Corria o longínquo ano de 2010 quando Geoff McLaren, um australiano na época com 62 anos, perdeu o polegar esquerdo enquanto trabalhava. Sem ele, o velho McLaren jamais seria o mesmo.
Este dígito tem, para nós, uma particularidade. É ele o que nos separa dos animais, incluindo os primatas. O complexo uso do polegar foi um diferencial humano para fabricar ferramentas e ajudar a desenvolver nossa espécie.
Parece até uma chamada das “Organizações Tabajara” do eterno Casseta & Planeta, mas os cirurgiões do Hospital de Sydney encontraram a perfeita solução: uma operação complexa de 11 horas para amputar, transferir e conectar na mão esquerda de Geoff McLaren o seu próprio DEDÃO DO PÉ! Dá até para ouvir o bordão “seus problemas acabaram!”. Não dá?
O Dr. Tim Heath, diretor do hospital e médico responsável pelo procedimento, afirmou que levaria pelo menos 12 meses para a mão do paciente funcionar normalmente. O dedão “deverá desinchar e parecer mais com um polegar”, completa. Este tipo de cirurgia tem sido feito no mundo inteiro desde 1975.
Entre recuperar parte dos movimentos da mão desta maneira, e ficar pisando em falso por toda a vida, preferimos, com certeza, a primeira opção. McLaren resolveu um problema maior, mas ficou com um menor: seu ciclo da marcha ficará para sempre descaracterizado. Trocando em miúdos: ele nunca mais caminhará da mesma maneira.
Caminhar é o que a gente mais faz. É simples, barato, e faz bem à saúde. Mas caminhar corretamente é uma arte — e também é um ato tão corriqueiro que a gente nem nota. Por isso, desenvolvemos certos hábitos que nos passam despercebidos. Pisadas incorretas podem gerar dores no tornozelo, joelho, quadril, e, principalmente, na coluna vertebral. Helder Montenegro, fisioterapeuta osteopata e fundador do Instituto de Tratamento da Coluna Vertebral, afirma que “a orientação de um especialista é fundamental para evitar possíveis problemas futuros como, por exemplo, uma hérnia de disco”.
E como se pisa corretamente? Antes, temos que entender como funciona a marcha – terminologia usada para descrever a locomoção humana. “É uma sequência repetitiva de movimentos dos membros inferiores que move o corpo para frente enquanto simultaneamente mantém a estabilidade no apoio. Na marcha um membro atua como um suporte móvel, em contato com o solo enquanto o membro contralateral avança no ar. O conjunto de movimentos corporais se repete de forma cíclica e os membros invertem seu papel a cada passo” (Perry, 1992). Em suma, marcha é a maneira como a gente caminha.
Esta fase de apoio, enquanto o pé toca no chão, engloba 60% da marcha.
Sacaram o que aconteceria com o senhor do 1° parágrafo? Por não conseguir impulsionar o dedão na fase final do apoio, este sujeito teria sua marcha irremediavelmente alterada. E isto, em tese, poderia dar vazão a um possível problema de coluna. Mas ainda assim Geoff McLaren ficou no lucro.
Caminhar é excelente para a coluna vertebral, mas quando feita corretamente. Não raramente, ocorrem alterações na pisada. Por exemplo, “a pronada é a utilização em excesso da lateral interna do pé e a supinada, a lateral externa”, explica Montenegro. “Ressaltamos a importância de uma boa orientação antes de praticar qualquer exercício”, conclui. O baropodômetro é um aparelho que analisa estas pisadas incorretas. Trata-se de uma plataforma “equipada com milhares de sensores que captam e interpretam os pontos de pressão dos pés”, atesta.
É necessário usar tênis apropriados, evitar exceder os limites de cada pessoa, e se preparar fisicamente para tal empreendimento. Sentir dores durante e após esta atividade é inaceitável. Um bom programa de alongamento e fortalecimento muscular feito com fisioterapia ou com Pilates, bem como manipulação vertebral com Quiropraxia, pode evitar muitas dores de cabeça. Ou melhor, de coluna!