O ombro é formado por três articulações sinoviais (a glenoumeral, a acrômioclavicular e a esternoclavicular) e por uma articulação fisiológica (a escapulotorácica). De todas estas articulações, a glenoumeral é de longe a mais móvel. Sua cápsula, uma espécie de “saco” que envolve o conjunto articular, é frouxa e fina. Por esta, e também pelo seu formato, a articulação glenoumeral é a menos estável do ombro. E por ter maior instabilidade, é propensa a ter mais problemas.

A articulação glenoumeral (como indica o nome) envolve a cabeça do úmero (o osso do braço) e a fossa glenóide da omoplata. Por algum motivo, a cápsula articular da glenóide, em um dado momento, perde a elasticidade e se torna espessa e friável. Instauram-se contraturas dos tecidos moles da região. Aí, a articulação “congela” e o ombro perde gradualmente seus movimentos ativos e passivos — em todas as direções (principalmente abdução). A dor resultante beira o insuportável. Este “ombro congelado” é conhecido nos anais da medicina pelo singelo nome de Capsulite Adesiva.

As causas são largamente desconhecidas. Mas suspeita-se que seja uma ocorrência secundária por alguma lesão, traumatismo ou cirurgia no ombro. Existem também vários fatores que elevam o risco de desenvolver tal afecção, como disfunções da tireóide, diabetes, doenças cardíacas e pulmonares, ansiedade e depressão. Outros problemas na região podem exercer uma influência indireta, como sinovite inflamatória do ombro, síndrome do impingemento subacromial, bursite pós-traumática, artrite acromioclavicular, tenossinovite, radiculopatias e degenerações da coluna cervical. Também fraturas e patologias do sistema nervoso central ou periférico. Mas a verdade é que ninguém sabe exatamente o que causa a Capsulite Adesiva do Ombro.

A dor é considerada intensa, mesmo em repouso. A ponto de atrapalhar o sono. Movimento piora, e muito. O ato de vestir uma camisa, pentear os cabelos e pegar um livro na estante ou uma panela no armário torna-se um suplício.

A afecção se manifesta geralmente em um dos ombros, mas não é incomum aparecer nos dois. Às vezes, simultaneamente. Acontece com mais frequencia nas pessoas do sexo feminino e entre 40 a 70 anos de idade. Atinge de 3 a 5% da população.

A Capsulite Adesiva evolui em três fases.

  • Na primeira, o principal sintoma é dor forte que piora ao mover-se.

  • Na segunda, ocorre diminuição progressiva dos movimentos. A rigidez torna-se mais incômoda do que a dor. Esta fase é conhecida como “fase de congelamento”.

  • Na terceira, o ombro, aos poucos, retorna ao normal. Curiosamente, esta “fase de descongelamento” pode ocorrer de maneira espontânea. Isto significa, que o ombro congelado, da mesma maneira que apareceu, pode também desaparecer.

Então, para quê se preocupar?

O problema é que este processo pode durar de seis meses a dois anos com muito sofrimento. E pode não ser completamente reversível (especialmente se houver atrofia do manguito rotador, em especial o músculo supraespinhoso).

É mais vantagem fazer um tratamento conservador para tentar se recuperar mais rapidamente. A fisioterapia clássica, com aplicações de gelo e calor e uso de ultrassom e laser para romper a fibrose, é fundamental para restaurar a função e o movimento perdido. A ideia é provocar o relaxamento da cápsula articular, dos músculos e dos tendões.  As pessoas levam geralmente de três a quatro meses para se recuperarem.

Quiropraxia, ou qualquer tipo de manipulação articular, tem efeito relativamente limitado. Mas este efeito pode ser maximizado se o tratamento for feito em parceria com fisioterapia. Tem que haver uma certa disciplina da parte do paciente, pois o sucesso do tratamento envolve muitos exercícios que podem perfeitamente ser feitos em casa. A alopatia, com injeções de cortisona ou de analgésicos, pode ser útil. Cirurgia também, mas somente em última instância.