O que é, afinal de contas, um exame operador-dependente?
Radiografias, ressonâncias magnéticas e tomografias são como fotos internas dos pacientes. Exceto talvez por uma questão de posicionamento aqui ou acolá, não há como contestar um bico-de-papagaio ou uma hérnia de disco, por exemplo. Eles estão lá e qualquer exame em qualquer lugar dará o mesmo resultado. Nesses ditos exames, o técnico que opera o aparelho adquire as imagens do paciente de uma maneira completa e automática. Cabe ao radiologista avaliar essas imagens e posteriormente laudar o exame. Se acaso outro profissional discordar do laudo por deixar de lado algum detalhe importante, esta “falta” pode ser “corrigida” — mas sempre posterior à realização desses tipos de exame de imagens.
Há exames, porém, cujos resultados podem variar — dependendo de quem os operam. Exames como estes são chamado, portanto, de “operadores-dependentes”:
Ainda assim há críticos dentro da medicina. Este estudo, por exemplo, relata por meio de uma pesquisa, a desconfiança médica acerca de exames operadores-dependentes — particularmente em relação a “hipervalorização desses exames (ultrassonografia e eletroneuromiografia) (…) nas disputas litigiosas e (…) na busca de afastamentos do trabalho junto à instituição previdenciária”. E revela:
Um dos autores do estudo acima, o renomado reumatologista Milton Helfenstein Jr, fez um alerta em declaração a Revista Brasileira de Ortopedia e Traumatologia que ultrassonografias e eletroneuromiografias fornecem, “frequentemente, resultados falso-positivos. Tal fato deve-se à baixa qualidade dos equipamentos, ao indevido manuseio técnico, ao curto tempo dispensado à execução dos exames e a falta de conhecimento de anatomia funcional e regional pela maioria dos operadores”. Particularmente em relação aos estudos eletroneuromiográficos, resultados falso-negativos estão entre “10 e 15%”, de acordo com o Dr. Halfenstein. “Entretanto, no nosso meio, os achados falso-positivos têm sido de ocorrência extremamente comum. (…) Cumpre salientar que muitas variáveis interferem na condutividade do nervo mediano: obesidade, dimensões do túnel, temperatura das mãos, entre outros. Uma possível interferência na rede elétrica do local onde o exame é realizado, a competência do operador e a qualidade do equipamento são fatores decisivos. Diversos estudos científicos demonstraram que a condutividade diminui com a idade, independentemente da existência de sintomas e, além disso, demonstraram que os resultados das eletroneuromiografias variam intensamente. Diversas são as causas desta síndrome, entre as quais destaca-se a idiopática, por sua alta prevalência na população em geral”, salienta o reumatologista.
O problema é basear a diagnose somente nos exames complementares — principalmente nos que são “operadores-dependentes”. Para Helfenstein, isto “pode trazer consequências indesejáveis, particularmente para os profissionais médicos que têm o hábito de transferir a responsabilidade do diagnóstico para tal exame complementar, desprezando a propedêutica médica” (ver Artigo 141).
Opiniões à parte, ressalte-se que o objetivo deste artigo não é desmerecer nem esculhambar os exames operadores-dependentes, e sim de chamar a atenção para um maior escrutínio na escolha e na recomendação do profissional capacitado que os fazem (como sabiamente explicou a dra. Roug) — e também de procurar não se basear e depender tanto assim destes exames.
Cabe a nós, Quiropraxistas:
Porque, lá do lado de lá, nestes tempos de planos de saúde, o que vemos tristemente em alguns minutos de atendimento médico é a troca da anamnese, do detalhado histórico familiar e do exame físico por um diagnóstico baseado quase que exclusivamente nos exames complementares. Adicionado às variáveis descritas neste artigo, contribui-se então para perpetuar o problema. “O estado clínico do paciente é muito mais importante do que suas imagens”, costumava dizer a dra. Peg Seron, DC, DACBR — outra Quiropraxista Radiologista que inspira este escriba.
Afinal de contas, a palavra “complementar” já diz tudo: serve para eliminar possibilidades, tirar dúvidas e ajudar a fechar a diagnose. O resto é com a gente.