Escanometria Óssea é um exame de imagem. Trata-se de uma radiografia cujo objetivo é medir o comprimento para assim poder avaliar a diferença entre os membros inferiores. Trocando em miúdos: para ver se uma perna está mais curta do que a outra.

“O princípio em que este método se baseia é muito simples: na medida da diferença entre duas distâncias, a eliminação de iguais segmentos de cada uma não altera o resultado final. Sendo um método de fácil execução e que não exige nenhum equipamento específico, é realizado diariamente em qualquer serviço de radiologia geral.” O exame é simples e relativamente barato. Só tem um problema: é operador-dependente. Surpreendente, não? Afinal de contas, não dá para contestar o resultado de um exame radiológico. É uma foto, pura e simples. Quem interpreta pode até errar no diagnóstico, mas a imagem ainda estará lá esperando uma interpretação correta.

Veja mais sobre exames operadores-dependente no Artigo 219.

O segredo está no posicionamento. “Em 1953, o Dr. Juan Farill descreveu uma técnica prática para medir diferenças entre os comprimentos dos membros inferiores. (…) Porém, poucos especialistas tiveram a oportunidade de ler o artigo original do Dr. Juan Farill, e quase sempre aprenderam o método com alguém que também não o leu. Consequentemente, a forma de medir não é padronizada e resultados incorretos são obtidos, comprometendo o tratamento dos pacientes, o qual varia conforme o tipo e o grau da deformidade constatada.”

Médico ortopedista, o mexicano Juan Farill (1902-1973) foi uma autoridade absoluta no período em que viveu nas áreas de cirurgia ortopédica e reabilitação.

O exame é realizado em duas etapas:

  • Na primeira etapa, deita-se o paciente na mesa radiográfica absolutamente imóvel e com os pés juntos. A máquina tem que estar posicionada de uma maneira específica. O filme é dividido em três segmentos por duas placas de chumbo. Primeiro, radiografa-se separadamente o quadril, depois o joelho e por último os tornozelos.

  • Na segunda etapa (que não é muito realizada), “procede-se ao exame para medir a altura dos pés”. As plantas “devem estar totalmente apoiadas sobre a plataforma” e os pés rodados internamente 30° sobre uma plataforma de madeira cuja face posterior é revestida por chumbo. Esta etapa geralmente é omitida por desconhecimento ou porque, muitas vezes, a diferença é insignificante. Mas esta tal diferença acontece. E pode, sim, alterar as medidas.

Os resultados mudam por causa da “impossibilidade de manter amplo contato de todas as partes dos membros inferiores com a mesa, pois posições fletidas distorcem a imagem óssea nas radiografias. (…) Acentuadas deformidades em valgo, varo ou equino impedem avaliações seguras das diferenças entre as alturas dos pés.” O técnico tem que saber adaptar o posicionamento às variações estruturais do paciente.

Medir os membros no lugar certo é primordial:

  • A primeira medida é a do fêmur, “entre o ponto mais alto da cabeça femoral e a projeção do centro da incisura intercondiliana, em uma linha que tangencia os côndilos femorais”.

  • A segunda medida “é a distância do mesmo ponto da linha entre os côndilos femorais, até o ponto mais baixo da superfície articular da tíbia, no tornozelo”.

  • A terceira vai “do ponto mais alto da cabeça femoral até o ponto mais baixo da superfície articular da tíbia”.

  • A quarta “é feita do ponto mais baixo do tálus, na superfície articular tibiotársica, até a linha proporcionada pela lâmina de chumbo na face posterior da bancada de madeira” e mede, obviamente, a altura do pé.

Compara-se então soma das quatro medidas nas duas pernas.

Se houver diferença, o lado mais curto vai necessitar de palmilha. Mas carece de alguns cálculos, variações e considerações. Do ponto de vista de um Quiropraxista, por exemplo, terá que ser computada o desnível da pelve. Uma disfunção pélvica provoca discreta inclinação da perna e pode ocasionar numa ilusão de até 1 cm. de encurtamento.

Alguns anos atrás finalmente obtive a confirmação das minhas suspeitas acerca da volatilidade deste exame. Os pais de um rapazinho de 13 anos, preocupados com uma possível escoliose (que nunca desenvolveu), fizeram não uma, mas sete ou oito escanometrias ósseas do menino durante sua adolescência. Não deu outra: em todos os exames os resultados foram diferentes. Por isso é bom posicionar bem e saber calcular as medidas.

Clarence Gonstead, D,C. falava muito disso, era extremamente rígido em relação a posicionamento e até elaborou um cálculo matemático para estabelecer as reais medidas. A escanometria dos membros inferiores é um bom exame. Mas tem que ser feito corretamente — e é aí onde está a chave do problema.

(Fonte: Escanometria dos membros inferiores: revisitando Dr. Juan Farill: por Henrique Zambenedetti Werlang; Gabriel Antônio de Oliveira; Ana Maria Tamelini; Ben Hur Madalosso; Francisco da Silva Maciel Júnior. Radiologia Brasileira v. 40 nº 2 São Paulo mar./abril 2007)