Norma Jeane nasceu em 1926 numa seca e empoeirada Los Angeles. Sua mãe, louca, passou boa parte da vida internada. Sua avó também não batia lá muito bem do juízo. Gaga, a pequena Norma foi criada por vizinhos, passou por orfanatos, sofreu o diabo.

Casou-se aos 16 anos mais por desespero do que por amor. Durante a Segunda Guerra Mundial, trabalhou numa fábrica enquanto o marido servia a marinha mercante. Usava um macacão colado na pele que chamava a atenção de todo mundo — inclusive de um fotógrafo. Começava aí sua claudicante carreira de modelo.

Norma penou muito no início. Passou por dificuldades. Humilhou-se. Até apelou a se deixar tirar fotos eróticas. Mas, aos trancos e barrancos, sua carreira de modelo transmutou-se num tímido começo como aspirante a atriz em Hollywood.  E acabou adotando o nome que a imortalizaria: Marilyn Monroe.

Notada mesmo ela só foi depois de 1949. Passou “por uma discreta operação de cirurgia estética”, onde o nariz foi afilado “e a forma do queixo reajustada”. Foi neste mesmo período que surgiu “a famosa pinta na parte inferior da bochecha esquerda” (Marilyn Monroe, de Anne Plantagenet: L&PM, 2011).

E daí em diante Marilyn estourou. Enlouquecia os homens ao rebolar de uma maneira insinuante e provocadora (pelo menos para os padrões da década de 50).

Alguns diziam que o tal rebolado produzia tal efeito graças a um dos saltos ter um centímetro a menos do que o outro. Outros afirmavam ser por um defeito congênito no quadril que provocava este efeito hipnótico — tal qual o joelho de Garrincha.

A cada filme que fazia, o número de cartas de fãs aumentava. Todo mundo queria saber quem era aquela loira. Evoluiu de papéis coadjuvantes nos filmes A Malvada (All About Eve, 1950) e O Inventor da Mocidade (Monkey Business, 1952) até arrasar como a femme fatale de Torrente de Paixão (Niagara, 1953). A partir deste, seu nome virou sinônimo de boa bilheteria. Fez comédias leves como Os Homens Preferem as Louras (Gentlemen Prefer Blondes, 1953) e o Pecado Mora ao Lado (The Seven Year Itch, 1955). Neste último, vestida de branco, ficou imortalizada quando um golpe de ar erguia seu vestido e mostrava sua calcinha (também branca — e enorme).

Na verdade, a tal “calcinha” estava mais para um pequeno short, um modelo criado especificamente para este filme e que não ferisse (muito) a moral e os bons costumes vigentes da época.

O sucesso, porém, foi demais para sua personalidade um tanto quanto fragilizada por traumas de infância e histórico familiar.

Errava muito suas falas. Era insegura. Era errática. Levava os diretores à loucura (e não naquele sentido). O clássico ator inglês Laurence Olivier, que a dirigiu em O Príncipe Encantado (The Prince and the Showgirl, 1957), irritadíssimo com seus atrasos e hesitações, passou-lhe uma descompostura na frente de todo mundo. “Tudo que você tem que fazer é ser sexy”, gritou. Marilyn ficou arrasada.

Esta cena está no ótimo filme A Minha Semana com Marilyn (My Week with Marilyn, 2011), onde a atuação da atriz Michelle Williams rendeu-lhe uma merecidíssima indicação ao Oscar ®.

Torturante mesmo foi filmar Quanto Mais Quente Melhor (Some Like it Hot, 1958). Billy Wilder, o diretor, passou muita raiva, “obrigado a esticar o tempo entre duas claquetes por causa das dores nas costas causadas pelo stress. (…) Saiu esgotado da filmagem (e) não perdoa Monroe por tê-lo feito adoecer”. O ator Tony Curtis disse que eram tantas as cenas a serem repetidas, que “na quadragésima vez, beijar (Marilyn) Monroe é como beijar Hitler”. Mesmo tendo ela endoidado todo mundo, o filme foi um estrondoso sucesso e hoje é considerado uma das dez melhores comédias de todos os tempos (se não a melhor).

Para este que vos escreve, é realmente a melhor comédia já feita. Imagina o enredo: dois músicos em Chicago se disfarçam de mulheres para fugir da máfia e se tornam parte de uma banda feminina que se apresentam num resort na Flórida. Um deles se apaixona pela cantora principal — que (ela mesmo admite) não é lá muito inteligente e que vive se apaixonando por saxofonistas pobretões e cafajestes (exatamente o que ele é — exceto que agora se passa por mulher que se passa por homem rico para seduzir a tal cantora, vivida por Marilyn). O outro é cortejado por um rico herdeiro e começa realmente a acreditar ser possível sustentar a farsa, mesmo depois do casamento! O filme é uma farsa cheio de nuances, duplos sentidos, mas sutil (considerando que engloba sexualidade, impotência, e até uma possível “saída do armário” na cena final).

No seu último filme (completo), Os Desajustados (The Misfits, 1961), a atriz “está esgotada, sujeita a dores múltiplas e a crises de náuseas”. O estresse foi tamanho que o ator Clark Gable morreu fulminado por um ataque cardíaco apenas seis dias depois da filmagem. Há quem diga que Marilyn apressou sua morte.

A loira platinada tinha uma vida pessoal atribulada. Foi casada (e ocasionalmente espancada) por nove meses com o icônico jogador de baseball Joe DiMaggio. O dramaturgo Arthur Miller, seu terceiro e último marido (quatro anos), não aguentou o rojão. Marylin supostamente teve casos com Marlon Brando, Frank Sinatra, o presidente John Kennedy (veja artigo 102) e até com seu irmão Robert.

Foi encontrada morta pela empregada no dia 5 de agosto de 1962, aparentemente por overdose de barbitúricos. Sua morte até hoje é um assunto meio nebuloso. Fala-se em assassinato e em conspiração para proteger o presidente. A máfia estaria envolvida.

De qualquer maneira, sua aura, e seu carisma e sua sexualidade perduram nos dias atuais —  mesmo que aquele seu movimento pélvico ao andar tivesse mesmo sido causado por alguma anomalia congênita no quadril ou por um simples salto mais baixo… Ainda assim, tal qual Garrincha, nunca vai existir outra Marilyn Monroe.

Em tempo: Blonde, um filme de 2022 da Netflix (baseado num livro considerado “o melhor trabalho sobre a vida da atriz”) dá um enfoque meio ficcional à sua atribulada vida pessoal e tem sido elogiado pela crítica.