Os casos de dores de coluna deram um salto quantitativo após a Revolução Industrial. A labuta do dia-a-dia até então envolvia atividades relativamente mais variadas. O desenvolvimento da produção em massa envolvia movimentos bem mais repetitivos — e isto eventualmente se tornaria um problema.
A partir de 1900, houve maior interesse em tentar explorar o motivo do surgimento de tantas dores de coluna. Depois de certas facilidades de trabalho como a invenção das máquinas e meios de locomoção como carro e trem; abundância de alimentos; e até roupas feitas em série, o ser humano começou a se sentar mais — posição esta que o disco sofre maior carga e pressão. Isto não poderia mesmo acabar bem. Os músculos da coluna, que se adaptaram ao longo dos séculos (ou milênios), permitindo assim um equilíbrio apropriado na posição ereta, foram impelidos, em menos de 60 anos, a lidar com uma nova (e sentada) civilização.
Este surto repentino de dores de coluna chamou a atenção dos acadêmicos e estudiosos, que se apressaram em pesquisá-lo. Em 1904, um destes notáveis, Sir W. Gowers concluiu que os músculos agiam sobre os nervos da coluna, e eram responsáveis pela maior parte do problema. Mais tarde, disfunções pélvicas como a Síndrome Sacroilíaca passaram a estar em voga. Em 1939, Barr e Mixter, durante uma operação de um paciente com intensa dores ciáticas, encontraram uma lesão no disco que pinçava o nervo. Ao remover a protrusão, as dores do paciente cessaram. A partir daí, tornou-se uma espécie de consenso culpar a hérnia de disco por todas as afecções da coluna.
Parte significante das intervenções cirúrgicas, porém, não pareciam resolver as dores do paciente à longo prazo. Este fato foi ficando cada vez mais óbvio à medida que as décadas se passaram. Porque então o paciente não melhorava após eliminada a suposta razão da dor?
Vale lembrar que, entrementes, nossa sociedade se tornava cada vez mais sedentária.
Por este motivo, uma nova (ou velha?) corrente de pensamento aflorou na década de 70, encabeçada pelos professores J. Cyriax de Londres e Renée Cailliet dos Estados Unidos. Os problemas de coluna eram mais ligados a questões musculares do que se pensavam, principalmente no que diz respeito à postura e ao esforço físico. Esta “descoberta” foi meio que um “Iluminismo” da coluna vertebral (vide Artigo 13).
Os músculos do pescoço só começam a funcionar e a formar a lordose cervical a partir do momento que o bebê consegue sustentar a cabeça. A musculatura lombar é estimulada ao engatinhar e ajuda a formar outra lordose fisiológica. Este formidável sistema de sustentação (06 camadas de músculos poderosos) permite estabelecer equilíbrio quando a criança começa a andar.
Esta musculatura tem como diferencial se ligar aos ossos, não por tendões como os do braço e do punho, mas por terminações tendinosas chamadas de aponevroses ou fáscias musculares, que ligam, por exemplo, apófises transversais às apófises espinhosas e atuam como um leme — determinando assim todos os movimentos da coluna. A fáscia adere no periósteo (membrana que cobre o osso e que é rica em terminações nervosas). Portanto, quando um músculo está tenso, ele exerce pressão no periósteo, que por si só já causa dores.
Sabemos hoje que tudo tem sua quota de contribuição – das disfunções pélvicas, passando pelos transtornos discais, e culminando em problemas musculares por sobrecarga, por movimentos repetitivos, por estresse físico ou emocional.
Considere uma pessoa que entra numa clínica com “torcicolo”. A posição antálgica seria causada por algum tipo de agressão — seja ela física ou química — à raiz nervosa de alguma vértebra (como uma hérnia de disco)? Seria por uma contração muscular que estivesse infligindo dor no periósteo? Seria por um pinçamento causado por uma vértebra articularmente disfuncional ao sofrer pressão por um músculo em pleno espasmo? Seria por uma questão emocional? Seria um pouco disso tudo?
Portanto, estaríamos tratando o paciente adequadamente ao desconsiderarmos a questão muscular?