Esta pergunta é fácil de responder: o clínico quer solucionar o que aflige o paciente. Para isto, observa-o a partir do momento em que entra na sala. Avalia a sua aparência, a sua linguagem corporal, e até o seu jeito de andar. Não deixa escapar nada.

Formar um diagnóstico adequado requer fazer sentido de toda a informação passada ao profissional, tanto pela entrevista quanto pelo exame físico — e a observação é importantíssima neste processo. Já os exames complementares deveriam em tese servir somente para confirmar a hipótese diagnóstica. São importantes, mas o clínico experiente já suspeita (ou deveria suspeitar) do resultado antes mesmo de requisitá-los.

Como este artigo trata das afecções de origem neuromusculoesqueléticas, mais especificamente dos problemas da coluna vertebral, temos que considerar vários fatores:

  • No que diz respeito a IDADE, cada faixa etária vem com seu problema de coluna. Inflamação no disco (discite) em crianças pode ter origem bacteriana. Espondilólise e tumores intramedulares causam dores em adolescentes. Ambos raramente sentem dores de origem radicular. Quando presente, seriam por causa de alguma anomalia vertebral? A partir dos 30 anos, a incidência de protrusões discais aumentam concomitantemente com síndrome das facetas. Dores lombares tendem a ser mais prevalentes nos casos de hipolordose. Mas em mulheres pós-parto, há um maior relacionamento com hiperlordose e com disfunções sacro-ilíacas. Nesta idade, há também maior incidência de Síndrome de Reiter, espondilite anquilosante, e artrite enteropática. Após os 50 anos, o processo degenerativo normal da coluna começa a se manifestar. Não é incomum ter dores por osteoartrose, estenose lombar ou cervical, gota, e hiperostose. Dos 60 em diante, é mais corriqueiro sofrer dores por estenose lombar, ou fratura causada por osteoporose. Há também dores cuja origem pode ser traçada por hipertrofia da próstata, Parkinson, ou até aneurisma da aorta abdominal — todas estas possibilidades devem ser consideradas primeiro antes de serem descartadas por completo. Todo cuidado é pouco. Requer muita atenção da parte do clínico.

  • A maioria das dores de coluna afetam ambos os SEXOS igualmente. Mas nos homens, há maior incidência de doença de Reiter, infecção medular, tumores, e (obviamente) hipertrofia da próstata. E nas mulheres, temos que considerar dores pós-parto, polimialgia reumática, e mudanças hormonais que venham a causar osteoporose, alterações do hormônio paratireóideo (PTH), e problemas menstruais — sem falar na escoliose e fibromialgia, que tendem a ser mais prevalentes em meninas e mulheres, respectivamente.

  • O paciente é estimulado a descrever em detalhes as ATIVIDADES DO DIA-A-DIA. Varrer casa, aparar grama, cuidar do jardim, lavar pratos, assistir televisão no sofá, dirigir, por o bebê no berço ou amamentar sem o devido suporte predispõe qualquer ser humano a ter dores de coluna. E, nos tempos atuais, avaliar conceitos ergonômicos do trabalho remoto.

  • PROFISSÕES que requeiram carregar peso repetidamente aumentam as chances de ter dor, principalmente naqueles que têm a musculatura paravertebral enfraquecida — acontece muito frequente em bancários, ou motoristas de caminhão. Usar bancos baixos ou sentar por muito tempo aumenta a pressão intradiscal. É necessário ajustar a dinâmica do trabalho à coluna.

  • Uma investigação de HÁBITOS PESSOAIS às vezes é a chave para elucidarmos a causa de uma dor recorrente. O consumo de cigarros e álcool aumenta possibilidade de osteoporose. Prisão de ventre aumenta desconforto lombar.

  • OUTROS SINTOMAS que o paciente pode apresentar. Todos são averiguados. Dores lombares agudas com paraplegia repentina pode ser indicativo de alguma compressão medular? Dor tipo cólica é comumente de origem visceral. Incontinência urinária pode ser sinal de cauda equina. Se a dor vier acompanhada de febre, temos que considerar a possibilidade de meningite, ou até de tuberculose.

Todas estas possibilidades passam pela cabeça do clínico, que constrói uma extensa lista de hipóteses diagnósticas a serem afuniladas na anamnese (entrevista) e mais ainda durante o exame físico, antes de descobrir finalmente o que é que aflige o paciente — que é, afinal de contas, o que todo clínico quer.