A Nação do Medo (Fatherland) foi um filme feito para a televisão a cabo nos idos de 1994. Trata-se de uma realidade alternativa (ou multiverso?) sobre o que aconteceria tivesse a Alemanha vencido a Segunda Guerra Mundial. Nele, o oficial da SS Xavier March (o saudoso Rutger Hauer, de Blade RunnerO Caçador de Andróides), junto com uma jornalista americana, começam a investigar uma série de suicídios e acidentes que culminam numa conspiração para encobrir crimes de guerra que envolve o genocídio de um certo grupo étnico. Isto na década de 60, justamente quando a Alemanha de Hitler (agora com 75 anos) e os Estados Unidos, representados pelo Presidente Joe Kennedy, se preparam para assinar um pacto de cooperação contra os russos.

Robert Harris (o autor do livro que inspirou o filme) seguiu um raciocínio lógico quando imaginou os Estados Unidos presididos por Joe Kennedy, e não pelo seu filho, John Fitzgerald Kennedy (que, na vida real, foi o 35º presidente daquele país).

Bem, saindo da ficção e voltando a (esta) realidade, no começo da Segunda Guerra Mundial Kennedy pai era o Embaixador dos E.U.A. na Inglaterra. Nutria alguma simpatia pelos nazistas. Sonhava também com a presidência. Mas, depois de um discurso controverso, foi forçado a renunciar. Aparentemente, suas ambições políticas findavam-se aí. Mas, tal qual o brasileiro, um Kennedy não desiste nunca.

O projeto político da família se concentrou no filho mais velho, Joe Kennedy, Jr.. Só que este, aviador na guerra, teve seu avião abatido em 1944. As esperanças foram depositadas então no segundo filho, John.

JFK também serviu seu país na Segunda Guerra Mundial, na marinha americana. Foi condecorado por salvar algumas vidas depois que os japoneses destruíram seu barco e alavancou ali sua carreira política. Mas, suas dores de coluna pioraram muito depois deste acidente.

Naquela época era impensável mostrar qualquer tipo de fraqueza. Portanto, à base de anfetaminas e com o auxílio de um colete lombar, JFK foi galgando os degraus do projeto político da família Kennedy até sagrar-se presidente em 1960.

O livro Marilyn e JFK de François Forestier (Editora Objetiva) narra o suposto caso de 10 anos que John Kennedy teria tido com a atriz Marilyn Monroe — bem antes da presidência, aparentemente. De acordo com o autor, JFK era viciado em sexo e sofria com ejaculação precoce. Seus problemas de saúde são relatados minuciosamente:

“Corroído pela doença de Addison, uma insuficiência das glândulas cortico-supra-renais, dobrado pela dor nas costas, lutando contra os acessos das seguidas doenças venéreas, ele sabe, no verão de 1954, que uma operação na coluna vertebral poderia aliviá-lo. As possibilidades de sucesso não são grandes e os riscos são altos. A operação se chama ‘fusão lombar’ e consiste em se soldarem juntas várias vértebras, que perdem com isso toda a flexibilidade”.

O procedimento não era simples. Principalmente naquela época. “Precisa fazer um transplante ósseo e inserir uma placa metálica. Se uma infecção acontecer, a morte é quase certa”. Dito e feito, o então senador John Kennedy caiu mesmo no facão. E a cirurgia teve, de fato, complicações. O corte nas costas supurava e se mantinha aberto. Mas Kennedy não morreu. Não assim. “Em março (de 1955), consegue enfim dar alguns passos sem muletas”. Adicionou ao seu coquetel novocaína e cortisona. E tocou a vida à base de drogas e de colete lombar.

A controversa minissérie de oito partes The Kennedys (2011), retrata seus problemas de coluna de maneira magistral. A atuação visceral de Greg Kinnear (indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por Melhor È Impossível em 1997) faz com que a gente sinta quase na pele a dor do presidente, principalmente ao se sentar e ao se levantar. Sua linguagem corporal é simplesmente magnífica. O ator realmente fez seu dever de casa sobre como uma pessoa com dor crônica e intensa se moveria na vida real.

É muito provável que John Kennedy não tivesse vivido muito tempo, mesmo se não acontecesse o atentado de 1963 que ceifou sua vida. O homem estava caindo aos pedaços. E atuando espetacularmente para passar a imagem de firme e forte.

Dizem que o primeiro tiro que o atingiu na garganta em Dallas teria feito com que seu corpo se projetasse para frente — evitando talvez ser atingido pelo segundo tiro. Mas este movimento foi impedido pelo uso do colete lombar. Aí então o segundo tiro varou o crânio do 35º Presidente dos Estados Unidos.

Morria o homem e nascia o mito. Tal qual Marilyn.

Em tempo: Joe Kennedy morreu em 1969 — viveu o suficiente para sofrer a morte de ainda outro filho que almejava ver na presidência do Estados Unidos, Robert, pré-candidato em 1968.