Considerem, vamos assim dizer, um aposentado de uns 60 e poucos anos que trabalhou por mais de 35 dirigindo um caminhão. Já vinha, na época da estrada, sentindo algumas dores na região lombar que passavam com medicamento. Mas, em anos recentes, notava que suas pernas doíam quando andava muito. Hoje em dia já não consegue andar por mais de 10 minutos sem que tenha que sentar-se por causa das dores das pernas. Nota que sente alívio quando fica algum tempo sentado. Mas basta andar de novo por mais de 10 minutos que as dores voltam.

Se um clínico experiente realmente souber escutá-lo durante a anamnese (entrevista), terá uma forte suspeita de que nosso paciente esteja sofrendo de estenose lombar — mesmo antes de pedir os exames necessários.

A palavra “estenose” deriva do antigo grego στενός (stenós) que significa “estreito”. Trata-se de uma gradativa diminuição ou estreitamento do canal medular que causa compressão na raiz nervosa ou na própria medula. É como se houvesse uma espécie de torniquete apertando a coluna. Este termo foi mencionado pela primeira vez em estudos conduzidos por Sachs & Fraenkel em 1900, e por Bailey & Casamajor em 1911.

No entanto, depois de 1934, as atenções se voltaram para hérnia de disco, que acabou virando o grande vilão da coluna. Mas Verbiest realizou uma pesquisa mais extensa sobre estenose em 1954 e descobriu ser uma afecção mais comum do que se imaginava. As mulheres, por terem um canal medular naturalmente mais largo, seriam bem menos propensas a desenvolver estenose dos que os homens. E a imensa maioria tem mais do que 50 anos. Outro estudo de 1979 (Burton, Kirkaldy-Willis, et. al.) descobriu que “53% das cirurgias de coluna tinham correlacionamento com estenose lombar”.

Os sintomas mais freqüentes nesta região são claudicação intermitente dos membros inferiores (dores quando caminha; alívio quando senta), e problemas de cauda equina. Apesar de mais rara nas vértebras cervicais, os sintomas têm o potencial de ser bem mais graves. Podem ocorrer inicialmente falta de firmeza nas mãos e até dificuldade de caminhar. Por isso, estenose cervical pode ser confundida com esclerose múltipla, derrame, ou até esclerose lateral amiotrófica.

O canal medular é constituído anteriormente pelo disco, lateralmente pelas articulações zigapofiseais, e posteriormente pelo ligamento amarelo e lâmina. Se há protrusão discal ocupando espaço no canal; se há hipertrofia das articulações zigapofiseais; se há engrossamento do ligamento amarelo; se todas essas coisas, separadas ou juntas, contribuírem para o estreitamento do canal medular — então fica caracterizada a estenose do tipo central.

A estenose central tem como sintomas dores nas pernas ao caminhar (claudicação neurogênica intermitente). De fato, há mais queixas de dores nos membros inferiores do que na coluna. Os segmentos vertebrais mais envolvidos são L2/L3, L3/L4, e L4/L5.

Já a estenose do tipo lateral é caracterizada por diminuição do diâmetro do forame intervertebral. As dores pioram ao ficar em pé e caminhar, mas aliviam ao sentar.

Nos casos lombares, há relatos de dores mais localizadas nos membros inferiores (especificamente nas nádegas, na parte posterior da coxa, e na região trocantérica), bem como parestesia nos pés ou dedos dos pés. Os segmentos lombares mais envolvidos são L4/L5 e L5/S1.

No que diz respeito a origem, as estenoses podem ser divididas em: degenerativas, congênitas, ou iatrogênicas.

  • As estenoses degenerativas ou adquiridas podem ser causadas por artrose interfacetária, osteófitos do corpo vertebral, espondilolistese, engrossamento da lâmina, antiga síndrome do chicote, hérnia de disco, hipertrofia do ligamento amarelo e de outros tecidos moles resultante de instabilidade mecânica.

  • As estenoses congênitas são causadas pela direção das facetas, pedículos subdesenvolvidos, espondilolistese (de novo), ou tipo de formato do canal medular. São bastante comuns em anões acondroplásticos.

  • As estenoses iatrogênicas são aquelas causadas secundariamente por intervenções cirúrgicas na coluna. O corpo reage fibrosando ou hipertrofiando a área onde foi feita laminectomia ou fusão intervertebral.

A pessoa que sofre de estenose — seja ela central ou lateral — começa a sentir dores numa das pernas, e depois na outra. As dores são emanadas de múltiplas raízes nervosas. Aumenta mais durante a noite, e neste horário (pelo menos inicialmente) alivia ao caminhar. Pode haver sensação de formigamento e mudança de temperatura. Flexão lombar alivia as dores dos membros inferiores — especialmente se for do tipo central. Mas estenose pode ser exacerbada a longo prazo pela hipolordose resultante. Há perda de sensação distal dos membros inferiores ou superiores. O paciente pode até apresentar distúrbios no esfíncter com dificuldade de defecar, e diminuição de ereção. Por outro lado, há raramente perda da sensação da bexiga.

O teste ortopédicos de Valsava (dor lombar ou cervical quando a pessoa espirra ou tosse) é raramente positivo.

Na radiografia, espera-se encontrar diminuição de lordose, aumento de densidade interfacetária, e talvez algum grau de espondilolístese. Em casos de estenose lateral, há diminuição do espaço discal e do diâmetro da foramina intervertebral.

  • Para confirmar se há de fato estenose lombar (com 90% de certeza), deve-se primeiro medir o comprimento do corpo vertebral. Em seguida, estabelecer a distância entre a parte superior do corpo até a junção lâmina-pedículo. Se o profissional dividir as medidas do primeiro pelas do segundo, normalmente chegará a um valor maior do que 0.8. Se o número for menor do que isto, se configura estenose.

  • Outra maneira é estabelecer a razão de 1 : 4.5 do canal medular para o corpo vertebral. Qualquer razão menor também caracteriza estenose.

  • Uma outra maneira, bem mais simplificada, é usar o Método Eisenstein, que consiste em medir o diâmetro anterior-posterior do do canal central por meio do comprimento dos pedículos na radiografia de perfil. O paciente que apresenta qualquer medida abaixo de 12 mm. é um forte candidato a estenose.

Hoje em dia, esta afecção é mais facilmente diagnosticada por tomografia computadorizada, e principalmente por ressonância magnética, onde a hipertrofia do ligamento amarelo é perfeitamente visualizada. Mas as boas e velhas medidas radiográficas mantêm sua eficácia.

Um bom clínico deve saber diferenciar estenose de neuropatia diabética, doença de Paget, espondiloartropatia inflamatória, esclerose múltipla, neoplasma intra-espinhal, protrusão discal, e claudicação vascular. Neste último, os sofredores de claudicação neurogênica suportam pedalar em bicicleta ergométrica; os de claudicação vascular, não.

Descobriu-se recentemente que a vitamina E pode ajudar bastante nos caso de estenose por diminuir inflamações na pia máter e membrana aracnoide, aumentar o suprimento sanguíneo, e diminuir adesões e síntese de colágeno na área afetada. Todos este fatores podem secundariamente iniciar um processo que culmina com a estenose.

Tratamento da estenose lombar ou cervical com Quiropraxia tende a apresentar bons resultados, mas resolução completa é extremamente rara. Recentemente surgiram algumas propostas de tratamento inovadoras, como o trabalho que o Dr. Carlo Ammendolia vem realizando em Toronto, Canadá.

Mas não existe uma cura definitiva para tal afecção. Portanto, é bem mais proativo e realista ter como objetivos restaurar movimento articular, melhorar a biomecânica da coluna para o mais próximo do ideal possível, e assim devolver a sua capacidade adaptativa. E, claro, promover algumas mudanças de hábitos.

Com paciência e persistência é possível tratar estenose.