosse uma bengala, o que afeta o desenvolvimento do equilíbrio”, diz a nota da VEJA. O andador, para Gláucia Somensi Alonso, fisiatra da AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente), muda a forma como as crianças exploram o ambiente. Ela afirma que “as que usam o apoio não aprendem a cair nem a se levantar”. Como se isso tudo não bastasse, ainda por cima causam muitos acidentes.

Apesar de não existirem dados confiáveis neste aspecto, não seria surpresa se os andadores pudessem também provocar lesões nas articulações, na coluna e nos joelhos do bebê. Principalmente quando a criança já apresenta algum problema pré-existente.

As opiniões sobre os efeitos nocivo do uso de andadores não são convergentes. A personal trainer Denise Carceroni, autora do blog CriandoCrianças, formada em Educação física pela USP e pós-graduada em “Atividade Física Adaptada a Saúde”, informa que existem, de fato, dois tipos de andadores: os que possuem uma cadeirinha no meio e os que são empurrados tal qual um carrinho de supermercado. O primeiro é o grande vilão. Ela concorda que este possa causar problemas ortopédicos, mas ressalva que, “para chegar a causar uma lesão, seria necessário seu uso frequente e por longos períodos”. No entanto, a blogueira reconhece que “o brinquedo pode virar com facilidade ao tocar algum obstáculo”, seja ele um sapato ou degrau. De fato, “os casos mais graves são os de quedas de escadas”, diz o pediatra Danilo Blank, do Departamento de Segurança da Sociedade Brasileira de Pediatria.

O segundo tipo de andador é tido como mais moderno. Nele, a criança não senta. Apenas apóia-se para empurrá-lo, com a vantagem de não ficar confinada. Este tipo o Canadá não baniu.  Mas melhor mesmo, caros leitores, é deixar seus filhos livres para engatinhar seu próprio caminho. Afinal de contas, nossa geração já peca por proteger demais as suas crianças. E definitivamente não precisamos usar andadores como babás.

Sem eles, nossos pimpolhos aprenderão a lidar melhor com as agruras da vida. Mas com, pelo menos, as articulações preservadas, as pernas fortes e uma coluna mais saudável.