O longevo programa humorístico semanal americano Saturday Night Live está no ar desde 1975. Seu produtor, Lorne Michaels, tem um talento nato para descobrir novos comediantes. De fato, boa parte dos humoristas de expressão dos EUA nos últimos 50 anos foi catapultada para o sucesso graças às participações no seu programa.
A lista é grande. Tem John Belushi (1949-1982) e Dan Aykroyd que juntos fizeram vários filmes — entre eles o clássico Os Irmãos Cara-de-Pau (The Blues Brothers, 1980). Bill Murray fez Os Caçafantasmas (Ghostbusters, 1984) com Aykroyd. Ambos já concorreram ao Oscar™: o primeiro por Encontros e Desencontros (Lost in Translation, 2003) e o segundo por Conduzindo Miss Daisy (1989). Chevy Chase fez mais sucesso por lá do que por aqui, mas estrelou (com Murray) em Clube dos Pilantras (Caddyshack, 1980), a franquia Férias Frustradas (National Lampoon´s Vacation), além do seriado Community (2009-2013). E esta foi só a primeira geração de Saturday Night Live — a turma da década de 70.
Dizem as más linguas que Chase é extremamente difícil de trabalhar — aparente razão pela qual saiu logo depois da 1ª temporada do Saturday Night Live e da 4ª temporada de Community. Sua carreira nos filmes declinou a partir da década de 90 e seu último trabalho foi em 2019 — o que não parece fazer muita falta, pois o ator é herdeiro de duas companhias milionárias.
Foi justamente na sua segunda geração, no começo da década de 80, que o humorístico lançou um então desconhecido jovem humorista de 19 anos que respondia pelo nome de Eddie Murphy. Esse estrelou megahits como a franquia Um Tira da Pesada (Beverly Hills Cop, 1984), O Professor Aloprado (The Nutty Professor, 1996), e foi a voz do Burro em Shrek (2001). Concorreu também a um Oscar™ por Dreamgirls – Em Busca de um Sonho (2006).
Na década de 90 em diante, foi a vez da terceira geração, com Mike Myers (a voz do próprio Shrek e dos filmes do agente atrapalhado Austin Powers), do extremamente talentoso (e meio sumido) Dana Carvey, de Adam Sandler (que até hoje faz comédias de sucesso — mas de gosto discutível), do saudoso Chris Farley (1964 – 1997), de Will Ferrell e, finalmente, de Chris Rock. Esse aí fez alguns filmes de sucesso (inclusive com o amigo Adam Sandler), mas, na sua maioria, como coadjuvante. Foi apresentador do Oscar™ em 2005 e 2016.
Quase todos os comediantes de Saturday Night Live começaram as carreiras no stand- up, em que interagem diretamente com o público, mas Chris Rock faz até hoje. Ultimamente, seu show de stand-up estourou por uma razão inusitada: levou uma magnífica bofetada de Will Smith em plena transmissão ao vivo do Oscar™ 2022 após uma piada de mal gosto. Fez história.
Em 2005, Rock desenvolveu o seriado cômico Todo Mundo Odeia o Cris (Everybody Hates Chris), mais ou menos inspirada na sua adolescência no distrito do Brooklyn, na Nova York de 1982. O nome fazia troça com o nome de outro programa, Raymond e Companhia (Everybody Loves Raymond — 1996 a 2005).
O Chris do seriado (interpretado pelo simpático Tyler James Williams) é um eterno sofredor. Seu irmão mais novo é bem maior do que ele e atrai todas as gatinhas. É o único negro da sua escola e ainda por cima não é chegado a esportes. Talvez por isso, só anda levando bordoadas dos valentões. Mas é um menino responsável e vai tocando a vida. O programa é narrado pelo próprio Chris Rock.
A mãe de Chris, Rochelle (Tichina Arnold), é uma mulher dominadora e enérgica. O pai, Julius (o sempre excelente Terry Crews), pega no pesado em dois ou três empregos. A vida não tem sido fácil para ele. Ganhar dinheiro é dureza. Julius, portanto, sabe exatamente o que cada coisa custa, até o último centavo (o seriado brinca muito com isso, como quando ele come “um dólar e sessenta e oito de galinha” para não ficar no prejuízo).
É. A vida é dura. Mas o velho Julius não reclama. Exceto por uma coisinha de nada… Louis, seu irmão mais novo — aquele Quiropraxista metido a besta.
No 8º episódio da 2ª temporada, intitulado “Todo Mundo Odeia o Dia de Ação de Graças” (aliás, todo episódio vem com o título “Todo Mundo Odeia” alguma coisa), Julius resolve fazer um banquete para impressionar o maninho. Só que troca os pés pelas mãos e nada dá certo. Ainda por cima tem que aturar Louis entretendo os convidados. O homem é um talento só. Dança, faz imitações, cozinha melhor do que Julius, e, ainda por cima, resolve fazer uma demonstração da sua profissão em plena sala de jantar.
Aí, caros colegas e leitores, somos agraciados com algumas das mais absurdas cenas de manipulação vertebral que possam existir — tudo no sacrossanto nome da comédia:
Todo Mundo Odeia o Cris durou até 2009. Foi uma daquelas séries que talvez tenha feito mais sucesso no Brasil do que nos Estados Unidos, tipo Família Dinossauros.
Aliás, o nome do patriarca, Dino da Silva Sauro, foi uma daquelas criações brasileiras, uma obra-prima da tradução que funciona melhor do que o nome original.
Mas mesmo com as patacoadas, este episódio do irmão Quiropraxista de Todo Mundo Odeia o Cris tem lá sua graça e vale a pena assistir. Nem que seja para ver um arremedo de Quiropraxia na televisão um pouquinho…