A capacidade do ser humano de andar sobre duas pernas não se desenvolveu sem antes cobrar uma fatura. Nossa coluna vertebral teve que sofrer algum tipo de adaptação. Curvas na coluna tiveram que ser formadas para melhor distribuir e absorver o peso causado por esta “nova” posição. Músculos tiveram que ser aprimorados para sustentar tamanha empreitada.

Somos, claro, um trabalho em progresso. A raça humana ainda não chegou aos termos definitivos com a bipedestação. E dores de coluna são consequência disso.

Baseados neste conhecimento, deveríamos fazer o possível para preservar a nossa coluna vertebral. Mas não. Por toda nossa vida, somos bombardeados com cargas, estresses e vícios posturais que irão invariavelmente afetar nossa coluna e articulações.

A classe policial é particularmente afetada pela questão ergonômica do excesso de peso. Quase todos os policiais que tratamos na nossa clínica com dores de coluna reclamam de um herói que também lhes salvam a vida: o colete à prova de balas.

Quando as lombalgias, dorsalgias e cervicalgias se instalam, qualquer mudança da norma causa dor. “O colete, que pesa, em média, de 12kg a 14kg”, incomoda, e muito, quem está sentindo dores de coluna. Isso sem contar os acessórios, que têm que vir acompanhados do colete. Um policial tem que carregar “um revólver que chega a pesar um quilo (…), um bastão, um rádio transmissor, um celular operacional, um par de algemas e um bloco”. Ah, e ainda têm os coturnos. Tudo “tem de estar bem preso ao corpo. Isso porque em caso de perseguição a algum bandido nada pode se desprender do colete”.1

Este assunto rendeu até uma tese de mestrado em 2007. “313 PMs do sexo masculino e 30 do sexo feminino, atuantes no policiamento ostensivo do 4º BPM/I da PMESP” participaram do estudo. Pela natureza do trabalho, policiais sofrem “sobrecarga emocional, (…) além de ser submetidos a grandes pressões ocupacionais, fatores que afetam a saúde e o bem-estar”.

Destas 313 pessoas, “quase a metade desaprovam o colete quanto ao conforto e ao peso, entretanto, em relação ao conforto térmico, quase a totalidade o consideram ruim e péssimo e que prejudica a atividade policial, contribuindo para se sentir fadigado ao final do turno de trabalho”. “20% dos policiais apontou seu uso como causa determinante de problemas de saúde”. Este percentual, apesar de ser minoria, é bastante significativo. As faltas no trabalho e afastamentos por motivos de saúde oneram o erário e acabam por prejudicar a segurança da população. O que fazer, então?

Os policiais do estudo, mesmo considerando “o modelo adequado para a atividade policial, sugeriram que as medidas dos coletes sejam redimensionadas (…) (para) que o colete apresente um modelo mais confortável, menos quente e mais leve”. O estudo também sugere “um levantamento antropométrico (…) para a adequação de medidas e de molde do colete que melhor se aproxime do perfil de seus usuários e atenda seus anseios, oferecendo maior conforto e usabilidade, sem perdas em relação à segurança de proteção”.

A solução, então, é investir em prevenção. Diminuir o peso dos coletes é primordial, mas temos também que reforçar nossa estrutura muscular e biomecânica. Atividades físicas como natação e/ou Pilates (para tonificar nossa musculatura vertebral), e tratamentos como Quiropraxia (para alinhar e adequar melhor nossa coluna) podem significar melhor qualidade de vida para nossos policiais. A população agradece.

Fonte: 1. http://diariodesantamaria.clicrbs.com.br/rs/geral-policia/noticia/2014/01/sol-de-rachar-opeso-da-farda-do-colete-docoturno