Há muitos benefícios positivos no canabidiol (CBD). A substância é supostamente eficaz em casos iniciais de Alzheimer. Alivia dores crônicas, “corta a sensação de náusea e atua como anti-inflamatório”. Pode ser usada como um sedativo.

O CBD é encontrado em quantidade numa planta bastante conhecida, chegando a “representar mais de 40% de seus extratos”: a Cannabis sativa ou maconha mesmo.

A maconha alivia dores e náuseas de pacientes com câncer. Seu uso medicinal foi liberado em vários lugares no mundo. Houve, porém, certa banalização na prescrição dos famigerados cigarrinhos. “Por toda minha vida, sofri com náuseas matinal e dores nas costas. Só quando meu médico receitou maconha meus problemas acabaram”, relata a sempre assídua recepcionista americana Calleigh Baker, 21 anos (VEJA, 13/11/2013).

Pois é. A maconha sempre esteve envolvida numa densa fumaça de controvérsia. É de longe a substância ilícita mais popular do mundo. Estima-se que aproximadamente 200 milhões de pessoas no mundo todo dê um bequezinho regular. O estigma do uso da droga, de ser taxado de maconheiro, não é mais o que era. Escancarou-se de tal maneira que hoje não é lá muito incomum alguém dar uma puxadinha na frente da gente.

Sinal dos tempos? Talvez.

A experiência na época foi tida como um salto num abismo escuro. Os resultados tidos como imprevisíveis. Mas serviram“como os primeiros laboratórios sobre os resultados práticos de tratar a maconha da mesma forma que as bebidas alcóolicas”. O uso, medicinal ou não, foi completamente liberado. A partir de 2014, quem tinha mais de 21 anos de idade poderia “comprar cigarros, refrigerantes, concentrados, chás, barrinhas, biscoitos, bombons, limonadas e balas — tudo feito com maconha”. De acordo com o instituto Gallup, a medida contou com 58% de aprovação dos americanos. Mas dois terços dos uruguaios eram contra. O tempo se encarregaria de dizer se a legalização representaria a solução definitiva da luta contra o narcotráfico.

E os resultados disso tudo hoje em dia? No Uruguai, “dados de 2021 mostram que 27% dos consumidores da droga compram maconha de forma legal, segundo estudo publicado pelo IRCCA (Instituto de Regulação e Controle de Cannabis). (…) A descriminalização da maconha ajudou a tirar os narcotraficantes do mercado, mas a oferta legal da droga ainda é insuficiente e de baixa potência, o que leva a maioria dos consumidores a recorrer ao mercado ilegal. (…) Ou seja, do total de usuários, mais de 70% compram no mercado ilegal.”

Já nos Estados Unidos, pesquisas e estudos ainda não conseguiram encontrar uma correlação direta entre o uso liberado da maconha e aumento do crime. Ao que parece, os estados que legalizaram a cannabis não tiveram aumento expressivo de atividades criminosas.

Em Washington, parte da arrecadação com a venda da droga foi “destinada à saúde pública e a programas de prevenção. No Colorado, (…) os primeiros 27,5 milhões de dólares (…) (seriam) destinados à construção de escolas”. 2,34 bilhões de dólares já em 2014 é o que os dois estados esperavam faturar. Mas, detratores apontam que o custo social da empreitada pode ser alto demais. “Nos Estados Unidos, o custo social (do álcool), entre gastos hospitalares e acidentes, é dez vezes superior à receita com sua tributação”. E fumar maconha dobra o risco de acidentes no trânsito. “Os bafômetros para detectar os níveis de THC no organismo ainda estão sendo desenvolvidos”, alerta Daniel Rees, economista da Universidade do Colorado-Denver.

Isso porque o canabiol não é o único princípio ativo da maconha. Tem também o tetra-hidrocanabinol (THC). É esse aí que faz o usuário ficar doidão. “A estrutura química das duas substâncias é muito parecida, mas os efeitos são absolutamente opostos”, ressalva o doutor José Alexandre Crippa, do Departamento de Neurologia, Psiquiatria e Psicologia Médica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP) — (Fonte: A TARDE online, 17/07/2006).

E não se iludam: a maconha REDUZ a capacidade de concentração em 40% dos usuários; a memória de curto prazo em 60% dos usuários; a inteligência em 8 pontos de QI. “O uso frequente da droga aumenta o risco de uma pessoa sofrer de esquizofrenia (3,5 vezes), depressão (2 vezes), ansiedade” (5 vezes), e fobia social (4,2 vezes).

Como se trata de um cigarro, há “indícios de que esteja relacionado a diversos tipos de câncer”. Pode elevar em 2,5 vezes o risco de câncer de boca ou de garganta; em 8 vezes a probabilidade de câncer de pulmão; em 5 vezes o risco de um ataque cardíaco na primeira hora após o uso; em 2 vezes a probabilidade de câncer no testículo, em 4 vezes a incidência de câncer de cérebro em crianças cuja mãe fumou durante a gravidez (Fontes: Drug Enforcement Administration; livro Dependência Química da Editora Artmed; Office of Environment Health Hazard Assessment of California).

Ainda assim, é inegável os efeitos do cannabis no controle da dor e de convulsões causadas por determinadas condições. E a necessidade de acesso desta determinada população suplanta, e muito, os temores de que a legalização levaria 38 estados americanos e o Uruguai a um caos esfumaçado.