NOTA: Este artigo foi originalmente escrito há mais de uma década. Pouca coisa foi mudada da escrita original — que se mantém tristemente atual nesses tempos em que até um certo ex-presidente americano foi condenado criminalmente…
Sábado, dia 18 de fevereiro de 2012, era para ser um dia inesquecível na vida de Grazielly. A menininha de três anos de idade viu o mar pela primeira vez. Adorou a praia, brincou na areia, fartou-se. Mas, à tarde, pediu para voltar mais uma vez. Um jet ski desgovernado atingiu-a em cheio. A família do piloto, um rapazinho de 13 anos, limitou-se a fugir de lá o mais rápido possível. Como baratas fogem ao ligarmos a luz. Não deram (nem sequer ofereceram) socorro à Grazielly, que agonizou por 40 minutos e morreu lá mesmo, nas areias de Bertioga, antes da ambulância chegar.
Analisemos, pois, a ética da situação. Se família dona do jet ski tivesse colocado a pequena Grazielly no carro e partido para um hospital imediatamente, talvez, quem sabe, a pobrezinha teria sobrevivido. Esta teria sido a atitude mais correta e cristã. Mas não. Por outro lado, no calor do momento, poderiam até ter linchado o menino. A mãe dele, então, fugiu para salvar o filho. É deplorável, mas o risco era real. Há precedentes.
É por essas e por outras que o senso ético no Brasil pode ser dobrado que nem galho verde. E já não é de hoje. Enquanto os puritanos colonizavam os Estados Unidos para trabalharem sossegados e fugirem da perseguição religiosa, Pero Vaz de Caminha pedia no final de sua famosa carta para o Rei Dom Manuel interceder para ajudar um parente seu. O Brasil já tinha tráfico de influência e nepotismo mesmo antes de nascer.
Testemunhamos estas afrontas no nosso dia-a-dia:
Sim, caros leitores, médicos, fisioterapeutas e Quiropraxistas não estão imunes à podridão moral que assola o país. Os antiéticos fazem muito barulho. A maioria de nós, honesta, justa e correta — mas porém silenciosa — era o que amedrontava o pastor Martin Luther King.
E nestes tempos online, questões éticas que não procediam no passado têm vindo à tona. Para corrigir estas distorções (pelo menos no campo publicitário médico), já se vão vários anos que o Conselho Federal de Medicina emitiu a Resolução 1.974/11, “que traz em detalhes os parâmetros éticos que médicos, estabelecimentos e instituições vinculadas às atividades médicas devem observar quando da elaboração de peças publicitárias relacionadas a seus serviços”, em vigor desde 15 de fevereiro de 2011 — 180 dias após ter sido publicada no Diário Oficial da União.
O documento, elaborado pela Comissão Nacional de Divulgação de Assuntos Médicos (Codame) e aprovado pelo CFM, “traz critérios específicos para anúncios publicitários e de propaganda para material impresso institucional (guias, formulários, receituários, etc) e para a TV, rádio e internet. (…) Outros aspectos abordados são a relação dos médicos com a imprensa (programas de TV e rádio, jornais, revistas), o uso das redes sociais e a participação em eventos”:
Vocês vejam que a medicina vem tentando regular esta prática já não é de hoje. Imaginem nós, Quiropraxistas, que ainda carecemos de regulação específica. Ficamos de mãos atadas e só podemos assistir contrariados a este festival de erros que insiste em tomar conta das redes sociais.
Pelo menos esta iniciativa dos médicos é um bom caminho ético andado. E trilhado. Falta agora incutir um pouco mais de cidadania e noção no resto do país — quiçá o mundo!