Apesar dos pesares, nossa coluna é uma maravilha da evolução. Imaginem: 24 vértebras interconectadas trabalhando como se fosse uma só estrutura — 26 segmentos móveis incluindo o sacro e o cóccix. O sacro, composto por 05 vértebras fundidas, e o cóccix por mais 04, constituem então 33 segmentos vertebrais no corpo humano.

Este “número mágico” varia tanto para mais quanto para menos em aproximadamente um terço da população. Podem existir de 23 a 25 vértebras pré-sacras — a variação é na região toracolombar ou lombar. A região cervical, com 07 vértebras, é a que apresenta menos mudanças.

Esta estabilidade é uma constante em quase todos os mamíferos — até a girafa tem 07 vértebras no pescoço. As exceções são a preguiça-de-dois-dedos (6), o peixe-boi (6), o urso-formigueiro (8), e a preguiça-de-três-dedos (9). (Ver Artigo 47)

Mas ainda assim somos únicos. Antropólogos atestam que nosso andar bípede e ereto provocou um salto evolutivo significativo. O australopiteco que decidiu arriscar e descer das árvores para procurar alimento nas savanas africanas, adquiriu uma grande vantagem em relação às outras espécies. Alguns estudiosos afirmam que o cérebro humano se desenvolveu e alcançou tal grau de magnitude graças à esta marcha ereta.

Duvida? Basta observar um bebê de menos de 18 meses.

Note que a marcha de um infante tem semelhança à de um símio adulto (antropóide), como os chimpanzés, gorilas, orangotangos e gibões.

Existe um livro interessante publicado em 1982 pela University Park Press intitulado Backache, its Evolution and Conservative Treatment (Dor nas costas, sua evolução e tratamento conservador) que discorre sobre este assunto. Seu autor, um médico chamado David P. Evans, atesta que “temos somente que observar um infante tentar suportar seu corpo ereto ao aprender a caminhar para ver reproduzido a postura ortográdica (orthograde) de um grande símio antropóide. Observa-se que os membros inferiores são imperfeitamente estendidos; o corpo de inclina para a frente, e os braços seguram objetos para suporte”. Os antropóides não tem o desenvolvimento estrutural, muscular e esquelético adequado para suporte de peso do seu corpo superior sem que tenham que sustentar parte deste peso com suas mãos. Há de fato falta de musculatura glútea, pernas dobradas, e um andar desengonçado. Muitos dos antropóides têm mais destreza em árvores do que no chão.

Somente talvez o gorila aparente ter uma certa graça ao se locomover como bípede. E olhe lá.

H.F. Farfan, celebrado médico e velho conhecido dos Quiropraxistas, escreveu um curioso artigo publicado na revista Spine (vol. 03, no. 04, dezembro de 1978) intitulado “The Biomechanical Advantages of Lordosis and Hip Extension for Upright Activity” (As vantagens biomecânicas da lordose e extensão do quadril para atividade ereta), defende a tese de que somente o homem desenvolveu as curvas secundárias anteroposteriores — as lordoses cervical e lombar. Com isto, a coluna humana adquiriu uma resistência a força axial 10 vezes maior do que uma coluna sem estas curvas. Todos os mamíferos possuem cifose torácica. Entretanto, a lordose é única dos humanos. Nós temos o maior grau de flexibilidade lombar de todos os primatas. Farfan relata que “as mudanças do homem moderno permitiu o centro de gravidade do tronco ser trazido de volta e se instalar acima do acetábulo. Isto acabou resultando numa espécie de alongamento da coluna lombar e conseqüentemente numa lordose que é peculiarmente humana e somente associada com os poucos graus finais do tronco ereto”.

Utopicamente, não teríamos problemas de coluna. Mas os traumas, vícios posturais, estresse, o desgaste natural da idade, e a própria vida comprometem esta máquina perfeita. Não obstante, a coluna cumpre seu papel, considerando suas funções e responsabilidades. O advento da lordose permitiu à nossa espécie alcançar uma inédita eficiência biomecânica (até pelo menos a cadeira ter sido inventada).

Mas aí já é outra história…