O Brasil foi campeão da Copa do Mundo de 1994 ao derrotar a Itália nos pênaltis após um jejum de 24 anos. Foi a primeira vez que uma Copa do Mundo foi decidida nos pênaltis. A Itália foi campeã da Copa do Mundo de 2006 ao derrotar a França nos pênaltis após um jejum de 24 anos. Foi a segunda vez que uma Copa do Mundo foi decidida nos pênaltis. É uma coincidência e tanto, não? 

E quanto aos presidentes americanos Abraham Lincoln e John F. Kennedy? Seus sobrenomes têm sete letras cada. Um foi eleito presidente em 1860 e o outro em 1960. Eram ambos envolvidos na defesa dos direitos civis. A secretária de Lincoln chamava-se Kennedy; a de Kennedy chamava-se Lincoln. Suas esposas perderam filhos durante os anos vividos na Casa Branca. Os dois presidentes foram baleados numa sexta-feira, assassinados por sulistas, e sucedidos também por sulistas com o sobrenome Johnson (Andrew Johnson nasceu em 1808; Lyndon Johnson, em 1908). O assassino de Lincoln, John Wilkes Booth, nasceu em 1839; o de Kennedy, Lee Harvey Oswald, em 1939 (os dois eram conhecidos pelos seus três nomes num total de quinze letras cada). Booth saiu correndo de um teatro e foi apanhado num depósito; Oswald saiu correndo de um depósito e foi apanhado num teatro. Ambos foram assassinados antes do julgamento. Lincoln foi morto na sala Ford do Teatro Kennedy. Kennedy foi morto num carro Ford, modelo Lincoln. “Deus não joga dados com o universo”, já dizia Albert Einstein. Ou será tudo isso somente uma grande e cética coincidência? 

Aí vem então uma série de acontecimentos absurdos e aparentemente aleatórios que ocorre num determinado momento da vida da gente — e que dá uma chacoalhada neste ceticismo nosso de cada dia.

Num período de virada de ano, uns 18-20 anos atrás, este Quiropraxista que vos escreve engrossou o coro dos 80% da população com dores de coluna. Começou aos poucos e sem motivo aparente uma lombalgia, que agravou-se a tal ponto deste autor considerar uma ida para Salvador para tratar-se. No exato dia da viagem, bate à sua porta um (pasmem!) Quiropraxista australiano!!!

Naquela época no Brasil deveria existir pouco mais de 10 Quiropraxistas formados. Hoje temos mais de 1300. Mas notem que, com pouco mais de 10 naquela época, as chances de uma pessoa com este tipo de formação aparecer quando mais se precisa dela é muito, mas muito remota (pensando bem, remota até nos dias de hoje). Mas lá estava o anjo da guarda. O cara. O Quiropraxista.  

Uma série de incríveis coincidências levou Bob (nome fictício) a bater na nossa porta. Bob veio passar as férias na Bahia com dois amigos, e optaram por visitar um paraíso idílico até então pouco conhecido turisticamente: Barra Grande. Já na vila, Bob decidiu vestir uma velha camisa com as palavras CHIROPRACTIC que há tempos não usava. Uma paciente nossa (que arranhava no inglês) puxou conversa e comentou que se deu muito bem com o tratamento feito por um profissional de Ilhéus (adivinhem quem?).

Bob ficou surpreso. Nem sabia que existia Quiropraxia no Brasil. Após a temporada de Barra Grande, o plano era ele e os amigos esticarem as férias em Itacaré — que na época ainda estava se firmando como um grande polo turístico. Pegaram então um barco até Camamu e foram de ônibus até Itabuna (na época não havia estrada asfaltada entre Camamu e Ilhéus). O horário mais cedo para Itacaré saía justamente de Ilhéus, não de Itabuna. Com isso em mente, acharam melhor pegar o primeiro ônibus que saía de Itabuna em direção a Ilhéus e encontraram um que fazia a linha Itabuna-Olivença.

Um parêntese: Olivença é um distrito antigo de Ilhéus, bem turístico, com balneários tidos como medicinais, lindas praias e aconchegantes pousadas. Só que para chegar em Olivença, o ônibus teria que passar em Ilhéus. O plano era saltar no ponto em frente a rodoviária e pegar o tal ônibus para Itacaré.

As baladas em Barra Grande, muito intensas, cansaram nosso trio e eles ferraram no sono. Não saltaram na rodoviária. Ao acordarem, a caminho de Olivença, tinham acabado de passar por uma ponte que dava pra um bairro chamado Pontal. Ao descerem apressadamente do ônibus, se depararam com nossa placa (na época na avenida principal, na frente a uma pizzaria). Perguntaram a um sujeito que anunciava aluguel de casas para veraneio na esquina se ele conhecia o Quiropraxista da placa. O cara disse que sim, que era seu vizinho e indicou a casa.  

Considerem, caros leitores:

  • SE Bob não escolhesse Barra Grande para passar suas férias; 

  • SE não usasse aquela camisa velha com a palavra CHIROPRACTIC estampada nela; 

  • SE a nossa paciente não falasse inglês e não tivesse puxado conversa com ele; 

  • SE Bob e seus amigos não pegassem especificamente o ônibus Itabuna-Olivença; 

  • SE não tivessem agarrado no sono, perdendo assim de saltar no ponto da rodoviária; 

  • SE não tivessem saído do ônibus justamente diante de nossa placa; 

  • SE não tivessem perguntado ao homem que morava na nossa rua;

  • SE 

Providência divina? Ou uma afortunada série de eventos?

Seja o lá que for, Bob proporcionou grande alívio às dores lombares deste que vos escreve — que não precisou viajar (em plena virada do ano, ressalte-se) os 460 quilômetros que separam Ilhéus de Salvador numa tentativa desesperada de ser ajustado. 

“Deus está nas coincidências”, já dizia o grande dramaturgo Nelson Rodrigues. Ou terá tudo isso sido somente sorte mesmo?