Fibromialgia é mesmo uma condição elusiva. Não se trata de uma doença — pelo menos na opinião deste que vos escreve. É, na verdade, uma síndrome caracterizada por dores musculares em boa parte do corpo. Tais dores não seguem um script fisiológico normal: o fibromiálgico sofre de distúrbios na percepção e no processamento das mesmas. Ele, ou melhor, ela (já que é considerada uma condição de prevalência feminina) não sente dores como o restante 96% – 98% da população.

Não há exame formal que seja capaz de diagnosticá-la. A Associação Brasileira de Reumatologia recomenda pressionar de 18 a 24 pontos específicos no corpo.

Se a dor aparecer em, pelo menos, 11 deles por um período de três meses, está caracterizada então a elusiva fibromialgia.

Quase todos os fibromiálgicos apresentam também discopatias degenerativas; protrusões e/ou hérnias discais; e lesões condizentes com esforço repetitivo (bursites, tendinites, síndrome do túnel do carpo, etc.). No entanto, nem todo mundo que sofre de hérnia discal ou L.E.R./Dort desenvolve, necessariamente, fibromialgia. Esta equação é um pouquinho mais complicada.

A síndrome se apoia num tripé:

  • o físico, cujas manifestações já foram descritas acima;

  • o fisiológico, que engloba distúrbios hormonais (tiroxina, dopamina, serotonina, hormônio do crescimento, entre outros);

  • e o psicológico (depressão, insônia, estresse prolongado, transtornos de ansiedade, e por aí vai).

Este último apoio do tripé é constantemente deixado de lado justamente por não ser tangível como os outros dois. Mas talvez a questão psicológica seja o fator mais importante dos três.

Para complicar ainda mais a equação, observamos frequentemente no consultório uma possível relação genética com a fibromialgia. Em outras palavras, uma mulher que sofre de fibromialgia tende a vir de uma mãe fibromiálgica e tende a gerar uma filha com a mesma condição.

Um estudo conduzido no Canadá pela Universidade McGill de Montreal revelou que ratinhos são capazes de transmitir estresse para os suas crias. Ou seja, ratinhos ansiosos geram filhotes ansiosos. A ratinha mamãe que vive num ambiente perigoso precisa, de alguma forma, transmitir este estresse para sua prole. Senão, os filhotes não sobreviveriam num lugar hostil. Ocorre que o estresse e a ansiedade inevitavelmente compromete a atenção materna. Por consequência, reduzem-se os “grupos metílicos (…) coligados ao gene do receptor” que produz cortisol, o “hormônio do estresse”. As lambidelas que a ratinha-mamãe dá nos filhotes durante a primeira semana de vida causam, por incrível que pareça, uma mudança no DNA dos ratinhos nos genes desses receptores. E os filhotes adquirem a habilidade de ficarem mais estressados do que se fossem criados por uma ratinha tranquila.

E se, de alguma forma, este fenômeno acontecesse com seres humanos? Somos mais sofisticados cognitivamente do que ratos, é verdade. O processo, quem sabe, poderia envolver produções de serotonina, dopamina, cortisol, etc. transmitidos de alguma forma pelo toque do acalanto ou até pelo aleitamento materno? Ou será que, justamente por sermos mais complexos, a questão penderia mais para o lado comportamental? Poderia uma geração aprender padrões de dor com a outra?

É. Fibromialgia é de fato uma síndrome complicada. E elusiva.

A boa notícia vem também do Canadá, noutro estudo publicado numa edição recente da revista médica americana Science Translational Medicine por pesquisadores da Universidade McMaster.

11 voluntários saudáveis foram submetidos a uma biópsia na coxa para colher uma amostra de tecido. Na segunda visita, pedalaram exaustivamente. Foi medido então “o número de fibras musculares machucadas por milímetro quadrado” para caracterizar contusão. Em seguida, uma das pernas era massageada “utilizando diferentes formas de pressão e movimento nos músculos extensores do joelho” – por 10 minutos. Após mais 10 minutos de descanso, os voluntários “fizeram uma nova biópsia”. E mais outra, “três horas depois dos exercícios”. Foi constatada uma maior “produção de mitocôndrias, as usinas (celulares) de energia”, bem como a presença de substâncias anti-inflamatórias. “O efeito foi similar ao observado após o uso de analgésicos”.

“A massagem reduz o tempo da recuperação muscular. E reduz o índice de lesão patológica, por exemplo, (em casos de) (…) estiramento muscular”, atesta Victor Liggieri, coordenador do setor de fisioterapia do Grupo de Dor do Hospital das Clínicas da USP (Revista Planeta, março de 2010).

É ótima notícia para os atletas. Mas pode ser também para os fibromiálgicos. Afinal de contas, massagem terapêutica poderia ser determinante para manter os pacientes com fibromialgia longe dos inevitáveis efeitos colaterais de analgésicos e anti-inflamatórios — especialmente em casos de uso crônico e indiscriminado.

Se ainda houver o auxílio de um Quiropraxista para liberar fixações articulares e assim manter viabilidade biomecânica, melhor ainda!

Custa o quê tentar? O resultado pode melhor e mais saudável do que a alternativa.